sexta-feira, 6 de julho de 2012

Como Viver no Mundo

Texto de SWAMI TILAK.

Para que precisamos de dinheiro?
Precisamos de dinheiro para
manter a virtude de nossa natureza,
nada mais.

Temos roupa para quê?
Para preservar nosso corpo.

 

TEMOS UM grande prazer de estar com os membros da Sociedade Teosófica. Sempre aproveitamos a oportunidade de falar com os membros da Sociedade porque eles têm interesse profundo na vida espiritual.

Todos têm que viver no mundo e têm que viver apropriadamente. Têm que conseguir êxito em sua vida, evitar a miséria, e buscar a felicidade.

A natureza é como um rio. Este rio da natureza corre incessante­mente. Um ser encarnado tem que nadar neste rio da natureza. Aquele que não pode nadar, pode se afogar, sem dúvida. A felicidade, a tran­quilidade, não vêm de repente. Uma pessoa tem de fazer esforço para conseguir a felicidade. Somente os animais podem satisfazer-se com o que veem. O homem tem que planejar sua vida. E quando nós que­remos planejar nossa vida, temos que conhecer todas as leis que go­vernam o mundo.

Filosofia Abstrata e História Morta

Talvez vocês conheçam uma Escritura Hinduísta muito famosa que se chama Ramayana. Não preciso contar toda a história que en­contramos nessa Escritura, mas tenho que apresentar, neste momento, o prólogo desta Escritura, porque depois de compreender a filosofia que está no prólogo do poema, uma pessoa pode compreender apro­priadamente a vida do ser humano.

Como sempre digo, nós temos por um lado a filosofia abstrata e por outro a história morta. O ser humano não pode satisfazer-se com as coisas abstratas, nem com a história morta. Precisamos da filosofia vivente, da filosofia que anda nas ruas, precisamos da eter­nidade que esteja presente na forma do ser humano.

Então necessitamos de uma combinação da história e da filosofia. Sem dúvida esta combinação é a Encarnação [ver avatar]. A encarnação da verdade abstrata na forma do ser humano. Então, no Ramayana nós encontramos uma descrição muito interessante.

As Emoções e a Sabedoria

Era um rio que se chamava Tamasa e às margens do rio havia uma ermida. Nessa ermida morava um santo que se chamava Valmiki. Você pode não se lembrar dos nomes, não é importante, tem que se lembrar da essência. Perto da ermida havia uma velha árvore. Em cima desta árvore havia um ninho em que viviam dois pássaros. Um dia um caçador com seu arco e flecha apareceu e flechou um dos pássaros que logo morreu. Neste momento ao outro pássaro não res­tava nenhuma fortuna exceto a de chorar e gritar.

Neste momento o santo teve uma grande compaixão e com lágrima nos olhos o santo começou a pensar: "Será apropriado ou não para um santo, para um sábio, ter compaixão? O sábio sabe que todo o mundo já é a morte. O mundo não é nada mais que cemitério, não é!"

Apesar disto, por que um Buddha tem que chorar, depois de ver a miséria das pessoas? Por que um Cristo tem que descer para salvar a humanidade? O mesmo problema estava presente antes no santo Valmiki também.

Naquele momento dizem que o santo Narada desceu do céu e Valmiki lhe perguntou: "No mundo quem é a pessoa perfeita? Quem é a representação de toda a virtude?" Então dizem que Narada des­creveu a vida do Senhor Rama e depois o santo Valmiki tratou de elaborar a história. Depois dizem que os Vedas chegaram para confir­mar toda a história e descrição.

Como é a Vida

Agora temos que compreender que o rio Tamasa é a natureza e que a natureza flui todo o tempo. A natureza é um rio que constan­temente flui. E na margem deste rio está presente a ermida do corpo. Nesta ermida do corpo está o Santo do Ser Eterno. E perto desta ermida do corpo está presente a árvore do mundo. E em cima da árvore do mundo estão presentes dois tipos de personalidades. E temos a morte como um velho caçador que caça todo o tempo.

Quando um morre, outro grita e chora: somente esta é a história do mundo, nada mais: uns morrem e outros gritam e choram. Aqueles que vivem, choram. Dizem que aqueles que morrem, dormem tranqui­lamente; é certo. E aqueles que vivem têm que chorar.

E nesse momento o santo tem que pensar na Verdade. Neste momento o coração diz que você tem que chorar, tem direito de ex­pressar sua compaixão para com as pessoas que sofrem no mundo. Um santo não tem que fazer-se uma pedra, que não tem nenhum coração. Um santo também tem emoção, tem sentimento. Com grande compaixão e sentimento tem que tirar todo sofrimento do mundo. Ele não tem que sofrer, mas tem que tirar o sofrimento das outras pessoas.

O Senhor Buddha tinha coragem de confrontar qualquer tipo de Sofrimento no mundo, mas tinha compaixão para com outras pessoas que sofriam. Ele tinha pureza em sua vida, mas tinha compaixão para com as pessoas que tinham impureza em sua vida.

Como Viver a Vida

As pessoas odeiam os pecadores e dizem:

- Oh! Ele é um pecador! Eu não posso falar com essa pessoa! Eu não posso visitar aquele lugar!

Mas o sábio é como o sol e seus raios. Os raios do sol penetram todos os lugares onde está a escuridão. Na presença da luz solar não pode existir nenhuma escuridão. O sol não tem medo da escuridão, a es­curidão tem que temer o sol. A verdade não tem nenhum medo da impureza, das coisas falsas. Simplesmente as coisas falsas evitam a verdade.

Amigos meus, às vezes eu vejo as pessoas falando sobre o mundo e dizendo:

- Ah! O mundo é uma coisa má, não temos que andar no mundo, temos que fechar nossas portas e simplesmente morar nessa casa fechada.

Eu digo, amigo meu, todo o mundo é mundo, você está aqui não para fechar as portas; você está aqui para abrir as portas. Você tem que sair de casa para tirar toda a impureza que existe no mundo.

Se todas as pessoas boas, todas as pessoas puras fecharem-se nas casas, como poderemos encontrar pessoas boas nas ruas? Como podemos encontrar os santos nas ruas, quando todos os santos estão fechados nas igrejas? Eu pergunto.

Então nós temos que infiltrar a espiritualidade e a divindade em toda a sociedade.

Sabedoria Oculta

Todos os homens têm direito de saber a Verdade. A Verdade não é proprie­dade de qualquer indivíduo, é algo universal! Assim como nasce o sol e oferece a luz para todas as pessoas, a sabedoria espiritual também é para todos.

Sem dúvida, às vezes, nós falamos sobre a sabedoria secreta, oculta. Em minha opinião a Sabedoria é oculta, porque as pessoas cegas não podem vê-la. Assim como um cego não pode ver a luz do sol, assim também uma pessoa que não tem entendimento não pode compreender a Sabedoria. Apesar disto, a Sabedoria está aberta para todos. Nós temos que pregar a Sabedoria em todo o mundo!

Elevando o Nível

Amigos meus, no Veda diz: "Eu tenho que converter o mundo todo numa casa de nobres". Amigos meus, esta é a finalidade da vida!

Na Escritura Sânscrita, temos a descrição da árvore da virtude, da árvore da finalidade da vida. Toda árvore tem quatro coisas: raiz, tronco, ramos e frutos. A Árvore da Vida também tem quatro coisas. A raiz é a virtude; a economia é o tronco; a procriação ou desejo são os ramos e a salvação é o fruto. A finalidade da vida não pode ser conseguida enquanto a pessoa não observar a virtude em sua vida.

A virtude são as Leis Universais. Aquele que não se comporta segundo as Leis Universais, tem que sofrer no mundo. A Natureza não pode converter sua natureza segundo nosso desejo. Nós temos que disciplinar nossos desejos segundo a Natureza. As leis não são nossos escravos; nós temos que seguir as leis da Natureza.

Na natureza nós temos dois níveis: o nível baixo e o nível alto, A ciência é um processo para vencer a natureza baixa e revelar a natureza alta. Amigos meus, assim como necessitamos da Física, ne­cessitamos da ciência interior também. Então temos as leis da vida. Estas leis da vida se chamam, em sânscrito, DHARMA, ou virtude. Temos que formar nossa vida segundo a virtude. Se ainda não está formada agora, temos que formá-la.

A Natureza da Disciplina

Quando dizemos que a pessoa tem que disciplinar sua vida, pron­tamente respondem:

- Nós temos que seguir nossa natureza!

Eu digo:

- Amigo meu, nesta época, quando nós aceitamos as leis da ciência, não podemos rechaçar as leis da virtude.

Por exemplo, construímos um tanque e temos um cano por onde recebemos água em casa. A ciência diz que a água busca seu nível. Assim, quando temos disciplina, a vida flui naturalmente, rega toda a sociedade e ajuda o homem em busca de seu nível alto, o nível da divindade, o nível da eternidade. E quando nós não temos este sistema disciplinado, então só gastamos nossa vida, nada mais. A água tem que fluir. Quando não temos um sistema, flui para baixo e quando temos o sistema, então sobe.

Assim, quando o ser humano não segue a disciplina apropriadamente, a vida flui, simplesmente flui, e não temos o poder de subir. E quando temos disciplina, a vida se eleva.

Aquele que não tem fé na virtude, tem interesse somente no dinheiro, na economia, nos prazeres sensuais; destrói sua vida e des­trói a vida da sociedade.

Comprando Roupas para Vender Nudez

Para que precisamos de dinheiro? Precisamos de dinheiro para manter a virtude de nossa natureza, nada mais.

Temos roupa para quê? Para preservar nosso corpo. Nosso corpo não pode tolerar muito calor, ou muito frio, por isso temos roupas. Atual­mente temos as roupas simplesmente para adornar nosso corpo, como nas grandes cidades de Nova York, Londres, Paris, onde as pessoas trabalham todo o dia nos escritórios e à tarde ou à noite vão aos magazines e compram roupas e vestidos. E que tipos de vestidos? Tão finos e transparentes que não cobrem a nudez das pessoas e nem protegem também.

Então eu pergunto a essas pessoas:

- Por que você queima seu sangue todo o dia? E por que compra estas roupas, estes vestidos? Se você quer andar nu, então para que roupas? Sem traba­lhar tanto, sem gastar em vestidos, você deve andar nu nas ruas como os animais. Por um lado trabalhamos bastante e por outro lado gastamos dinheiro somente para satisfazer os olhos de outras pessoas, nada mais.

O Malandro e sua Inteligência Burra

Ademais, quando usamos incorretamente nossa inteligência para ganhar dinheiro, temos problemas.

Na Índia há pessoas "muito inteli­gentes" ... antigamente, no tempo dos ingleses, dizia-se que eram "muito simples", mas agora diz-se "muito inteligentes".

Que tipo de inteligência é essa?

Por exemplo, uma pessoa vende leite. Agora tem "muita inteligência" porque antes de vender o leite põe água... e outra põe leite na água. Ambas ganham bastante dinheiro. Aquele que vende leite puro não ganha bastante dinheiro e aquele que vende leite adulterado, ganha. Depois, com este dinheiro vai comprar óleo.

E nesse momento encontra outra pessoa mais inteligente... esta pessoa mais inteligente adultera o óleo e também ganha muito dinhei­ro. Ambas ganham muito dinheiro mas a pessoa que vende o leite tem que comprar muito mais óleo e a que vende o óleo tem que comprar muito mais leite ... e depois de tomar leite e óleo, ambos têm que sofrer e têm que ir ao médico...

O médico é mais "inteli­gente" ainda do que os dois. Ele sabe que os pacientes não precisam de injeção. Mas os pacientes dizem:

- Doutor, eu preciso de uma inje­ção! - aprenderam a palavra injeção e têm que usá-la. O doutor sabe que não precisam, mas diz:

- Muito bem, eu vou dar a injeção – dá injeção de água pura e cobra muito caro.

Então, amigos meus, todos ganham dinheiro mas não ganham felicidade. Mais dinheiro e mais infelicidade, mais sofrimento, mais enfermidade! É a vida.

Dinheiro Bom

Quando o homem não segue as leis da virtude, a riqueza é um veneno, nada mais.

A riqueza pode ser usada correta ou incorretamente.

Temos muito dinheiro e temos várias televisões em nossa casa. E assim não podemos dormir apropriadamente. Eu disse no Rio de Janeiro, agora temos televisão mas não temos visão. Perdemos a visão e a vista todo o tempo.

Depois procuramos o Swami para consultar, dizendo:

- Eu não posso dormir, tenho intran­quilidade, tenho problema com meu estômago.

Eu digo:

- Amigo meu, isso é sua criação; é certo. É seu filho! Agora você tem que con­frontar seu filho.

- O Swami não pode fazer nada?

- Não, é seu problema; aquele que não tem dinheiro, não tem televisão, não perde a visão.

Aprenda a Gastar

Tratem de compreender.

Eu digo, amigos meus, antes de gastar seu dinheiro vocês têm que aprender as leis da virtude. O dinheiro não é a finalidade da vida, o dinheiro é somente um meio.

O telefone é muito bom.

Mas eu visitei uma casa no México e nessa casa havia um telefone no banheiro, outro na cozinha, outro na sala. Em suma, em todos os cômodos havia telefone. Quando você dorme e o telefone perturba seu sono, isso não é bom; e quando o telefone cria problemas, então é uma coisa ruim. Temos que compreender o uso do dinheiro, e o uso das coisas modernas.

As Três Necessidades da Vida

Temos desejos, muitos desejos. Por isso dispomos de ARTHA, KAMA, DHARMA, MOKSHA.

Dharma significa virtude, Arta significa econo­mia e Kama significa desejos. O homem tem muitos desejos e o desejo maior é a procriação. Quer procriar para quê? O homem sabe que este corpo não pode continuar eternamente, o corpo se destrói.

O ser humano não quer que seu Dharma se destrua com seu corpo; quer que depois da morte a virtude, a humanidade e a sociedade continuem a existir. Para esta finalidade o homem procria, é por isso que tem filhos.

Filhos, pra que tê-los?

Os filhos não são simplesmente um adorno na casa.

Eles são para cumprir o Dharma. E quando os pais não cumprem o Dharma ou a virtude, como os filhos podem cumpri-la?

Agora temos proble­mas na família; vocês sabem e sabem melhor do que eu. Os filhos dizem:

- Meus pais não valem nada.

E os pais dizem:

- Meus filhos são loucos, não valem nada.

Eu pergunto:

- Se os pais são loucos e os filhos são loucos, quem é inteligente? Todos são loucos, nada mais.

Amigos meus, os filhos têm de compreender que no futuro serão pais. Se os pais são loucos, os filhos de hoje vão tornar-se os loucos do futuro. Temos de compreender esta verdade.

Nenhum filho é eterno, nenhum pai é eterno. O pai de agora era filho anteriormente e o filho de hoje será pai no futuro.

Dividindo gerações

Não temos que dividir a sociedade em geração nova e geração velha. O que é nova? E o que é velha?

Não pode existir nenhuma coisa nova sem a existência de uma coisa velha; e nenhuma coisa pode continuar nova eternamente.

Assim sendo, não existe o passado absoluto, nem o futuro absoluto. Não existe juventude absoluta, nem velhice absoluta; temos de compreender a relação. De outra maneira toda a sociedade vai se destruir, vai se dividir. É uma verdade.

Abortando a Virtude

Para manter a virtude na sociedade, precisamos de filhos. Não temos que destruí-los, é certo. Quando os pais, as pessoas, procuram ca­da vez mais os prazeres sensuais, temos uma situação muito singular.

Amigos meus, eu tenho uma grande dor em meu coração! Chora­mos. Vocês sabem que em dez anos, no Vietnã morreram 70.000 ame­ricanos. Mas na cidade de Nova York, somente em um ano, temos mais de 500.000 casos de aborto. Vocês podem compreender - cada caso de aborto é a morte de uma pessoa. Quantas pessoas morrem cada ano, somente numa cidade! E temos muitas cidades no mundo. Então amigos meus, temos que compreender: a humanidade quer continuar!

Às vezes as pessoas dizem:

- Swami, você fala coisas muito reser­vadas e as pessoas não gostam.

Goste ou não goste, não é meu pro­blema, é seu problema. Eu não falo pelas pessoas sensuais, pela eco­nomia, falo pela Verdade.

Quando nós temos uma guerra no útero da mãe, temos guerra em todo o mundo! Uma criança no útero da mãe não pode dizer nada, não tem poder de protestar, não tem poder de gritar, de chorar.

Nós matamos e matamos em nome da superpo­pulação. E eu digo:

- Para que se tem tanta luxúria na vida? Para quê? Por que na televisão só temos tantas histórias de luxúria? Por que não disciplinamos a televisão, o cinema, a literatura? Criamos todo tempo a semente da luxúria na mente do homem, e depois dize­mos que o mundo tem superpopulação. Não queremos sacrificar, cru­cificar nossa luxúria.

- Swami, nós temos natureza! Que podemos fazer?

Sua luxúria é natural. E a vida do filho não é natural? Que tipo de argu­mento! Eu não compreendo.

Abortando os Velhos

Temos que disciplinar nossa vida, amigos meus. De outra maneira os filhos também podem dizer: por que exis­tem os pais velhos?

Numa ilha perto dos Estados Unidos nós assisti­mos a uma conferência, na qual estava presente um especialista que falava sobre o aborto e outras coisas. Uma menina de mais ou menos doze anos se levantou e perguntou:

- Doutor, eu quero saber por que para resolver o problema da superpopulação, meu irmão tem que sacrificar sua vida? E por que não, minha mãe? por que não minha mãe?

O especialista não pôde dar nenhuma resposta satisfatória.

Hoje as pessoas com oitenta anos também têm desejos de se casar. Mas quanto a filhos…

- Oh! Filhos eu não quero, simplesmente quero os prazeres.

É antinatural, isso é contra a natureza. E quando a humanidade age contra a natureza, a natureza tende a destruir a humanidade. É verdade!

Achando a Saída

Amigos meus, temos que pensar apropriadamente.

E quando temos a vida disciplinada, temos disciplinados nossos sentidos, nossa riqueza, nossos desejos, sem dúvida podemos conseguir a liberação verdadeira. Este caminho é o caminho da espiritualidade.

E sem dúvida nós pode­mos avançar neste caminho. Deus está conosco. Aquele que segue o caminho da Natureza segue o caminho de Deus e sem dúvida, recebe as bênçãos de Deus.

Com estas palavras agradeço a presença de vocês e agradeço ao presidente da Sociedade Teosófica, que nos convidou para falar com vocês.

Se Tornando um Cristo

OUVINTE

Swami, quem é mais evoluído, o animal ou o homem?

SWAMI

Sem dúvida o homem, até porque o animal nunca pergunta estas coisas. Aquele que tem o poder de perguntar, é mais evoluído.

OUVINTE

Temos de realizar a Verdade só por meio do samadhi ou por outros meios também?

SWAMI

Na verdade nós temos que seguir o Samadhi com os olhos abertos. O Samadhi não é um estado do qual nos aproximamos com os olhos fechados. Por exemplo, você viaja de trem. Seus olhos sentem que as árvores estão correndo, mas você não aceita. Nesse momento você não tem que fechar os olhos, não tem que tirar seus olhos, não tem que dormir. Com os olhos abertos você realiza a verdade que as árvores não se movem, somente move o trem. Assim, uma pessoa que passa pelo Samadhi, com os olhos fechados realiza que a Verdade Su­prema não pode se afetar com as coisas mundanas. Neste momento, com os olhos abertos também sente o mesmo efeito que tinha com os olhos fechados, compreende?

OUVINTE

Estou tentando raciocinar.

SWAMI

No princípio temos que meditar bastante, temos que reali­zar a Verdade e depois temos que aplicar esta sabedoria na vida prática.

Tomemos o exemplo de Cristo. No principio se batizou, depois passou pelo deserto e logo ascendeu à montanha.

A água sagrada é o Ser próprio. Como Cristo diz, o que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito, da água, é eterno. Esta água que vocês usam para batizar, representa o Ser mesmo. Então uma pessoa tem que entrar no Ser mesmo. Depois quando sobe encontra a consciência de Deus.

A seguir tem que se abster da vida sensual. É o deserto. Nesse momento, quando a pessoa tenta se abster da vida sensual, encontra muitas tentações. É certo. Estas tentações são os demônios que encontraram Cristo no deserto. E estes demônios tratam de dizer que "as rochas têm que se converter em pão".

O diabo diz que temos que converter todo o mundo em meios de prazer! E Cristo não aceita. Ainda o diabo mostra os reinos do mundo e Cristo também não aceita estes reinos.

Uma pessoa tem que transcender estas coisas. E tem que estar, per­manecer no pico da consciência, na superconsciência. E no pico da superconsciência a pessoa compreende que todo o mundo é Maya. Todo o mundo é simplesmente ilusão, somente Deus é Verdade.

E neste momento esta pessoa pode compreender os Sermões e pode dar os Sermões. Porque aquele que não tem autocontrole, não tem controle sobre sua mente, não pode compreender nunca os Ser­mões. Não pode.

Você é Cristão?

Nós falamos todo tempo:

- Somos seguidores de Cristo, de Buddha.

Falamos. Simplesmente falamos. Mas que diz Cristo? Cristo diz que aquele que olha uma mulher com desejo, já cometeu adultério. Temos ou não controle sobre nossos olhos? E quando não temos controle sobre nossos olhos, como é que somos seguidores de Cristo? Facilmente fala­mos, falamos, nada mais. É só para discutir, para lutar contra outros.

Quando um Swami vem, perguntamos:

- Você é cristão ou não?

E eu pergunto:

- Você é cristão ou não? Por favor, diga-me. Porque se você é cristão, é você quem tem que responder. É sua responsabilidade. Nos seus olhos Cristo está ou não presente quando você vê uma mu­lher? E quando não vê assim não é cristão, é outra coisa.

OUVINTE

É possível atingir este estado sendo casado?

SWAMI

Sim. Todos. Neste caso sua esposa e somente sua esposa é sua esposa. Na Índia diz-se que as mulheres de outras pessoas são como as próprias mães.

Então quando uma pessoa como eu ou Swami Jyothy diz “respeitáveis mães” as pessoas caçoam pensando: "que tipo de palavras".

Não compreendem que de fato estou sendo mais cristão do que vocês; eu não sou cristão, sou hinduísta, mas nesse caso, minhas palavras representam mais a filosofia cristã.

Temos de aprender a essência e não somente as coisas exteriores.

Deus e Eu

OUVINTE

Há caminho mais fácil que Atmavichara para conseguir a Realização?

SWAMI

Em qualquer caminho nós temos que pensar no Atma, no Ser próprio. Porque sem conhecer o Ser, a Si mesmo, nenhuma pes­soa pode compreender outras coisas. Quando nós não conhecemos o Ser mesmo, como podemos compreender outras coisas?

Atmavichara, ou pensamento no Atma, é a força da Verdade, a força da Realização.

Por isso Ramana Maharshi todo tempo insistia no pensamento do Ser mesmo.

Em muitas partes do Brasil eu disse que, um dia ou outro as pessoas têm dor de cabeça, ou têm fome. Mas ninguém pode com­preender a dor de cabeça fora de sua própria cabeça. Nenhuma pessoa pode compreender a fome fora de seu estômago.

Assim, Deus está em todas as partes mas nenhuma pessoa pode compreender Deus fora de sua própria existência, fora de sua consciência.

Merecimento não Conta

OUVINTE

Nosso Senhor Jesus Cristo disse o seguinte: um homem empregou diversas pessoas e uns trabalharam mais e outros menos e ele pagou a todos a mesma coisa. Aqueles que trabalharam mais se queixaram de receber a mesma coisa.

Então, Deus tem o poder de dar também para quem não merece?

SWAMI

Amigo meu, você pode compreender muito facilmente. Por exemplo, você tem um sonho, e no sonho está presente uma pessoa que trabalha por muito tempo e outra que trabalha por pouco tempo. Mas quando você desperta, ambas se dissolvem simultaneamente. Não existe mais diferença alguma entre a que trabalhava por muito tempo e a que trabalhava por pouco tempo, no sonho.

O Que é a Verdade?

OUVINTE

O Senhor me explicaria o que é a Verdade?

SWAMI

A Verdade não pode explicar-se, mas pode realizar-se.

Vamos outra vez ao exemplo do sonho. No sonho você tem a árvore ou a montanha, ou a mulher, um oceano, um homem, uma casa, todas as coisas.

Agora eu pergunto: você é a montanha? Não. Então sem sua própria existência o sonho não seria possível, nenhuma coisa no sonho é possível sem sua existência.

Agora eu pergunto: você é árvore? Não. Você é o homem do sonho? Não. Você é a mulher? Não.

Eu posso perguntar a vida toda, apesar disso você só tem que dar uma resposta: Não, não, não.

Eu canso de perguntar. Que tipo de homem você é? Eu pergunto e pergunto e você só diz não, não e não.

Não pode explicar sua existência própria? Não, não pode. Sem dúvida não se pode explicar a existência própria na terminologia do sonho.

Todo o mundo é um sonho: o sonho da Verdade, o sonho do Ser, o sonho de Deus.

Acordar para  Abrir os Olhos

Amigos meus, não podemos explicar a Verdade ou o Ser na terminologia do mundo. É um problema. Para explicar a Natu­reza (elevada) temos de despertar-nos.

Não temos outro caminho.

Embora possamos dar uma definição negativa, como por exemplo, que no mundo existe a morte e o Ser não é a morte. No mundo existe a não inteligência e o Ser é a inteligência. No mundo existe a miséria, não existe miséria no Ser.

Dizemos que o Ser é SAT CHIT ANANDA. Sat significa Verdade, Chit significa inteligência e Ananda significa Felicidade. Inteligência, Felicidade, Verdade é a definição da Verdade Suprema, nada mais.

Com estas palavras eu agradeço por sua presença e atenção.

OM SHANTI, SHANTI, SHANTI

OM PAZ, PAZ, PAZ.

Fonte: Jnana Mandiram





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