sexta-feira, 25 de julho de 2008

Religião e Sistema de Crenças

Texto de Dudu Lopes.

NO TEXTO ANTERIOR procurei introduzir o conceito do que é a única religião verdadeira. E aqui vou tentar explicar que o que comumente chamamos de religião é na verdade somente um sistema de crenças e metodologias.

O ser humano tem a capacidade de, através da fantasia, se relacionar com o artista de sua preferência ou com a Divindade de sua preferência.

Sonhar acordado com George Clooney ou Jesus Cristo é o mesmo processo. E é por isso que os ateus, muito acertadamente, dizem que Deus é somente um amiguinho imaginário de nós crentes.

Quando me refiro a um colega de trabalho eu não digo que acredito que ele exista, eu o conheço e pronto. Posso até conhecer superficialmente, mas crença ou descrença em sua existência é algo que nem tem lugar numa mente sadia.

Religião é Buscar a Realidade

É esse estágio de relação com a Divindade que precisamos alcançar, se a relação com Deus tem alguma importância em nossa vida. De forma absolutamente literal, eu devo estar com Deus com tanta realidade quanto estou com o meu colega de trabalho. Sem precisar utilizar a minha mente para criar uma "realidade" pela fantasia.

George Clooney pode ser o seu ídolo do cinema, Jesus Cristo pode ser o seu ídolo entre as figuras religiosas e a Bíblia pode ser o seu ídolo entre os livros religiosos. Você pode acreditar que George Clooney é o melhor, que Jesus Cristo é o melhor, que a Bíblia é o melhor livro. E eu posso acreditar que Sean Connery é o melhor, que Maomé é o melhor, que o Alcorão é o melhor livro.

Por outro lado você sabe que seu colega de trabalho existe, e eu sei que o meu existe. Trabalhos diferentes, necessidades diferentes, colegas diferentes... não é uma questão de melhor para todos, mas para mim.

Nos estágios iniciais, que nós seres humanos comuns nos encontramos, os ídolos fornecidos pelos vários sistemas de crenças existentes no mundo (Cristianismo, Budismo, Judaísmo, Islamismo, o esoterismo, as ciências estabelecidas, e tantos outros) formam ícones que nos permitem ter uma referência sobre a Divindade para conhecê-la. Quando o sistema de crença foi criado com o fim específico de apontar o caminho até a Divindade e é recheado de ícones religiosos, a gente costuma chamá-lo de "religião", fora isso chamamos de "ciência". Mas o princípio é o mesmo, unir crença e metodologia para um fim específico. Até na ciência, é necessário que você acredite em certas leis e utilizar metodologias baseadas nelas para atingir fins específicos.

Assim como a Física não é melhor do que a Química ou qualquer outra ciência, o Cristianismo não é melhor do que o Islamismo ou qualquer outra religião.

A idolatria é quando tomamos os ídolos, os ícones, as metodologias que variam de fim para fim, tudo isso que varia de sistema de crença para sistema de crença, e também o próprio sistema de crença, como o fim em si mesmo, como Deus, e assim como o único sistema de crença verdadeiro.

A metodologia cristã pode não ser compatível com a metodologia budista mas não significa que uma é melhor do que a outra.

A metodologia da medicina dos laboratórios pode ser diferente da metodologia da medicina alternativa, mas isso não significa que a medicina alternativa seja uma fraude. A medicina dos laboratórios tem a crença de que tudo pode ser reproduzido em laboratório, a medicina alternativa acredita que cada ser humano é um laboratório único. Cada um dos sistemas desenvolveu uma metodologia de acordo com suas crenças e alcançam bons ou maus resultados de acordo com suas crenças e metodologias.

Idolatrar um bezerro de ouro não é diferente de idolatrar a Bíblia ou o louvor a Jesus Cristo, idolatrar a metodologia dos laboratórios não é diferente de idolatrar as curas naturais, porque idolatria é dar mais valor ao meio do que ao fim. A saúde é mais importante do que a indústria farmacêutica ou as curas naturais, e Deus é mais importante do que livros e louvores.

Sistema de Crenças é Buscar a Realidade pela Fantasia

Jesus Cristo, na Bíblia, ensina uma metodologia perfeita para se evitar a idolatria: amar a Deus sobre todas as coisas e ao homem como a si mesmo.

"Sobre todas as coisas" significa sobre todas as coisas e não só sobre algumas coisas. Quando a Bíblia ou o Bhagavad Gita começam a ser valorizados mais do que Deus mesmo, ou quando o poder do nome de Jesus ou do mantra de Krishna começa a ser mais importante do que Jesus ou Krishna, isso tudo deixa de ser religião e passa para o reino da idolatria.

O culto com esculturas e pinturas não é mais ou menos idolatria do que o culto apenas com imagens mentais. Imagens são imagens, e são muito úteis sejam como imagens mentais, como esculturas ou como pinturas. Nenhum dos três tipos pode ser considerado mais verdadeiro do que o outro, e somente uma pessoa muito ignorante tomaria o símbolo matemático do infinito como uma criação do demônio, o mesmo pode ser dito em relação à imagem de Jesus crucificado que, por si, mais do que mil palavras expressa de forma muito mais fácil todo o sentimento da crucifixão do que qualquer imagem escrita encontrada nos evangelhos. A imagem numa escultura ou numa pintura complementa a imagem escrita, mas tudo isso é somente imagem.

O culto com esculturas ou pinturas ou o culto com imagens mentais (e dessas não se pode fugir) faz parte da metodologia de vários sistemas de crenças, algumas dão mais ênfase às imagens mentais do que outros, mas símbolos são importantes em qualquer metodologia, científica ou religiosa.

Não importa que sistema de crenças esteja utilizando para viver a sua vida, se religiosa ou científica, se cristã ou esotérica, se budista ou hindu, o importante é que tenha sempre em mente que, no contexto desse texto, o fim é mais importante do que os meios.

Um sistema de crenças é importante para se atingir qualquer objetivo, na prática da verdadeira religião se torna mais importante ainda.

Através do sistema de crenças conseguimos entender teoricamente fatos sobre a Divindade que de outra forma não entenderíamos. No mínimo, através dos ícones dos sistemas de crenças, passamos a conceber a possibilidade da existência de algo onipotente e onipresente.

Numa rápida olhada no símbolo do infinito o cientista pode apreender o conceito de infinito que é uma realidade absurda para a mente humana; numa rápida olhada no tridente de Shiva o crente pode apreender o poder de Shiva sobre os três planos da existência (Plano Físico, Plano Astral e Plano Causal).

Resumindo

Em resumo, religião é tudo aquilo que nos leva a ver Deus diretamente, sem fantasias, enquanto os sistemas de crenças nos fornecem meios de estudarmos a questão e nos desenvolvermos nela.

Algumas pessoas adotam mais de um sistema de crenças, unindo Espiritismo e ciência, ou esoterismo e Budismo, ou Cristianismo e ocultismo, e essas misturas não tem em si nada de negativo até o ponto em que um sistema não interfira no outro.

Ao optar por um sistema de crenças ou um conjunto deles é importante ter em mente o que é realmente religião, o fim que se deseja, e ter muita paciência e senso crítico. Pois em volta de cada sistema de crenças nasce o musgo humano que insiste em sanar as suas carências prosaicas (financeiras, românticas, sociais,...) parasitando o objetivo da religião. Vamos deixar o ocultismo solucionar os problemas ocultos; a economia, os problemas econômicos; a medicina alternativa e aquela dos laboratórios, os problemas médicos; e manter a religião somente no âmbito de solucionar o problema de vir a se relacionar com Deus, não como o amiguinho imaginário, mas como uma realidade palpável.





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