sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Sucesso Pela Ação Sem Desejo

Texto de SWAMI TILAK.
Conferência proferida na Associação Palas Athena de São Paulo, em 14 de julho de 1983.

Nishtam Karma Yoga

RESPEITÁVEIS MÃES E IRMÃOS, é uma grande alegria estar nesta sala maravilhosa da Associação Palas Athena.

Nós somos dotados de três poderes: o poder de saber ou co­nhecer, o poder de querer e o poder de agir. No campo do conhe­cer, necessitamos do sentido da renúncia; no campo do querer, da atitude de amar, e no campo do agir, necessitamos do desapego.

Na realidade, a renúncia, o amor e o desapego são a mesma coisa. Os níveis da Verdade diferem, mas a Verdade é a mesma.

Quando a energia passa por um nível, nos aparece como eletromagnetismo; em outro nível, nos aparece como calor e em outro, como luz, mas na realidade todas essas formas derivam de uma só fonte.

Assim, quando uma pessoa chega a saber que na realidade não existe nada mais que o Ser, nesse momento como pode diferenciar as coisas? E quando tem o sentimento da Presença Universal do Senhor, nesse momento, tem que amar a todos. E quando uma pessoa com este mesmo sentimento trata de agir, nesse momento não pode ape­gar-se a nenhuma coisa mundana.

No Isa Vashya Upanishad, há um mantra que diz: "Todo o Universo está cheio de Deus, tudo pertence a Deus." Então, que posso fazer? Eu devo usufruir de todas as coisas, mas antes de ter qualquer coisa, eu tenho que renunciar. Vocês podem perguntar-me: como vamos renunciar antes de termos as coisas? A resposta é que nós temos que renunciar mentalmente. Se antes de escolher qualquer coisa, renunciamos mentalmente, então não podemos apegar-nos a essa coisa.

Sempre dou este exemplo: uma pessoa nada no rio, mas não se apega à água. Está na água, mas não está apegada à água. Há uma grande diferença entre uma pessoa que se afoga e uma pessoa que nada. Ambas estão na mesma água, mas uma não permite que a água penetre nela, enquanto a outra tem a água em si mesma. En­tão, a pessoa que nada está na água, mas a água não está nela, ao passo que aquele que se afoga não somente está na água, mas também a água está nele.

Atitude é o que Importa

Nós temos que aprender a viver no mundo. O mundo abastece a todos e apóia aos ignorantes e também aos Sábios. Porque ne­nhuma pessoa pode sair do mundo. Quem pode sair? Podemos ir às selvas, podemos viver nas cavernas. Apesar disso, nós estamos na mesma terra, estamos respirando o mesmo ar, estamos comendo a mesma comida, bebendo a mesma água. Não podemos dizer que Cristo ou Buddha ou Krishna tomavam a água de outro mundo; e a comida também não chegava da Lua; comiam a mesma comida.

Então, que diferença existe entre estes grandes seres e um ser de sua família? Simplesmente a diferença da atitude, e esta é uma grande diferença!

Dizem que havia uma velha árvore na qual vivia uma ave em um ninho. Embaixo desta árvore havia uma gaiola de ouro, onde também vivia uma ave. Esta ave era muito orgulhosa e sempre dizia à ave que vivia no ninho: "Você nenhuma comodidade tem! Sua vida é incerta e todos os dias você tem que ir longe para buscar co­mida. Veja que facilidades eu tenho em minha vida! Meu dono todos os dias me dá comida, e eu tenho também uma casa de ouro, mara­vilhosa! Sua casa não tem nada, só folhas, nada mais." A ave que vivia no ninho nunca respondia, somente escutava tudo. Mas, um dia ocorreu uma coisa terrível. Teve início uma grande tormenta e a árvore velha não resistiu. Nesse momento, a ave que estava no ninho levantou vôo, enquanto que a ave da gaiola não pôde sair e morreu.

Isto representa a situação dos sábios e dos ignorantes no mun­do. O mundo é uma árvore maravilhosa, que apóia dois tipos de pessoas; umas, sábias, que vivem no ninho em cima da árvore e outras que vivem na gaiola dos apegos, muito orgulhosas de suas comodidades, pensando ter tudo. Mas, quando sopra a tormenta ter­rível da morte, nesse momento a árvore tomba, cai. Uma pessoa sábia voa imediatamente, sai logo da árvore, enquanto que a pes­soa apegada tem de morrer com tristeza, com muita infelicidade.

Se Livrando da Tristeza

O Karma Yoga simplesmente explica como podemos liberar-­nos da tristeza, a qual está invariavelmente relacionada com o apego.

Amigos meus, o mundo físico não nos perturba, não nos apre­senta problemas. Todos os problemas estão relacionados com a nossa atitude. No mundo, nós criamos outro mundo. No mundo universal nós criamos um mundo pessoal, e este mundo pessoal cresce conosco, frutifica conosco e também cai conosco! Não estamos satisfeitos com o mundo, e buscamos nosso mundo. Existem muitas casas no mundo, mas nós buscamos nossa casa. Não nos satisfazemos com meninos, mas buscamos nossos filhos. Não estamos satisfeitos com dinheiro, estamos buscando nosso dinheiro. Esta é a raiz de todo o problema. Este sentimento cria um mundo den­tro do mundo, e por isso sofremos.

Os sábios dizem: "Você quer amar aos meninos? Ame a todos os meninos." E cada um de, nós responde: "Não, eu não posso. Eu quero ter meus filhos e quero amar somente a meu filho." Que acontece então? Imediatamente o campo do Amor, o campo da satisfação se limita, se restringe: "Eu não quero amar a todos." O Yoga está ensinando a sair dos limites do "seus", "teus" e "meu" para que se possa ter uma felicidade infinita! O próprio sentido do Yoga é união. Assim o meu, teu, seu, todos têm que juntar-se, têm que se reunir no "Eu Universal". Isto é Yoga.

Nesse momento o que faço não é para mim, é para todos. Embora essa classe de resultado seja naturalmente favorável; porque extingue a diferença entre meu e seu. Nós temos que expandir a nossa existência, e quando assim agimos, nossa existência se identifica com tudo que é Universal!

Cristo Viveu por Nós

Em vez de dizerem que Cristo morreu por nós, vocês têm que dizer que Cristo viveu por nós, que Cristo agiu para nós; e o que Cristo diz, eu tenho que fazer! Isto é Karma Yoga.

Todos estamos agindo. Quem está sentado, sem fazer algo? Quem está sentado sem agir? Pode-se dizer: "Eu não quero fazer nada porque tenho muitos problemas". Muito bem, mas então, que vai fazer durante o dia todo? Sentar-se no banheiro? O dia todo vai comer? O que vai fazer? Sua natureza lhe exige que atue! Alguns fazem um tipo de coisa, outros, outro tipo, mas todos estão agindo. Inclusive uma pessoa que rouba e mata, e outra que trabalha. O ­ladrão, ao assassinar a vítima, pode usar uma faca, e um cirurgião em seu trabalho também usa uma faca, ou bisturi; só há uma diferença: a da intenção.

Desde Cristo até o ladrão, a ação é comum, todos estão fazendo algo; Buddha agindo de uma maneira e eu de outra; o estudante ­fazrndo uma coisa e o professor outra; mas todo o mundo está agindo, ninguém pode sentar-se sem agir, porque é a Natureza da própria natureza, ou sua Dinâmica!

O Karma Yoga não se destina a evitar a atividade. A questão agora consiste em saber como a atividade se converte na ação. Qual a diferença entre atividade e ação. A diferença está na intenção: atividade + intenção = ação. Até a matéria inerte tem atividade; e atividade também está nas paredes. Os físicos sabem que em um átomo, o elétron se move incessantemente ao redor do próton. Então nestas paredes há atividade mas não ação, porque a ação é algo próprio da mente; e somente o homem tem mente! Por isso é o homem que realiza a ação, enquanto outros seres simplesmente são ativos.

Atividade e Intenção

Quando praticamos uma ação, temos que dividi-la em duas partes: atividade e intenção. A atividade deve ligar-se ao nosso cor­po, e a intenção temos que voltá-la para Deus; é o Karma Yoga.

Temos de ir de encontro à ação, no silêncio da meditação, no silên­cio da fé; e temos que observar corretamente, a ação, a atividade e a intenção. A atividade para o corpo, a intenção para Deus - ­então, a intenção tem que se dissolver na Vontade de Deus! Parece difícil? Eu não acho: É uma coisa simples. Nenhuma com­plicação há.

Nós temos que dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Mas o problema com o homem é que ele realiza coisas complicadas muito facilmente e tem problemas com as coisas simples. Diz mentiras aos milhões e quando tem que dizer a Ver­dade, sente dificuldades. Dizer uma mentira poderá não ser proble­ma; o problema é que não se pode dizer somente uma, tem que se dizer outras tantas para se esconder a primeira.

"Meu pai disse que não está em casa."

Um exemplo muito comum, que mostra o mau exemplo dado desde a infância: uma pessoa bate à porta de casa de um amigo, e este, estando em casa, diz a seu filho: "Diga que eu não estou."

Então o menino imediatamente sai da casa e diz: "Meu pai disse que não está em casa." Então o pai fica com problemas para es­conder a primeira mentira e tem que dizer muitas coisas, além de ter que culpar seu filho. O filho nesse momento não sabe o que pode dizer; se respeitar a verdade de seu pai ou à verdade mesma.

Na vida social nós temos esses problemas; os dois querem que os filhos obedeçam e participem de todas as mentiras e de todas as coisas incorretas que praticam. Mas quando os filhos não querem segui-los então os pais dizem: "Que tipo de filho você é, que não quer obedecer-nos?"

Nesse momento, surge o Karma Yoga, a dizer que nenhuma relação é mais importante que a Verdade. Todas as relações do mundo estão a um lado, o Dharma e a Verdade, do outro lado. Quando uma pessoa tem que escolher entre ambas, deve escolher a Verdade e não as relações!

Rebelde na Própria Causa

Agora temos que saber que é muito fácil falar a uma pessoa que você não vai segui-la; que não aceita seus conselhos. Mas, quando meus olhos ou meus ouvidos, meus pés, ou minhas mãos não seguem a Verdade, então nesse momento eu tenho que dizer: "Olhos, vocês não têm direito de estar comigo, porque não estão seguindo a Verdade!" Isto já é mais difícil. Rebelar-se contra os pais é muito fácil, mas sacrificar os nossos próprios órgãos quando não estão seguindo o caminho da Verdade, é muito difícil. Por isso e para isso o caminho do Dharma, o caminho do Karma Yoga, começa no mundo interior. Antes de me opor a qualquer pessoa, tenho que me opor à minha natureza baixa!

Dharma não é uma coisa de propaganda. Proselitismo não é a finalidade do Dharma. O Dharma é para atuar, para agir apropriadamente.

Religiosidade Hipócrita

Um dia eu estava com uma família cristã no Havaí e um jovem muito entusiasmado chegou e disse:

- Swami, eu quero ir ao Japão.

- Por que, amigo meu?

- Porque eu quero propagar a minha religião.

- Muitas felicidades. Mas eu quero saber: o que você sabe sobre religião? Então com grande entusiasmo disse:

- Swami, eu tenho toda a Bíblia na memória!

- Amigo meu, eu não estou perguntando se você memorizou ou não a Bíblia, somente quero saber o que você sabe sobre a re­ligião!

- Swami, eu leio todos os dias a Bíblia.

- Eu não quero saber se você lê ou não lê, eu somente estou perguntando, que sabe sobre religião? Então ele disse com grande desespero:

- Swami, não compreendo o que o senhor está dizendo!

- Fazer é compreender! Eu agora pergunto: na Bíblia, Cristo diz que "aquele que olha a mulher com desejo, já cometeu adultério". Você compreende o que está dizendo Cristo? Há tantas missões, tantas Igrejas, tantas Escrituras e tem o homem todavia que com­preender o que está dizendo! Amigo meu, que vai fazer no Japão? Você vai simplesmente distribuir os livros, as letras negras impressas no papel; e nada mais. Isto não é religião! Quando não temos controle sobre nossos sentidos, que é a religião? É somente uma hipocrisia e nada mais.

É Difícil Seguir Cristo

É muito difícil, acreditem, é muito difícil seguir Cristo, seguir Buddha é muito difícil, seguir Krishna é muito difícil. Distribuir os livros é muito fácil; qualquer pessoa pode fazê-lo, mas seguir a religião, é muito difícil!

Dizem que havia um Santo que vivia fora da aldeia, numa casi­nha.

Todos os dias saía desta casinha para recorrer à caridade. Um dia, quando chegou a um lugar, encontrou uma moça muito bela, e depois de receber a caridade, regressou à sua casinha.

No dia seguinte, dirigiu-se ao mesmo lugar onde estava a mulher, e esta, quando o viu, disse:

- O senhor chegou muito tarde.

Então o Santo lhe respondeu:

- Não se preocupe, eu sou um mendicante. Um dia chego a um lugar um pouco antes, e no outro, um pouco tarde. Você não tem com que preocupar-se.

- Não é isso senhor. É que seus olhos são muito atraentes, e eu não posso viver sem ver esses olhos.

O Santo se pôs sério e regressou à sua casinha; não cozinhou nada, nem tampouco comeu. No dia seguinte ele apanhou a faca que usava para cortar os vegetais e arrancou seus olhos. Então, usando seu báculo, dirigiu-se ao mesmo lugar onde estava a mulher. Quando o viu sem os olhos, gritou:

- Que aconteceu aos olhos que tanto me atraíam?!

Então o Santo disse:

- Os olhos que podiam desviar a você, e a mim também, não têm o direito de estarem comigo.

É a religião, é o Dharma. O Dharma não está nos livros, mas na determinação e na ação do homem. Por isso, os professores de religião são muitos, mas Cristo, Buddha e Krishna são raros.

Por isso eu disse que, quando meus órgãos não me seguem, não seguem meu Dharma, eles não têm direito de estar comigo. Qualquer parte do corpo tem direito de estar comigo, sempre que siga meu Dharma.

Amigos meus, temos de aprender que nesse campo, não deve­mos imitar ninguém, temos de seguir a nós mesmos. Porque cada pessoa tem seu Dharma.

Às vezes os pais de família nos dizem:

- Swami, seu caminho é muito simples, mas o nosso é muito difícil; temos de cuidar de nossos filhos, de nossos pais.

Posso garantir que nenhum caminho é fácil, nenhum caminho é simples. Quando temos que seguir um caminho, seja qual for, muitos problemas surgem. Um chefe de família tem problemas com seus filhos ou com seus pais; um renunciante tem problemas com seus sentidos.

Quando vivemos no ar, temos problemas com a contaminação, e quando tratamos de viver numa sala sem ar, temos outros tipos de problemas. Problemas existem em todo lugar. Nós necessitamos só de determinação, para todos os problemas! Para isso, a intenção necessita de deter­minação e a determinação necessita de um objetivo.

Ação Sem Desejo

Às vezes, quando se fala sobre o Karma Yoga, ou Nishtam Karma Yoga - O Karma Yoga sem desejo - as pessoas pergun­tam:

- Como podemos agir sem desejo?

Eu digo: amigo meu, você pode agir sem desejo, mas não pode agir sem motivo, sem objetivo. O Karma Yoga permite o objetivo da ação, porque o objetivo, o motivo, está relacionado com a ação, enquanto que o desejo está relacionado com o fruto da ação. Por exemplo, o jardi­neiro que planta uma semente, tem que cuidá-la, regá-la, enfim tem que fazer tudo para que frutifique. Mas quando a árvore começa a dar seus frutos, o jardineiro já não tem que ficar prestando atenção, porque o fruto vem segundo a natureza da árvore, e não se­gundo o desejo do jardineiro.

O que acontece com as pessoas co­muns ou jardineiros comuns, é que quando têm que semear, não semeiam, quando têm que regar, não regam, quando têm que cuidar, não cuidam, e quando a árvore começa a frutificar, sentam-se sob ela, e ficam olhando as frutas. Depois gritam e choram.

O Karma Yoga pergunta:

- De que adianta isso? Vocês podem chorar, mas a natureza do fruto não muda conforme seus desejos. Então, no momento de agir, ajam apropriadamente, e depois esqueçam. O fruto da ação é somente uma sombra. Assim como a sombra segue homem, e não o contrário, assim as pessoas não têm que seguir fruto, ou resultado da ação; este é que deve seguir o homem.

Corre-se atrás da fama, do nome, e não se consegue alcançá-las.

O Karma Yoga diz que não se deve preocupar com a fama, com o nome. Estes vêm a seguir. Quando tentamos agarrar a sombra, fracassamos, e quando não prestamos atenção, a sombra nos segue. É o segredo do Karma Yoga. Por isso um Karma Yogue faz muito pouco, mas tem uma grande satisfação; e o resultado é também muito vasto.

A Graça de Cristo

Quantos professores dão aulas, palestras, mas não podem con­seguir a graça de Cristo, a graça de Buddha. Por quê? porque Cristo não era nenhum desejo, mas as pessoas comuns têm muitos e muitos desejos; e quando estes não se realizam imediatamente, são invadidas por grande desespero. No campo do Karma Yoga não existe lugar para o desespero, porque o Karma Yoga sempre segue a Vontade de Deus.

Por isso Cristo diz:

- Seja feita a Tua Vontade.

E nós tratamos de repetir esta oração. Mas, que fazemos nós? Quando entramos na Igreja dizemos em voz alta:

- Seja feita a Tua Vontade.

Mas quando saímos da igreja, em voz baixa dizemos:

- Seja feita minha vontade.

Assim fica estabelecido um conflito entre a minha von­tade e a Sua Vontade.

Dizem que havia um grande devoto que sempre visitava o Tem­plo de Hanuman, na Índia, e sempre orava no Templo até muito tarde da noite. Assim, o sacerdote que cuidava do Templo tinha problemas: não podia dormir; o devoto cantava até meia-noite.

Um dia, o sacerdote se sentou atrás da imagem de Hanuman, e quando o devoto começou a cantar, o sacerdote disse:

Ó filho meu, hoje eu estou muito feliz. Tu dizes que eu sou teu pai, tua mãe, teu tudo. Hoje eu quero te engolir ..."

Imediatamente o de­voto correu e não mais regressou.

Concluímos então que nós falamos uma coisa e sentimos outra. Quando criamos diferenças entre nossa consciência e nossas ações, como podemos ter tranquilidade e felicidade em nossa vida?

A Vontade de Deus

Por isso, para seguir o Karma Yoga, é necessário sacrificar o seu eu. Sua Vontade é minha Vontade. Minha vontade não existe nesse momento. Eu quero fazer-me um instrumento de Sua Vontade; e quando eu sou um instrumento de Sua Vontade, na realidade mi­nha vontade é Sua Vontade.

Isto não significa que minha vontade é a Vontade de Deus; significa que a Vontade de Deus é minha Vontade.

Amigos meus, tenho somente algumas sugestões a fazer, por­que estou seguro de que não nos podemos aperfeiçoar em um mo­mento; necessitamos de paciência.

Em nossa vida diária, podemos fixar uns momentos ou minutos apenas, para Nishtam Karma Yoga, para a Karma Yoga sem de­sejo, sem apego.

Assim, por exemplo: um médico, um professor, pode decidir: Vou dedicar quinze minutos de cada dia para praticar o Nishtam Karma Yoga, o Karma Yoga sem desejo. Vou tratar dos enfermos sem cobrar. Então devo tirar estes momentos e não devo mudá-los.

Por exemplo: Se me dedico a isso às dez horas da noite, então tenho que cumprir todos os dias o Nishtam Yoga às dez horas da noite e devo acabar às dez e quinze. Mas esses quinze minutos pertencem a Deus, esses momentos não são meus, são de Deus.

Vocês podem escolher qualquer momento.

Um médico pode pensar nas horas em que inclusive não haja possibilidade de atender nenhum paciente... Um professor pode escolher o horário da meia noite, também. Não há problema. Mas, uma vez escolhido o momento, tem que assumi-lo decididamente. Não tenho dúvida de que nesses quinze minutos haverá muitos pacientes.

Mas não se pode ceder à tentação e dizer:

- Ah, agora são tantos os pacientes; tenho que mudar esse horário. Não! Tem que ser cumprido esse horário!

Amigos meus, podemos ter a certeza de que a semente semeada nesse momento vai crescer cada vez mais. Assim, tornar-nos-emos desapegados em relação ao resultado, ao fruto de nossa ação. Porém, precisamos de ter uma grande dose de paciência.

Jogando Xadrez com o Mundo

Cito com frequência o exemplo de uma menina de quatro anos que queria jogar xadrez, comigo. Eu não tinha interesse nisso, mas apenas para satisfazê-la tive de jogar. Eu sabia que se ela per­desse o jogo, iria chorar e até gritar, então, para fazê-la feliz, eu tive deliberadamente de perder o jogo. À medida em que ela ga­nhava, dançava por toda a casa dizendo:

- Eu venci o Swami.

Muito bem, ela estava feliz, e para fazê-la mais feliz ainda, tive muitas vezes que chorar também. Mas na felicidade da menina, havia minha felicidade. Aparentemente eu perdia, mas internamente, era eu que ganhava o jogo.

O mundo é um grande jogo; aparentemente temos de perdê-lo, para internamente ganhar. Aqueles que estão tratando de con­quistar o mundo externamente, estão perdendo-o internamente; e aqueles que o estão perdendo externamente, ganham-no internamente.

Este corpo é para o mundo; e nosso Coração é para Deus!

Aquele que perde o mundo, nada perde; mas aquele que perde a Deus, perde tudo. Nós temos que ganhar a Deus, não temos que correr atrás do mundo. Isto é Karma Yoga. Tenho certeza de que, quando uma pessoa assume essa atitude, nada lhe falta do mundo. O mundo não é cego, na realidade compreende as intenções das pessoas e trata de ajudá-las. Tenho muita experiência nesse campo.

Vocês sabem que eu estou dando mais uma volta pelo mundo; posso dizer que já é a terceira.

Não tenho dinheiro, não tenho casa, nada tenho, mas parece-me que pela graça de Deus, tenho mais do que necessito. Há casas e mais casas em toda parte; há irmãos e "mães" em toda parte; e nada me falta. Quando digo às pessoas que não necessito daquilo que me oferecem às vezes, não acreditam e dizem:

- Não, não é possível, o senhor tem que aceitar.

Uma vez, estava eu em Amsterdam, sentado na sala de espera da rodo-ferroviária, lendo um livro, quando uma pessoa entrou e sentou-se à minha frente por alguns minutos. Logo depois, aproximou-se e pôs dinheiro sobre meu livro e disse:

- É seu.

- Como assim?... Não, não é meu, caro amigo.

- É seu, você tem que aceitar!

- "Amigo meu, eu não necessito!

- Necessitar, você não necessita, mas é seu e você tem que aceitar!

Pode lhe causar grande surpresa, mas eu viajei num trem russo sem passagem. Eu tinha um dinheiro que lá nada valia, eram dólares, não valiam nada. Então, quando atravessei a fronteira, o condutor chegou, e eu lhe dei os dólares. Ele se foi, e depois de meia hora, regressou e pôs o dinheiro sobre o meu livro. Não foi preciso pagar.

Em toda parte existem os braços, as mãos de Deus. Somente precisamos ter fé. Fé em Deus. Amigos meus, quando temos fé perfeita em Deus, nesse momento nossas preocupações terminam.

Conta-se que uma pessoa viajava em um trem com a bagagem na cabeça. Então, alguém lhe disse:

- Ponha esse bagagem no chão!

Ela respondeu:

- Não. Se eu puser esta bagagem, no chão, ela não vai poder me acompanhar.

Então, outro passageiro lhe disse:

- Amigo meu, você tanto pode levar essa bagagem na cabeça como no chão; em ambas as situações a bagagem vai acompanhá-lo.

Esta é a história do século XX. Nós queremos carregar toda a bagagem conosco; e em nossa cabeça. O Devoto coloca a bagagem no chão. De toda maneira o trem divino corre, e tudo corre conosco. Necessitamos somente de Fé! Sem ela, nada, podemos fazer no mundo.

Muita gente se queixa dizendo:

- Ó, Swami, meu filho vai morrer, meus parentes vão morrer e eu...

Eu digo:

- Não. Não é certo, ninguém vai morrer, amigos meus. Façamos tudo com fé! Não devemos nos sentir responsáveis por todo o mundo. O mundo não está marchando pela nossa graça; está seguindo pela graça do Senhor!

O Grão Nosso De Cada Dia

Há um ditado que diz que em cada grão está impresso o nome da pessoa que o vai comer. Simplesmente não temos olhos para ver. Que se pode fazer? Por isso, enquanto temos a graça de Deus, comemos; e quando essa graça se acaba já não podemos comer nada.

Em Manágua, uma noite, quando as pessoas dormiam, muitas delas em grandes edifícios, ocorreu um terremoto, e isso foi suficiente para acabar com tudo! Nós não sabemos nada! Pode vir terremoto, e o orgulho do homem acabar em um momento...

Laplace, grande pensador e matemático; escreveu um livro negando a existência de Deus. Quando estava ele para deixar esse mundo, Nebulios levou esse livro para lhe mostrar. Então Laplace disse:

- Senhor, não me mostre esse livro, não!...

Amigos meus, temos que buscar a fé dentro de nós mesmos, porque, quando mostramos fé em Deus, mostramos que temos fé em nós mesmos; e, quando mostramos fé em nós mesmos, mostramos fé em Deus! Deus e eu, ambos, somos as duas faces da mes­ma moeda. Aquele que não tem fé em Deus não pode ter fé em si mesmo, e aquele que não tem fé em si mesmo não pode ter fé em Deus. Ambas as coisas são o mesmo, e o Karma Yoga cuida de nos levar à autoconfiança, e à fé em Deus.

Com estas palavras eu lhes agradeço, senhores, por sua pre­sença e por sua atenção.

Que todos sejam felizes, que ninguém seja infeliz.

OM SHANTI SHANTI SHANTI

OM PAZ PAZ PAZ

Fonte: Jnana Mandiram





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