quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Liberação do Ser

Texto de SWAMI TILAK.

A CULTURA DE UM PAÍS é mais importante que nenhuma outra coisa no mundo.

Em Sânscrito, o idioma sagrado da índia, Cultura se chama "SANSKRITI”, está relacionada com Samskara, que em realidade é a impressão que se cria.

Toda pessoa durante sua vida recebe impressões criativas. Nasce como um animal, mas depois obtém impressões profundas que mudam sua vida.

Em verdade, o ser humano está entre a animalidade, por um lado e a divindade por outro. O ser humano, em sua vida, tem a grande oportunidade de escolher entre a animalidade e a divindade.

A Criação da Personalidade

Quando recebe novas impressões uma pessoa muda sua vida. Nesse momento, em verdade, a personalidade é criada.

É a criação do homem.

Em Sânscrito, as pessoas cultas chamam-se DVIJAS. A palavra DVIJA significa que uma pessoa nasce duas vezes. Esta palavra também se usa para os pássaros, já que estes nascem duas vezes: uma vez, no útero de sua mãe, na forma de ovo e depois, ao sair da casca.

O Ovo da Ignorância

Igualmente, uma pessoa nasce fisicamente do útero de sua mãe, com a casca da ignorância ao redor dela. O homem tem que sair desta cas­ca, o que não é fácil, pois nem todas as pessoas estão pre­paradas para receber a Sabedoria.

Sem dúvida, quem quer ter a Sabedoria em sua vida, deve desapegar-se de todas as coisas que causam escravidão. Infelizmente as pessoas não querem ter a Liberdade, a Liberação!

A Liberação não é dada por uma ou outra pessoa e nem está em um lugar ou outro. A Liberação é propriedade do Ser mesmo, e a pessoa mesma tem que realizar esta Liberação.

Lembro-me de um incidente.

Havia uma mulher muito bela que queria casar-se com um jovem, mas tinha muito orgulho; não queria se casar com alguém menos poderoso que ela. Pois ela tinha o poder de ver todas as coisas no mundo.

Ninguém podia ocultar-se dela em parte alguma.

Então, estabeleceu que ela se casaria com o jovem que pu­desse ocultar-se dela. Assim, todos os jovens tiveram proble­mas e trataram de se esconder no céu, na terra, no oceano, mas ela os podia ver.

Finalmente, um jovem que havia aceitado o desafio, escondeu-se debaixo da cama dela. Procurou-o por todas as partes, mas não imaginou que o jovem pudesse estar debaixo da sua cama. Desta maneira ele pôde vencê-la.

A Verdade Debaixo da Cama

Amigos meus, a Verdade, a Perfeição, a Liberação estão presentes debaixo de nosso leito.

Nós tratamos de buscar a liberação em todo o mundo. Buscamos a Verdade no Tem­plo, na Igreja, nos livros, em partes diferentes, tanto nos céus, como nos infernos, então ficamos sem muito tempo para buscar a Liberação em nós mesmos.

Eis então que a Espiritualidade se nos apresenta para convencer-nos e dizer que a Liberação está presente em você.

A Verdade é de sua propriedade porque o que é imperfeito, não pode fazer-­se perfeito nunca, e o que é perfeito não pode tornar-se imperfeito.

Nenhuma matemática há que possa converter o infinito em finito, e nem finito em infinito. O infinito sem­pre é infinito; e o finito é finito sempre.

Por isso o Senhor Krishna diz no Bhagavad Gita:

O que não existe, não poderá existir nunca e o que existe não pode deixar de existir; não pode destruir-se.

Agora têm que decidir: exis­timos ou não existimos?

Ora, se existimos agora, aqui, existimos sempre. Nenhuma coisa há que possa mudar a natureza da existência.

As Coisas Mudam

Neste momento também temos que definir a existência. Talvez confundamos existência com percepção.

A percepção é somente momentânea, porque todas as percepções estão relacionadas com a mutabilidade, já que todas as formas mudam. Não podemos ver qualquer coisa que tenha forma e não mude. Todas as coisas mudam, mas detrás de todas as coisas há algo que não muda.

Por exemplo, quando vamos ao cinema, no filme vemos um ator que aparece numa forma peculiar e o vemos nessa forma, representando um papel. Vemos ao outro nessa forma, mas não o vemos em sua forma real.

No dia seguinte, voltamos ao cinema para ver o mesmo ator mas em outro papel. Podemos ir ao cinema a vida inteira mas não poderemos ver o ator em sua forma verda­deira, no cinema. Daí tirarmos a conclusão que o ator se apresenta sempre, mas nunca em sua forma real.

Igualmente todo o Universo é uma sala de espetáculo.

O grande ator do Universo é o Ser Universal, o Ser Eterno, Deus, Brahman. Muitos nomes podemos dar-Lhe, mas eu não tenho interesse no nome. O nome também é transitó­rio, embora os nomes tenham seu significado.

Por exemplo, Brahman; que é Brahman? Em realidade não é o que pode­mos conhecer pelo nome. O Brahman é o que pode existir em todas as formas, sem afetar-se por nenhuma forma. Isso é Brahman. Que é o Atman? O Atman é a Verdade que está presente em todo o Universo.

Deus Cria, Mantém e Destrói

A palavra GOD em inglês, também tem sua explicação especial. GOD tem três letras G, O e D. G significa Gerador, O significa Ordenador e D significa Destruidor.

Então Deus é quem cria, o que conserva e o que destrói, simultanea­mente.

A ideia muito peculiar que nós temos é que num determinado momento uma coisa se cria, em outro momen­to conserva-se e em outro momento se destrói mas não é certo.

Simultaneamente os três processos estão presentes em qualquer fenômeno. Simultaneamente! Nenhuma construção há sem destruição.

Simplesmente nossa inteligência limitada trata de enganar-nos.

Por exemplo, quando se cons­trói um edifício, dizemos:

- Ó, mais se constrói um edifício.

Muito bem! Mas nenhum edifício pode construir-se sem a destruição de rochas. Que são em verdade as pedras que se usam na construção de um edifício? As pedras são a des­truição da rocha.

Uma pessoa diz:

- Agora sou muito jovem.

Muito bem! Mas nenhuma juventude é possível sem a des­truição da infância. Assim acontecem simultaneamente a construção e a destruição contínuas e, entre a construção e a destruição permanece a corrente interminável da Exis­tência.

Existência Contínua

Esta corrente da Existência evidentemente contínua chama-se continuidade. Nenhuma continuidade é possível sem a corrente da existência interminável.

A existência não é afetada pela criação ou pela destruição. A construção e a destruição, simplesmente são dois termos visíveis da verda­de invisível. Quem possa compreender esta verdade, nenhum tipo de escravidão tem.

A Escravidão dos Milagres

Tem-se fé nos milagres, mas eu sempre digo: amigos meus, o milagre é outro tipo de escravidão. Um dia disseram-me:

- Os Swamis meramente falam sobre filosofia, mas não realizam milagre algum.

Em meu coração eu disse:

- Que tipo de compreensão é essa? O milagre é simplesmente uma mudança, nada mais.

Supondo que haja aqui um copo e que eu tenha grande poder em mudar esse copo em ouro, as pessoas logo creriam e diriam:

- Swami tem um grande poder!

Mas nesse momento não pensariam que o ouro e o vidro, ambos são destrutíveis. Quem tem paixão pelo ouro, ou pelo vidro, ambos são escravos. A escravidão do ouro e a escravidão do vidro, ambos são iguais. Uma pessoa que está numa prisão de ouro, também é um prisioneiro.

Liberdade

A Espiritualidade diz que temos que eliminar todos os tipos de escravidão.

Quem não pode ter essa forma, essa força, esse valor, não poderá empreender esse caminho, o da Espiritualidade.

O caminho da espiritualidade não é sim­plesmente outro tipo de dependência. As pessoas sempre buscam um tipo ou outro de dependência. Sempre a de­pendência!

De Swami Tilak, também é uma dependência? Também é uma dependência!

Em verdade, os Profetas, os Filhos de Deus, os Avatares, todos vêm para dar a mensa­gem da Liberdade e Eles dizem:

"A Liberdade está em nós".

Quando Cristo diz:

"Eu estou em meu Pai e Meu Pai está em mim.
Eu estou em vós e vós, em mim"

Significa que Cristo não quer fazer-nos seus escravos. Quem não tem liberdade em sua vida, trata de fazer os outros seus escravos! Isso não é Espiritualidade!

A Religião Escraviza?

Eu sei que agora há muita confusão. Os jovens dizem:

- Nós não acreditamos em Religião, em Espiritualidade.

Eu pergunto aos estudantes:

- Por que não?

- Swami, a religião nos faz escravos.

- Não, amigos meus, não é certo. A Religião, a Espiritualidade, o Yoga, não fazem nin­guém escravo.

Na Austrália demos uma palestra e depois da palestra um jovem disse:

- Swami, sua palestra é muito boa, mas há um defeito nela.

Eu disse:

- Amigo meu, você deve dizê-lo.

- O senhor, Swami, fala sobre Deus.

Então per­guntei:

- Que falta há em Deus?

- Swami, Deus nos ex­plora.

- Amigo meu, Deus não explora, as pessoas explo­ram em nome de Deus; são pessoas as que exploram.. Então por culpa dos outros, você não deve condenar Deus. Deus não faz nada, então Deus não é culpável.

A Unidade

As pessoas culpáveis podem fazer as coisas más em nome de Deus, e também podem fazer as coisas más em nome da humanidade!

As pessoas fazem muitas coisas más.

Você não pode dizer "eu não sou homem" só porque homens fazem coisas más em nome do homem. Em lugar de elimi­nar Deus, devemos resistir a esses ataques e defendê-Lo apro­priadamente, devemos seguir a Deus apropriadamente.

Deus está em nós, nós somos Um com Deus e devemos realizar a Deus. Quem realiza Deus, realiza em verdade sua Exis­tência! Sua existência não é diferente de Deus e Deus não é diferente do Homem!

Quando nós estamos em nossos sonhos, temos a ideia que somos diferentes do sonhador que cria todo o sonho... Logo que nos despertamos, não fica diferença alguma entre o sonhador e eu. Eu sou o sonhador.

Igualmente, Deus está além do Tempo e do Espaço. O que existe no Tempo e no Espaço, pode dividir-se, mas o que existe além do Tempo e do Espaço, nunca pode dividir-se. Então não podemos di­zer que não somos parte de Deus! Nenhuma diferença há entre Mim e Ele! Quando nenhuma diferença fica entre Mim e Ele, na minha Consciência, então se dá a Libera­ção!

A Dualidade

Quando nós sentimos a diferença entre Nós, então há dualidade! A dualidade é a fonte da Escravidão! Mas logo que se dissolva a dualidade, nenhuma causa de escra­vidão fica. A Liberação é a Unidade de tudo! Tudo o mais está em. Tudo. Tudo existe sempre!

Vocês conhecem o importante episódio da Bíblia, de Adão e Eva, Deus criou Adão e depois criou a Eva. Eva, em realidade, era uma parte de Adão! No Paraíso haviam duas árvores: a árvore da Vida e a árvore da Sabedoria. Esta árvore tinha o fruto do mal e o fruto do bem.

Amigos meus, o Paraíso está aqui, neste momento também. O desejo produz o fruto do mal e o fruto do bem. Ninguém pode ter um desejo sem ter a ideia do mal e do bem. Então Deus diz: "O Homem não deve comer do fruto do desejo". Não aceitando o conselho do Senhor o homem quer esconder-se sob a roupagem de seu Ego. O Ego cria a diferença entre o homem e Deus.

A água no lago e no copo é a mesma; mas quando pomos água no copo, a água nos parece ter a forma do copo. Então a forma do copo é a roupagem da água.

Assim, em nós todos, criamos as paredes e roupagem do ego.

O ego é responsável por criar a separação entre Deus e o homem. O ego cria o sentido do Tempo e do Espaço. O ego cria o sentido do nascimento e da morte.

Todos os sentidos que limitam, resultam do ego, como toda limitação da ma­téria está presente no átomo! O átomo, interiormente, é energia infinita, mas sua estrutura exterior o separa da fonte da energia. Assim, as limitações do ego nas separa­ções de Deus!

O ar do ego é muito forte. Quem puder fincar a bor­bulha de seu ego, o ar de seu apego se vai imediatamente, então não fica mais nada, exceto a água de Deus. Agora, tem-se a Liberação! A Liberação do Ego é a Liberação real!

O Ego é um Espelho

Nosso dever consiste em realizar que, os 'objetos' dos sentidos são simples 'percepções dos sentidos'. Em verdade não 'vemos' diretamente os objetos; apenas sentimos a per­cepção sensória dos sentidos. Nenhum sentido pode sentir nada sem o poder da mente. Então em todos os sentidos está presente a mente. Todos os sentidos são o jogo da men­te! Mas a mente age com o poder do intelecto e o inte­lecto não pode fazer nada sem o Ser! Assim é que o Ser está em tudo, é tudo! Tudo está no Ser!

Quando em Barranquilla, Colômbia, eu disse isso, um Reverendo Padre perguntou-me:

- Swami, e depois de dis­solver o ego, o que é que fica?

Eu respondi:

- Bem, agora quem está a perguntar?

Porque todas as perguntas são re­sultados do ego. Por exemplo, eu vejo meu reflexo no espe­lho e todas as pessoas, incluindo vocês, podem ver seu re­flexo no espelho. Mas quando esse espelho se quebra, quem pode ver seu reflexo? Todos os reflexos do mundo estão pre­sentes no espelho do ego!

Quando o espelho do ego se quebra, nada resta, exceto a base do ego. A base do ego sempre é a mesma em todos: Deus, o Ser Supremo. Quem realiza esta verdade é livre. Tem Liberdade!

O Cocô e a Dualidade

Há três etapas na Realização.

A princípio uma pessoa deve escutar as palavras dos seres Realizados e não apenas ler os livros. Algumas vezes, quando falo com jovens, eles me dizem:

- Swami, nós temos muitos livros e lemos...

Ler é uma coisa muito diferente de Realização, porque as palavras não podem manifestar sua Realidade enquanto nossa mente não esteja limpa.

Não é pelo fato de ler que se pode dar a Realização. Eu sei que tipo de 'realização' têm as pessoas!

A propósito, havia um rei que encontrou um grande Mestre. O Mestre disse ao rei:

- Tudo é o mesmo; tudo é você, TAT TVAM ASI. Tu és a Verdade.

Então o rei, interpretando a seu modo essas palavras, acreditou que já tinha a Realização perfeita em sua vida. Depois de alguns dias, a rainha, esposa do rei, disse-lhe:

- Querido, nossa filha tem que se casar. Já é maior de idade.

O rei, segundo sua compreensão de filosofia, replicou:

- No mundo nada existe a não ser eu, logo nenhuma diferença há entre o esposo da princesa e eu; assim ela pode viver comigo.

Então a rainha teve grande temor, já que toda a tradição estava prestes a destruir-se. Foi ter com o Mestre dizendo-lhe:

- Mestre, seus ensinamentos são muito perigosos.

- Que está acontecendo?

- Toda a tradição pode destruir-­se pelos seus ensinamentos. A mente de meu esposo está completamente transtornada.

Depois de escutar todo o relato, o Mestre disse-lhe:

- Não se preocupe, por favor. Amanhã farei uma visita ao palácio e comerei com o rei. Você deverá pôr nos pratos, um pouco de excremento.

- Meu esposo pode matar-me.

O Mestre disse:

- Não deve preocupar-se. A vida é para manter a virtude.

No dia seguinte, quando o Mestre estava no pa­lácio e já estavam todos à mesa, chegaram os pratos e neles havia um pouco de excremento. Logo que o rei viu o excre­mento, zangou-se terrivelmente e queria matar a rainha.

Mas o Mestre segurou o braço do rei e disse:

- Que tipo de sabe­doria tens tu? Ontem nenhuma diferença fazias entre tua filha e teu futuro esposo, e agora estabeleces diferença entre a comida e o excremento? Se tudo és tu e nada existe exceto tu, o excremento tampouco existe.

Isso é a grande confu­são, amigos meus! Aquele que diferencia entre comida e excremento, tem que diferenciar tudo em toda parte!

Ver as Diferenças

Em Los Angeles, onde dei uma conferência no Instituto de Yoga, eu disse:

- Amigos meus, mediante o Yoga vocês devem diferenciar o bem do mal.

Os estudantes disseram:

- Swami, nós somos yogues, não diferenciamos.

Então eu disse:

- Amigos meus, vocês diferenciam sim, eu sei. Apenas falam, mas sua consciência ainda aceita as diferenças.

O Senhor Krishna diz no Bhagavad Gita, como o Sábio deve comportar-se no mundo. Não deve perturbar a tradição.

Agora, neste momento, estamos na "Casa da Cultura".

Quero dizer com muita franqueza que em nome da Espi­ritualidade, nenhuma pessoa deve perturbar a cultura. A cultura é necessária para manter a tradição.

Então, na Consciência, a realização da Unidade, da Verdade e, no mun­do, a observação da Tradição! Ambas são necessárias.

O Se­nhor Buddha, Cristo, Krishna, Rama, todos eram grandes Yogues, mas simultaneamente trataram de estabelecer a tradição.

Assim, Cristo diz:

Eu vim para cumprir a Lei.

Cristo não disse "estou aqui para destruir ou para contra­dizer aos Profetas".

O Senhor Krishna também diz o mes­mo:

Quando se perturba a virtude e sobrevém o mal,
eu nasço como Homem e trato de destruir todo o mal
e de restabelecer a virtude.

Em realidade, toda virtude é a ma­nifestação da Divindade no mundo e tanto em Deus como na pessoa que está livre, nenhum mal existe nem tampouco bem algum.

Tudo Está em Todos

Tudo é Uno.

Assim, o amor está em todos. Mas quando o Senhor Krishna diz que um Sábio nenhuma dife­rença faz entre um cão, um Sábio, uma prostituta e uma vaca, nenhuma pessoa deve interpretar que Krishna não vê diferença entre uma esposa e uma prostituta!

Ele simples­mente quer dizer que o Yogue não odeia a quem quer que seja.

Quando um cão está na frente dele, lhe dá comida, quando a vaca está presente, lhe dá comida. Mas sem dúvi­da que o Yogue não dá a comida do cão à vaca! Ambos necessitam de comida e o Yogue está interessado na questão da comida de ambos, mas aceita a natureza de cada um.

Amar e Seguir

Há diferença entre um ladrão e um santo. O Sábio não diferencia entre o Santo e o ladrão; ama a ambos, mas respeita ao Santo e não pode respeitar a atitude do ladrão. Segue ao Santo, mas não pode seguir ao ladrão. Há uma diferença entre amar e 'seguir'.

Quando as Escrituras di­zem que um Santo e Sábio deve amar a todos, não dizem que se deve seguir a todos. Seguir é uma coisa, amar é outra. Então o Homem de Realização também tem que agir segundo as Leis Divinas.

As pessoas também creem que os Santos e os Sábios não agem, que sentam em suas covas, ou que sempre estão a sós com seus pensamentos.

Mas não é certo.

Os Santos também veem e se apresentam como nós. Cristo não tinha dez cabeças, não é? O Senhor Buddha não tinha vinte pés.

Todos os Seres Realizados viviam como pessoas comuns. Mas há uma grande diferença entre o mundo interior de uma pessoa comum e o mundo interior dos Sábios e Santos.

Qual é a definição de um Homem de equilíbrio? É que este no momento da miséria, nenhuma tristeza sente e em presença dos prazeres, também nenhuma alegria sente. Os prazeres vêm, e assim como vêm, se vão; a miséria também vem e se vai.

Ele nenhum apego tem, nem medo algum. Essa pessoa não se preocupa com nada, mesmo que se ocupe. Atua com 'motivo' definido, mas não se preocupa pelo resultado, ou pelo fruto. Não elogia nem critica as pessoas sem necessi­dade.

Elogio e Sinceridade

As pessoas têm a tendência de agradecerem-se mutua­mente em nome da 'etiqueta', não é? Admiramos outras pes­soas somente para receber sua admiração. Isso é orgulho, é vaidade. É artificialidade. No campo da Espiritualidade, o artifício de nada pode servir! Toda a formalidade, todo arti­fício devem ser eliminados.

Isso é certo.

As palavras que carecem de sinceridade enganam a outras pessoas e, final­mente tratam de enganar a nós mesmos também. Não se deve odiar nem se deve elogiar aos outros, sem necessidade.

Muitas vezes as pessoas dizem:

- Swami é muito duro, e diz palavras muito duras.

Mas o Swami, a ninguém trata de enganar. Um Swami tem que dizer em realidade, o que você é. A verdade sempre é amarga, e o falso é muito doce; mas o falso, depois nos cria muitos problemas. Por isso, deve-se habituar-se à Verdade.

Exagerando no Desejo

Por outro lado, quando se pensa nos objetos dos senti­dos, a pessoa começa a sentir apego para com esses objetos. Este apego cria o desejo e, quando o desejo não se cumpre, cria-se cólera.

A cólera termina na ilusão e a ilusão na confusão; a confusão acaba na perda do discernimento. Desta maneira o homem é completamente destruído.

Então uma pessoa deve controlar seus sentidos por meio da mente; deve controlar a mente pelo intelecto e deve dirigir o inte­lecto por meio da Sabedoria do próprio Ser. Então, a pes­soa é um oceano pleno e plácido. Os rios vêm trazendo muita água, mas o oceano nunca se perturba. Assim, uma pessoa de equilíbrio recebe todas as coisas desejáveis, mas não se perturba nunca. Essa pessoa tem a tranquilidade eterna.

As pessoas que têm desejos, nunca podem obter a paz.

A liberação da perturbação, a liberação da intranquilidade e da preocupação, é a liberação perfeita. A liberação da intranquilidade não é possível enquanto uma pessoa não conheça sua existência eterna! A Existência Eterna, o Ser, é a fonte de toda a liberação.

"O Ser está embaixo,
Está em cima,
Está em frente,
Está detrás.
Está à esquerda,
Está à direita".

Em todas partes está o Ser. Nós sempre devemos gozar nossa existência.

Independência em Pensar

Por tudo o que foi dito, a princípio, temos de Escutar, depois, contemplar e finalmente vem a meditação. Devemos escutar as palavras dos Sábios, devemos pensar nelas, deve­mos assimilá-las, devemos digerir essas palavras. Não deve­mos repetir simplesmente que o Swami Tilak diz, a Bíblia diz, ou o Bhagavad Gita diz.

O que Cristo e Krishna dizem estava com Cristo e com Krishna, mas o que você diz está em e com você, é para você, é a causa da liberação de você! Ou seja, enquanto eu não estiver de posse da visão direta da Verdade, de fato não tem muita impor­tância para mim ou para você as importantes palavras que digam outros, por mais divinos que sejam!

A comida ou alimento que comeu Cristo, não pode tirar minha fome. A comida que comeu Krishna tampouco pode tirar minha fome. Cada pessoa necessita de sua comida; assim também, cada pessoa necessita de sua Sabedoria, de sua própria Liberação.

Por isso uma pessoa deve contemplar apropriadamente. Depois de contemplar, então pode meditar. A Meditação significa focalizar a mente totalmente nesta Verdade: nada existe, exceto o Ser, e exceto Deus. Quem puder focar sua mente, sempre, nesta Verdade, nunca pode perturbar-se.

Om Shanti, Shanti, Shanti

Om PAZ, PAZ, PAZ



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cristo e o Conhecimento

Texto de SWAMI PRABHAVANANDA
no livro “O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta”

ANTES DE CHEGADA A hora de pronunciar o Sermão da Montanha, Jesus pregou por toda a Galiléia.

As novas revelavam um mestre extraordinário, e multidões afluíam para vê-lo — como haviam feito há milhares de anos no Oriente, e ainda o fazem, à aproximação de um homem-Deus.

Jesus ensinava as multidões de acordo com a capacidade delas; mas o Sermão que contém seus ensinamentos mais elevados reservou-o ele para os seus discípulos, para aqueles que estavam espiritualmente preparados.

Levou-os à encosta de uma colina, onde não seriam interrompidos pelos que não estivessem preocupados com sua verdade suprema.

O Conhecimento Popular e o Seleto

Todo mestre espiritual, seja uma encarnação divina ou uma alma iluminada, tem dois conjuntos de ensinamentos — um para a multidão, outro para os discípulos.

O mestre espiritual prepara o caminho de sua mensagem com lições genéricas.

A verdade profunda da religião ele a revela apenas aos discípulos íntimos.

Porque a religião é algo que pode de fato ser transmitido. Um mestre verdadeiramente iluminado pode transmitir-nos o poder que revela a consciência divina, latente em nós. Mas é preciso que o campo seja fértil e o solo esteja pronto antes que a semente possa ser semeada.

Quando multidões vinham aos domingos visitar Sri Ramakrishna, o místico da Índia moderna mais amplamente reverenciado, ele lhes falava de um modo vago, que lhes fazia benefício.

O Conhecimento para Poucos

Mas quando os discípulos íntimos se reuniam à sua volta — conforme me contou um deles — ele procurava certificar-se de que ninguém mais o ouvia, enquanto lhes ministrava as verdades sagradas da religião.

Não que as verdades em si sejam secretas — elas estão registradas e qualquer um pode lê-las. O que, porém, ele dava àqueles discípulos era mais do que ensinamentos verbais; de um jeito divino, ele lhes despertava a consciência.

Cristo ensinava desse mesmo modo.

Poucos se Interessam pelo Conhecimento

Ele não pronunciou o Sermão da Montanha para as multidões, e sim para os discípulos, cujos corações estavam prontos para recebê-lo.

As multidões ainda não estão aptas para entender a verdade de Deus. De fato, nem a desejam.

Meu mestre, Swami Brahmananda, costumava dizer:

- Quantos estão prontos? Sim, muita gente vem até nós. Temos o tesouro a dar-lhes. Mas eles querem apenas batatas, cebolas e berinjelas.

Qualquer um de nós que deseje sinceramente o tesouro, que busque a verdade, pode beneficiar-se da mensagem dada no Sermão da Montanha e pode tornar-se um discípulo.

Cristo fala das condições que temos de possuir para sermos discípulos e para as quais precisamos preparar-nos. Ele ensina os caminhos e os meios para atingirmos a purificação de nossos corações, de modo que a verdade de Deus possa revelar-se por inteiro dentro de nós.



quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Valor de Gente Ruim

Texto de CARLOS CASTANEDA
no livro “O Fogo Interior”

UM PEQUENO TIRANO é um atormentador .

Alguém que ou mantém poder de vida e morte sobre guerreiros ou simplesmente os perturba, levando-os à distração.

Disse que havia duas subclasses de pequenos tiranos inferiores.

A primeira subclasse reunia os pequenos tiranos que perseguem e infligem miséria, mas sem chegar a causar a morte de ninguém. Esses foram chamados de pequenos tiraninhos.

A segunda consistia dos pequenos tiranos que são apenas desesperantes e aborrecidos ao extremo. Estes foram chamados de minúsculos tiraninhos.

Acrescentou que os pequenos tiraninhos são ainda divididos em quatro categorias. Uma que atormenta com brutalidade e violência. Outra que o faz criando uma ansiedade intolerável através da desonestidade.

Outra que oprime com a tristeza.

E a última, que atormenta fazendo os guerreiros se enraivecerem.

O pequeno tirano é o elemento externo, aquele que não podemos controlar, o que é talvez o mais importante de todos eles.

Meu benfeitor costumava dizer que o guerreiro que tropeça num pequeno tirano é um guerreiro afortunado.

Se Preparando Para o Ocultismo

Compreendendo a natureza do homem, os guerreiros foram capazes de chegar à incontestável conclusão de que, se os guerreiros conseguem manter-se inteiros ao defrontar-se com pequenos tiranos, podem certamente encarar o desconhecido com impunidade, e então podem suportar até mesmo a presença do incognoscível.

A reação do homem médio é pensar que a ordem dessa afirmação deveria ser invertida, que o guerreiro que pode permanecer inteiro em face do desconhecido pode certamente encarar pequenos tiranos.

Mas não é assim.

O que destruiu guerreiros soberbos dos tempos antigos foi essa presunção.

Agora, já sabemos. Sabemos que nada pode temperar tanto o espírito de um guerreiro quanto o desafio de lidar com pessoas intoleráveis em posições de poder.

Apenas sob essas condições podem os guerreiros adquirir sobriedade e serenidade para suportar a pressão do que não pode ser conhecido.

Em oposição pode-se dizer  que inúmeros estudos tem sido realizados sobre os efeitos da tortura física e psicológica em tais vitimas, mas a diferença está em que elas são vítimas, não guerreiros.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

A Devoção

Texto de SWAMI TILAK.

Depender de qualquer pessoa é dependência.
Na Espiritualidade,
uma pessoa tem que conseguir
a indepen­dência, a liberdade.

Em nenhum momento ou circunstância
devem sacrificar 
a liberdade mental, espiritual!

*

O HOMEM TEM OS PODERES da ação, emoção e da sabedo­ria.

Cada pessoa usa estes poderes em um momento ou outro.

Dificilmente pode-se deixar toda emoção de lado; parece que na vida necessita-se de emoção. Muito pouca gen­te no mundo pode compreender a Verdade sem emoção. En­tão necessitamos de um caminho em que se possa assimilar as emoções com sabedoria.

Este caminho é a Devoção.



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