quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A Não-Resistência e a Fé em Si mesmo

Texto de Swami Vivekananda.
Em 27 de setembro de 1896.

DOIS CAMINHOS estão abertos para nós.

O caminho do ignorante que acha que somente há um caminho para a verdade e todo o resto está errado.

E o caminho do sábio que admite que, de acordo com nossa constituição mental ou os diferentes planos de existência nos quais estamos, o dever e a moralidade podem variar.

O ponto importante é saber que há gradações de dever e de moralidade, que o dever de um estado de vida, em um conjunto de circunstâncias, não é e não pode ser o mesmo de outro.

Não Resista ao Mal?

Para ilustrar, todos os grandes professores tem ensinado "não resista ao mal", que a não-resistência é o ideal moral mais elevado.

Todos sabemos que se um certo número de nós tentar colocar essa máxima completamente em prática, todo o tecido social cairá em pedaços, o homem perverso tomará posse de nossas propriedades e de nossas vidas, e fará o que quiser conosco.

Mesmo que essa não-resistência fosse praticada por apenas um dia, levaria a um desastre.

O Ideal Mais Elevado

Ainda assim, intuitivamente, no coração de nossos corações sentimos a verdade do ensinamento "não resista ao mal".

Isso nos parece ser o ideal mais elevado, ainda assim ensinar essa doutrina seria o equivalente a condenar uma vasta porção da humanidade.

E não somente isso, faria os homens se sentirem como se sempre estivessem fazendo algo errado, e causaria neles pesos de consciência em todas as suas ações, os enfraqueceria, e essa auto desaprovação daria nascimento a mais perversão do que qualquer outra fraqueza daria.

O portal da degeneração já está aberto para o homem que começa a odiar a si mesmo, e o mesmo é verdade para uma nação.

Não Odiar a Nós Próprios

Nosso primeiro dever é não odiar a nós próprios, porque para avançar nós devemos ter fé em nós próprios primeiro e então em Deus.

Aquele que não tem fé em si mesmo nunca poderá ter fé em Deus.

Por isso, a única alternativa que permanece para nós é reconhecer que o dever e a moralidade variam sob circunstâncias diferentes.

Não é como se o homem que resiste ao mal está sempre fazendo o que é errado em si mesmo, mas, de acordo com as diferentes circunstâncias nas quais é colocado, a resistência ao mal pode até mesmo se tornar o seu dever.

O “Pacífico” por preguiça

O extremo positivo e o extremo negativo são sempre similares. De natureza semelhante é a diferença entre a resistência e a não resistência.

Um homem não resiste porque é fraco, preguiçoso ou não tem capacidade, não porque não quer; outro homem sabe que ele pode desferir um golpe indefensável se quiser, mas abençoa seus inimigos.

Aquele que, por conta de sua fraqueza, não resiste ao mal comete um pecado, e assim não pode receber nenhum benefício da não-resistência.

Enquanto o outro cometeria um pecado se oferecesse resistência.

Renúncia Vazia

Buddha abandonou o seu trono e renunciou a sua posição, essa é a verdadeira renúncia, mas não pode haver nenhuma questão de renúncia no caso do mendigo que não tem nada a renunciar.

Então, devemos sempre ser cuidadosos sobre o que realmente queremos dizer quando falamos dessa não-resistência ou amor ideal. Devemos primeiro procurar entender se temos poder de resistência ou não. Daí, tendo poder, renunciamos a ele e não resistimos ao mal, assim estamos cometendo um grande ato de amor.

Mas se não podemos resistir e ainda assim, ao mesmo tempo, tentamos nos enganar acreditando que estamos atuando por conta do amor mais elevado, estamos fazendo exatamente o oposto.

Arjuna se tornou um covarde com a visão do poderoso exército diante dele, seu “amor” o fez esquecer seus deveres para com seu país e seu rei. É por isso que Shri Krishna lhe disse que era um hipócrita:

- Você fala como um sábio, mas suas ações o traem e fazem de você  um covarde, por isso levante e lute!

Resistir ao Mal

O Yogi é o homem que entende que o ideal mais elevado é a não-resistência, mas também sabe que essa não-resistência é a manifestação de poder mais elevada que se possui realmente, e também que o que é chamado de resistir ao mal é apenas uma etapa no caminho de manifestação desse poder mais elevado, isto é, não-resistência.

Antes de alcançar esse ideal mais elevado, o dever do homem é resistir ao mal. Somente quando ganhar poder de resistir, a não-resistência será uma virtude.





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