terça-feira, 26 de novembro de 2013

Verdadeira Caridade

Texto de Nolini Kanta Gupta.

Nolini Kanta Gupta

A CARIDADE, como é geralmente entendida, consiste em prestar auxílio material aos semelhantes, dar esmolas aos pobres, remédios aos doentes, dinheiro ou bens materiais àqueles que necessitam deles e também trabalho físico onde for exigido. Tudo isto é bom e bem. O mundo está repleto de doenças e privações e calamidades. E se algo for feito que possa aliviá-lo, está tudo certo, e atividades nessa direção merecem total encorajamento.

Mas isto não leva muito longe, não toca a raiz do problema. Essa é a maneira humana de lidar com as coisas e portanto, muito limitada em seu campo de ação e eficiência. Há uma forma mais elevada e mais divina — o caminho do espírito — para a cura dos males terrenos, cura e não meramente alívio.

Esta era a inspiração secreta por trás da mensagem de Cristo e de Buda.

Infelicidade e Condições Materiais

Não é verdade que, quando nossas necessidades são resolvidas, ficamos ou continuamos sempre felizes; nem todos os pobres são infelizes, nem são os ricos invariavelmente felizes.

Felicidade é uma qualidade que depende de algo mais e vem de algum outro lugar: não é diretamente proporcional ao bem-estar material. Também a infelicidade é uma entidade psicológica, e consiste de uma vibração especial da mente e da vitalidade — e consequentemente do ser físico — devido a uma deformação da própria consciência, no âmago da personalidade interior.

Privação Material é Sintoma

As condições materiais servem apenas para manifestá-la, mantê-la ou agravá-la, mas não a criam na verdade, são criadas por ela.

É por isso que os curadores espirituais sempre se referem à bem-aventurança do espírito como único remédio para os males físicos, até para a doença, a miséria e a morte. E os infelizes mortais são sempre chamados para voltar-se apenas para o Divino em suas aflições — bhajasva mam.

Caridade de Verdade

A verdadeira caridade consiste em colocar o bálsamo curador sobre a chaga que está escondida por trás de todas as misérias externas, que derivam daquela fonte e sustentáculo.

E ela é posse exclusiva apenas daquele que encontrou a bem-aventurança do espírito, e vive sempre nela. Uma pessoa assim não requer acessórios externos para seu trabalho de cura e conforto. Ele não precisa fazer nada, aparentemente, pode mesmo parecer distante e indiferente. Mas sua própria presença é um poder curador; o paciente sente-a e surpreende-se com a calma e a felicidade que lhe vem como se fosse do nada.

Médico de Verdade

Muitos médicos têm esta espécie de poder curador; na verdade, sem isso, um simples médico, com sua farmacopeia, não é um médico. Pode não ser bem conhecido nem reconhecido, mas é um fato que uma boa parte da eficácia dos remédios está na influência sutil, na saúde vital que o médico adiciona a seu remédio ou mesmo diretamente ao corpo do paciente.

E no caso de um Bhishak (médico) espiritual, o poder pode ser aumentado ao grau infinito. O curador não precisa nem mesmo estar presente fisicamente, perto do paciente, porque sua influência pode muito bem agir à distância. É bastante natural e compreensível que seja assim.

O Poder de Curar

O poder curador está na consciência espiritual, na felicidade inalienável do próprio status no Espírito. Ele se torna identificado com todo objeto, pessoa ou coisa, dentro de seu próprio eu, no verdadeiro ser e substância; e a luz e a felicidade que ele possui transferem-se num fluxo espontâneo para outros que não são realmente outros, mas partes e porções integrais do mesmo eu.

Esta condição é alcançada, completa e soberanamente, quando há ausência absoluta de ego, quando não há consciência de uma pessoa separada, a dual consciência do que ajuda e do ajudado, o reformador e o reformado, o médico e o paciente. O senso humano normal dos valores é baseado nessa divisão, no egoísmo, mamatvam.

Piedade Perigosa

Um filantropo ajuda outros através de um sentido de simpatia, dando margem a um sentimento de dever e obrigação. Este sentimento de piedade, de comiseração, é perigoso pois o coloca numa disposição de mente que tende fazê-lo olhar de cima, a assumir um ar de superioridade em relação a seu objeto de piedade.

Você torna-se autoconsciente, com a consciência de seu eu inferior, pensando estar ajudando os outros, estar fazendo bem ao mundo, fazendo algo que aumenta seu valor; este sentido de mérito pessoal é apenas um outro nome para vaidade.

Empatia e Simpatia

Vaidade e ambição são os poderes que motivam e que estão por trás do espírito filantrópico nascido da simpatia.

Para indicar uma nuance de sentido diferente daquele que é usual mente expresso pela palavra "simpatia", a psicologia moderna achou uma outra palavra —"empatia".

Pode-se dizer que simpatia seja a relação ou contato entre dois egos; é um vínculo ou ponte entre duas entidades separadas e independentes.

Empatia, por outro lado, significa penetrar no próprio ser e consciência do outro, tornando-se aquele outro; é identificação e identidade e somente a consciência espiritual pode fazê-lo.

Simpatia leva à filantropia, empatia é a origem da verdadeira caridade, a compaixão espiritual de um Buda ou de um Cristo. Filantropia é humana, caridade (caritas) é divina.





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