domingo, 1 de setembro de 2013

A Mente Universal

Texto de SWAMI TILAK.

ESTA MANHÃ, na Universidade de Brasília, eu tratei de explicar como a nossa mente cria as coisas no mundo.

Por exemplo: temos uma mesa ou cadeira. Aparentemente todos têm razão de aceitar a existência da mesa. Mas quando pomos esta mesa em frente a um microscópio poderoso, a mesa desaparece e em seu lugar aparece um conjunto de átomos.

E quando pomos os átomos em frente de outro microscópio mais poderoso, os átomos também desaparecem e temos elétrons, prótons e nêutrons. E depois tudo se dissolve no oceano da energia.

Então, o mundo da forma é uma criação da limitação de nossa visão. Necessitamos da visão. Necessitamos da visão ampliada para nos liberar das formas porque nossa mente está cativada por elas.

Um artista diz:

- Esta coisa é muito bela!

E outra pessoa diz:

- Esta coisa é muito boa para comer!

Por exemplo: temos uma maçã. Então um artista trata de pintar a maçã maravilhosamente, mas outra criatura quer comê-la. Então, onde existe a beleza?

Uma mulher é muito bela, mas quando um leão se encontra com esta mulher não quer apreciar sua beleza, quer comer. Para o homem, a mulher é bela, mas para o leão, não. Então, onde existe a beleza? Não existe na mulher. Existe na mente.

A beleza não é nenhuma coisa eterna ou permanente.

É somente uma coisa transitória. Quando uma pessoa pode controlar sua mente, pode ver a beleza em qualquer coisa ou pode liberar-se de qualquer coisa.

Neste sentido uma pessoa que tem controle sobre sua mente pode ser o todo, e o todo é o universo.

Uma pessoa sem controle sobre sua mente é um escravo do mundo e uma pessoa com controle mental é dono de todo o universo.

Um Paraíso Sem Valor

Uma vez o Senhor Buddha observou que seu discípulo não podia meditar apropriadamente. E lhe perguntou:

- Filho meu, por que você não medita?

O discípulo respondeu:

- Senhor, eu quero meditar, mas quando trato de fazê-lo, aparece o rosto de minha esposa. Então a beleza de minha esposa agita minha mente e não posso meditar em Deus, somente medito na beleza de minha mulher. É um problema.

O Senhor Buddha pôs a mão na cabeça do seu discípulo e perguntou:

- Agora o que vê?

- Senhor, agora eu vejo o Paraíso.

- E o que vê mais no Paraíso?

- Eu vejo o Paraíso cheio de mulheres.

Como nossa mente é, o Paraíso é.

O Paraíso é um reflexo de nossa atitude, de nossa mente. Podemos dizer que uma pessoa trata de chegar ao Paraíso para realizar seus desejos mundanos em sua perfeição, nada mais.

No mundo não tem juventude permanente, então imagina a juventude permanente no Paraíso. No mundo a gente morre, então imagina a vida eterna no Paraíso.

Então, o Paraíso é outro nome do mundo perfeito, nada mais. E todo mundo é uma criação de nossos desejos. Por isto temos que controlar nossos desejos.

Formando o Mundo

Temos de analisar apropriadamente como nós percebemos o mundo, como tratamos de formar o mundo em nossa mente. Como eu disse antes, o mundo existe com as coisas várias, com muita variedade.

Então existe todo mundo. Aqui por exemplo, que tipo de mundo temos?

No tempo antigo, os pensadores diziam que o mundo se formava de cinco elementos. Estes elementos eram a terra, a água, o fogo, o ar e o éter. Agora os cientistas dizem que na realidade não existem estes elementos porque por sua vez, eles são compostos por outros elementos.

Então temos uma lista de mais de 100 (cem) elementos.

Segundo minha opinião humilde, estes elementos também não são elementos, porque cada elemento é formado por átomos, e os átomos podem ser divididos, apesar de que a definição de átomo é uma coisa indivisível. Mas o átomo é divisível. Então, o elemento do conceito moderno também não é elemento.

Os Quatro Elementos

Mas quando tratamos de compreender profundamente os elementos do conceito antigo, não fica nenhuma dúvida de que na realidade estes elementos são elementos.

  • A terra é um tipo de solidez,
  • a água é um símbolo da liquidez,
  • o fogo é um símbolo da aparência da energia como luz,
  • o ar é um símbolo do gás e o éter o símbolo do espaço.

E toda vida, toda existência, todo universo está formado destes elementos. Uma coisa é sólida, ou líquida, ou em forma de energia, ou em forma gasosa ou em forma de espaço. Não existe sexta forma no mundo.

Então necessitamos de cinco sentidos para referir os cinco elementos.

Por exemplo: para captar a luz necessitamos dos olhos. Cada sentido capta um tipo de elemento. Temos cinco sentidos de cognição e cinco sentidos de ação. Os sentidos de cognição são os olhos, olfato, tato, gosto e ouvidos. Os sentidos de ação são as mãos, pés, os dois órgãos privados e a voz.

Estes sentidos de cognição e os de ação estão relacionados invariavelmente. Por exemplo, quando vemos fogo ou incêndio em algum lugar, imediatamente gritamos: Incêndio! Incêndio! E nossos pés começam a correr até o fogo e nossas mãos tratam de pôr água no fogo.

O olho é um sentido de cognição, enquanto a voz é um sentido de ação; o pé é outro sentido de ação. Então necessitamos de um centro onde se juntem os sentidos de ação e os de cognição. Este centro se chama mente.

Há então 5 (cinco) elementos e depois 5 (cinco) sentidos de cognição e 5 (cinco) sentidos de ação e temos a mente.

A mente é como um receptor e transmissor juntamente. A mente recebe o mundo exterior e transmite as informações ao mundo interior, porque o mundo interior e o mundo exte_rior têm que se juntar para fazer a vida possível.

A Mente

A mente recebe as coisas como aparentemente parecem.

E depois temos o intelecto. Intelecto tem a função ou faculdade de discernir, porque somente os animais aceitam as coisas como parecem. Mas o homem sempre trata de discernir.

Por exemplo, às vezes temos as imagens que parecem com uma pessoa. Às vezes a gente tem uma grande confusão.

Vê a imagem de uma mulher e pensa que é uma mulher ou vê uma mulher e pensa que é uma imagem.

Como a pessoa pode diferenciar entre a mulher e a imagem? Usando seu intelecto, seu discernimento. Temos que discernir apropriadamente para saber o que é verdade e o que não é verdade. Então é intelecto.

E depois também temos problema. Uma pessoa discerne de uma maneira e outra pessoa discerne de outra maneira.

Por exemplo, há uma pessoa. Eu quero amá-la e outro quer odiá-la. A pessoa é a mesma. A atitude nossa é diferente em relação a essa pessoa.

De onde vem esta diferença? Vem do ego. Então o ego está além do intelecto.

Os Três Atributos e o Ego

E, amigos meus, segundo a Filosofia Yóguica, o Ego se forma de três atributos que se chamam em sânscrito: satva, rajas e tamas.

Em realidade, o atributo é atividade condensada, nada mais.

Como tratei de explicar antes, o elétron é somente energia ou partícula carregada com a energia negativa; próton é uma partícula carregada com eletricidade ou energia positiva e nêutron é uma partícula carregada com a energia neutra.

Então, a energia concentrada ou condensada nos parece como atributos. E estes atributos formam o nosso Ego.

Amigos meus, todos os seres têm sua personalidade e sua personalidade, em realidade, é seu Ego. E este Ego se forma de três atributos.

Vocês podem me perguntar como três atributos formam tantas personalidades. A resposta é que todo mundo tem o mesmo processo.

Por exemplo, temos somente três partículas em todos os átomos, mas a combinação e permutação de três atributos faz a diferença entre um e outro átomo.

A Mente Universal

E mais além destes atributos existe a Mente Universal.

Nesta Mente Universal existe todo passado, todo presente e todo futuro. Por exemplo, em nossa mente, na mente de um autor, existe todo o livro antes de ser escrito. Então aqui comigo um livro. Este livro, antes de sua publicação, estava na mente de seu autor. Isto que significa? Que o passado, o presente, tudo está na Mente Universal, que é a Mente de Deus.

E todas as mentes individuais estão ligadas com a Mente Universal.

Como, por exemplo, temos muitos poços e em cada poço existe a água. Mas nenhum poço tem especialmente a água que é a propriedade de um outro poço, porque a água no poço está relacionada com a água da terra. Então a água da terra esta se manifestando num ou noutro poço. Assim nossa mente individual está relacionada com a Mente Universal.

E mais além da Mente Universal existe a Natureza. Natureza é o equilíbrio de todos os atributos.

E mais além da Natureza existe o Ser. Sem o Ser a Natureza não pode fazer nada. A natureza é como um instrumento, mas o Ser é a fonte de energia. Toda a força existe no Ser. Nenhum corpo pode fazer nada sem ter o Ser, a força do ser.

Amigos meus, temos um ventilador, por exemplo.

E quando nele ponho meu dedo, imediatamente o mesmo se corta. Agora, quem é responsável, pergunto, quem é responsável? O ventilador? Quando dizemos que o ventilador é responsável, ele diz:

- Eu não me movo sem a eletricidade.

E quando dizemos que a eletricidade é responsável, ela responde:

- Eu não sou responsável. Eu estou na lâmpada também e a lâmpada não corta ninguém.

Então a Natureza do ventilador é responsável. Que é a natureza do ventilador? Sua forma? Seus atributos? Sua matéria?

Por exemplo, o ventilador é feito com ferro, mas a cadeira também é feita com o mesmo ferro. A cadeira não corta a ninguém. Então o ferro não é responsável pelo cortar. Somente a forma é responsável. E a forma não tem nenhuma validade.

Os Atributos Agem

Uma faca corta um pedaço de ferro. Agora diga-me: quem está cortando quem? A faca é ferro e o pedaço de ferro também é ferro. Antes de ser cortado era ferro e depois de cortado é ferro.

Então, não podemos dizer que o ferro está cortando o ferro não cortado. É um grande problema. Então a resposta é que um atributo está atuando em outro atributo.

E imediatamente, por ignorância, uma pessoa coberta de ego pensa que está atuando. Na realidade, o Ser não está atuando. Somente o corpo por sua natureza está atuando.

Por isso, pelo poder do Ser, os olhos atuam segundo sua natureza. Eu estou presente nos olhos e também estou presente no dedo do pé e no ouvido. Minha presença, meu poder, fazem os olhos ver segundo sua natureza e os ouvidos ouvir também segundo sua natureza.

Então o ser é somente um poder que faz todo o universo atuar. Mas o resultado da ação é uma coisa relacionada com os atributos da natureza. O ser não é fantasma.

Agora, amigos meus, esta noite é um momento de resolver o problema. Que é problema? A mente apegada com estas coisas sofre terrivelmente. E a mente quando se dissolve no ser, no Espírito, não tem nenhum problema.

A Morte

Eu dei um exemplo.

Uma pessoa teve um sonho (os cientistas dizem que o homem não pode viver sem sonhos). E no sonho o sonhador viu um leão que o perseguia. Imediatamente correu para buscar um rifle ou um lugar para se esconder. Infelizmente não podia conseguir nem o rifle nem o lugar para se esconder. Agora tinha um grande medo. Estava gritando, chorando. Não havia nenhuma esperança para salvar sua vida.

Nesse momento despertou. Agora não havia nenhum leão, tampouco necessitava de nenhum rifle ou lugar para se esconder.

Amigos meus, o leão da morte nos persegue incessantemente. Queremos ir a um lado ou outro lado. Queremos entrar neste ou em outro mundo. A gente está dizendo que nos outros planetas existem outros seres e eles vão visitar a terra em seus aviões ou discos maravilhosos.

Eu digo: Amigo meu! Neste ou noutro planeta você tem que morrer. Não há nenhum planeta, tampouco instrumento que possa fazer um homem imortal. Não é possível. Os poderosos têm que morrer. Os inteligentes têm que morrer. O corpo tem que mudar em qualquer condição. Amigos meus! O nascimento é a morte.

Nossa juventude se fixa na tumba da nossa infância e nossa juventude tem de se converter na tumba de nossa velhice. Então tudo é o mesmo. O corpo é tumba, tumba e tumba, nada mais. Antes de nascer, o corpo já está destinado para morrer. A vida e a morte estão incessantemente lutando, lutando.

Agora temos que decidir: vivemos ou não vivemos? Antes da morte, vivemos. A morte não pode matar-nos, não pode. A morte não tem nenhum poder de destruir o Ser. O Ser é eterno. Então, quando uma pessoa está desperta no conhecimento do Ser, imediatamente o medo da morte termina.

Meditação

Amigos meus, aqui temos que fazer algo. Temos que transcender tudo, temos que chegar até o Espírito. Por isso necessitamos da Meditação. Meditação é o processo de concentrar num ponto e depois transcender este ponto.

Por isso digo, há dois tipos de meditação - um tipo de meditação é expansão da consciência e outro tipo é contração da consciência.

Quando a consciência se estende mais e mais e assim não tem nenhum limite e assim é infinita, nesse momento não existe nenhum problema. E quando contrai a mente e se fixa em um ponto, neste momento também o ponto se dissolve no oceano do infinito. Porque não há nenhuma diferença entre o infinito e o ponto. O ponto é um na relação de outros pontos.

E o infinito, o que é? A existência sem ponto. É a realidade, nada mais. Então podemos seguir qualquer caminho.

No Japão, por exemplo, havia um lutador que tinha muito poder, mas não conseguia vencer seus adversários.

Um dia ele disse a um santo:

- Eu sei que tenho muito poder, mas não posso vencer ao meu adversário. Que posso fazer?

O santo lhe respondeu:

- Filho meu, deve sentar-se no Templo, na escuridão da noite e deve sentir que está identificado com seu corpo completamente. Depois seu corpo está expandindo. Então vai incluir toda imagem, toda parede do templo, toda cidade, todo país, todas as montanhas, rios, oceanos, depois todas estrelas, luas, incluí-los todos dentro de si mesmo. E depois irá transcender tudo. Neste momento vai ter uma alegria, uma bem-aventurança única.

No dia seguinte, o lutador fez como o santo ensinou e depois, no outro dia, lutou com seus adversários e pôde vencê-los. Então se pode conseguir muita energia, muita vontade com a meditação profunda.

Uma pessoa necessita de autoconfiança. Sem autoconfiança e sem vontade, que pode fazer uma pessoa no mundo ou no céu? Necessitamos dessa autoconfiança. E ela vem com a meditação profunda.

Outro tipo de meditação também existe. Uma pessoa pode ter uma imagem de Cristo ou Buddha ou qualquer Deus ou Deusa em que acredite.

E depois deve olhar bem esta imagem.

Quando os olhos estiverem cansados, deve fechá-los e visualizar a mesma imagem na mente. E quando uma pessoa pode visualizá-la sem ajuda da imagem exterior, não mais necessita dela.

Depois tem que reduzir a imagem.

Por exemplo, a princípio a imagem de Cristo completa, depois reduzir mais e mais até que fique nada mais que o coração de Cristo. E depois temos que sentir no Coração de Cristo, a pulsação. E depois temos que sentir a causa da pulsação porque o coração do coração está no ser Eterno.

Então, desta maneira vamos ter uma luz muito forte.

Qualquer imagem necessita de duas coisas: luz e sombra. Sem luz e sem sombra não podemos ter nenhuma imagem. E quando se tira a sombra se deixa somente a luz. Então a mente está cheia de luz muito forte. E quando nossa mente está cheia dessa luz forte, todos os problemas se resolvem.

Temos que meditar apropriadamente.

O problema é que nós não usamos a nossa mente como queremos. Como disse esta manhã na Universidade de Brasília, quando os alunos estão na classe, pensam no cinema e quando estão no cinema, pensam nas aulas.

É um problema.

Pela meditação nós podemos deter a mente onde estamos. Quando uma pessoa medita apropriadamente, libera-se de todos os problemas.

Que todos sejam felizes, que ninguém seja infeliz, que todos tenham boa sorte!

OM SHANTI, SHANTI, SHANTI

OM PAZ, PAZ, PAZ

Fonte: Jnana Mandiram.





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