terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A Vida e a Cultura

Texto de SWAMI TILAK.

A VIDA É como uma árvore muito grande. Esta árvore tem seu DHARMA - lei, virtude, força - como raiz, tem ARTHA ou riqueza como tronco, KAMA ou desejo como ramos e MOKSHA ou salvação como seus frutos.

Na realidade esta árvore da Vida tem que se regar e tem que crescer apropriadamente. A cultura de um país ajuda a árvore da vida na sua manifestação.

Agora, por exemplo, nós estamos neste lugar, no Insti­tuto Cultural Peruano-Japonês, que representa uma união de culturas de dois países: a cultura do Peru e a cultura do Japão. Na realidade, uma terceira cultura também está pre­sente, nós, os Swamis, representamos a Cultura da Índia.

A Cultura antiga do Peru tem sua característica Espiritual e o Japão representa o país do Sol Nascente. As pessoas no Japão acreditam que toda a humanidade cresceu no Japão e que toda a civilização manifestou-se no Japão. De igual modo, as pessoas na Índia também acreditam que a Índia é o berço da civilização. Isso significa que todo o mundo tem desejo de avançar no campo da cultura e da civilização segundo sua natureza.

Princípios da Vida

Todas as culturas têm o direito de desenvolver-se. Por isso temos que buscar os princípios da vida que formam a base de todas as civilizações. São esses Princípios que for­mam o fundamento de todas as civilizações, de todas as cul­turas.

Cada sociedade vive para realizar quatro fins. Em sâns­crito, "quatro fins" é "PURUSHA ARTHA". Purusha signi­fica "o Homem" e Artha, neste caso, "o fim","o significado".

Por que trabalha sempre o homem? Para que vive o homem neste mundo?

Há quatro finalidades, desígnios. A pessoa enquanto vive, cumpre as leis divinas da vida. Ninguém pode viver contra as leis da vida. A ciência pode chamá-las de leis naturais, mas, na verdade, a Divindade e a Natureza não são duas coisas diferentes. A "natureza" que contraria a Divindade não é natureza real e a “divindade” que é contrária à Natureza não pode ter continuidade. Então, em nossa Natu­reza, temos que buscar a Divindade e, na Divindade, temos que estabelecer nossa Natureza!

Karma e Dharma

Com referência a isto há duas palavras em sânscrito que são: DHARMA e KARMA. Karma (ação) é da natureza e Dharma, do divino. Quando nossas ações sucedem segundo as leis divinas, significa que são ações segundo o dharma.

Às vezes encontramos pessoas que somente falam sobre dharma, sobre divindade, mas que nunca agem segundo a virtude. Essas são hipócritas. Outras, agem sem pensar se­quer na virtude; em verdade, essas pessoas criam confusão e constituem o atraso da sociedade. Não necessitamos de hipo­crisia nem tampouco necessitamos de atrocidade; necessita­mos sim de virtude, equilíbrio, tranquilidade.

Quando se fala sobre virtude, há pessoas que replicam dizendo:

- Nós só que­remos seguir nossa natureza.

Quando um Santo diz:

- Filho meu, você deve observar o auto-controle em sua vida, deve manter um progressivo celibato.

Logo as pessoas respon­dem:

- Não! Nós seguimos nossa natureza.

Na realidade há dois tipos de natureza: natureza baixa e natureza alta. A natureza baixa consegue sua expressão na animalidade. Necessitamos de samskara ou modificação da natureza baixa. Não podemos aceitar as coisas tal como existem e ficar imunes. Quando nos vestimos, não é a natu­reza a que nos proporciona vestidos. Nenhuma árvore há que produza vestidos nem minas que produzam máquinas. A máquina é uma forma modificada dos metais que existem na terra. Sendo assim, a humanidade que aceita a modifica­ção dos metais, nenhum direito tem de negar ou recusar a modificação da natureza do homem.

A Permissão da Natureza

Todas as universi­dades, todos os colégios, todas as escolas existem simples­mente para modificar a natureza humana!

A modificação da natureza consiste, sem dúvida, em melhorar a natureza. Mas nenhuma modificação é possível sem a permissão da natureza. Não se pode derreter o ferro contra a natureza do ferro. Quer dizer então que o poder de derreter-se é intrínseco à natureza do próprio ferro.

A água pode fluir, é sua natureza; e tanto pode fluir para baixo como para cima também. Assim, quando usamos tubulações, a água flui e trata de buscar seu nível. Igualmente existe o recipiente da Divindade, de Deus, de onde provém o homem que com tubulações da Divindade, Virtude, do Dharma, toda religião, civilização, cultura, personalidade, sociedade, enfim tudo, fluem e tratam de buscar seu nível mais alto. Assim sendo, a Virtude tem sua importância, sua significa­ção no mundo.

Leis Universais

Nada nem ninguém pode existir contra as leis universais.

É de se admirar que sigamos estritamente as leis no campo da física, da química, da matemática, mas que não tenhamos muito desejo de seguir as leis no campo da Vir­tude. Ninguém se rebela contra as leis físicas porque sabe que não se pode lutar contra elas. Sabemos que não deve­mos tocar a eletricidade e se a tocamos teremos um choque e já não a tocaremos pela segunda vez. Assim, também, exis­tem as leis da vida que uma vez cumpridas pode-se viver adequadamente. Se não se cumpre sobrevém a destruição inevitável.

Os sentidos muitas vezes tratam de enganar-nos e en­tão não percebemos o que é bom para nós e o que é ruim.

Jovens e Velhos

Atualmente há diferença de opiniões entre jovens e as pes­soas de certa idade. Há uma grande e contínua luta entre eles. Porquê? Isso é devido ao fato de que o jovem tem energia e não tem experiência e os velhos têm experiência e não têm energia.

Então, a juventude é como o cego que tem os pés fortes, mas não tem olhos e os velhos têm olhos mas não têm pés fortes. Por isso necessitamos que os idosos se situem na juventude, para poder sentir os jovens. Não mais seria necessária luta alguma, já que ambos se comple­mentariam.

Cada jovem deve compreender que ele também tem que tornar-se velho e cada velho deve compreender que foi um jovem. Sem passar pela juventude, ninguém pode tornar-se velho. Então, quando os idosos esquecem de seu passado, eles têm orgulho e os jovens que não compreendem toda a extensão da vida, crêem que sabem tudo. Falo frequen­temente com os jovens e às vezes eles dizem que seus pais são ignorantes e que não sabem nada. Assim ele pensam, e então eu lhes digo:

- Amigos meus, vocês devem preparar-se para escutar as mesmas palavras de seus próprios filhos em sua velhice.

Neste momento você diz que seu pai e mãe são ignorantes, mas depois seus filhos também dirão "meu pai é ignorante" e assim sucessivamente. Então se trata só da multiplicação da ignorância... Suponhamos que ante­riormente meu avô tivesse uma ignorância e que meu pai então tivesse duas ignorâncias e que depois eu terei três e logo mais, continuando o processo, meus filhos terão quatro ignorâncias! Então, toda a humanidade aproxima-se, se­gundo nos parece, à totalidade da ignorância! Muito embo­ra as pessoas digam que "nós estamos evoluindo". Mas que classe de evolução é essa? É natural que necessitemos da evolução; mas devemos evoluir com integridade.

Os Antepassados

Um grande Santo e Sábio disse:

- Eu sou mais alto que meu pai.

O estudante perguntou o porquê.

- Porque estou nos ombros de meu pai.

Quando uma criança senta nos ombros de seu pai, parece muito alta, não? Muito alta, mas não deve se esquecer que está sobre os ombros de seu pai.

Na realidade, temos grande dívida para com nossos an­tepassados. Nossa inteligência no presente é o resultado dos esforços feitos por eles.

Amigos meus, quando a humanidade esquece da grati­dão para com seus antepassados, então abre as porta de sua própria destruição! Criamos o conflito entre uma e outra parte da sociedade e então só se ouve falar, e muito, sobre os conflitos diversos.

Sabemos que há muitos tipos de con­flitos. Mas para aprender sobre conflitos não necessitamos de homens, podemos aprender dos macacos e cães. Facil­mente eles lutam. Se houver um pedaço de pão e quatro ou cinco cães, eles lutarão encarniçadamente.

Homens e Macacos

Agora, o ser hu­mano tem que aprender que não somos sucessores dos ma­cacos. Talvez Darwin assim o acreditasse, mas esse é um problema dele, não é meu problema, porque eu não aceito essa teoria.

Agora a ciência cada vez mais demonstra que essa teoria não tem muito fundamento, porque os antropó­logos estão encontrando crânios de homens que existiram há milhões de anos e também acharam crânios de animais dessas épocas, mas nenhuma semelhança há entre eles.

Então a teoria de que o homem é sucessor do macaco, em minha opinião, não tem muita razão de ser e não seguirei falando dessa teoria; neste momento tenho mais urgência em dizer que o homem está aqui para resolver o conflito; não para criá-lo.

O conflito visível está na percepção sensória da natureza baixa; temos que eliminar este conflito para poder seguir à natureza alta. Na natureza alta não há conflito al­gum; há sim, sacrifício.

Sem a Sabedoria do Ser, sempre estaremos a ver o conflito. Mas quando temos a Visão da Verdade eterna, o conflito se converte no Sacrifício mútuo. Porque assim como a infância se sacrifica para poder trans­formar-se em juventude e a juventude se sacrifica transfor­mando-se em velhice, assim também, todas as pessoas na sociedade sacrificam-se para que essa sociedade cresça.

Fins e Meios

Por exemplo, eu tenho cabeça, pés, braços, estômago, etc. e sem dúvida há um lugar para cada órgão diferente, mas todos estão para servir-me. Em realidade nenhum órgão tem im­portância alguma sem minha existência.

Então, os órgãos não são o fim, são o meio. Assim sendo todas as pessoas na sociedade, em todo mundo, devem simultaneamente viver para a humanidade.

Amigos meus, os pés estão lá embaixo e a cabeça está muito alta, não é? Mas quando se trata de algum apuro, a cabeça não pode correr, nem resolver nada. Nesse mo­mento, os pés correm e os braços tratam de proteger a cabeça. Quando há dor no estômago, o estômago não grita, grita a boca. Quando se introduz um espinho na planta do meu pé, a cabeça não pode tirá-lo, são meus dedos da mão que o tira. Igualmente há muitas categorias de pessoas na sociedade. Todas as pessoas devem dar-se conta que existem para servir à causa de toda a humanidade. Então, todas as pessoas complementam-se.

A Sociedade e o Homem

Há dois tipos de sociedade no mundo: uma diz que o homem é para a sociedade e a outra diz que a sociedade é para o homem. Mas em verdade, ambos estão relacionados. Não queremos ver o homem como escravo da sociedade nem queremos ver uma sociedade em que o homem seja egoísta. Queremos uma sociedade que seja como meu Eu. Toda a humanidade deve ter uma idéia total da Vida, incluindo a vida do passado e do futuro também.

Amigos meus, a hu­manidade não significa só as pessoas que existem agora; a humanidade está relacionada com as pessoas que existiram no passado e que existirão no futuro. Quando a humanidade começa a pensar exclusivamente nos homens que existem neste momento, essa humanidade se faz egoísta e começa a destruir-se!

Então o sacrifício constante é necessário para viver. Nenhuma vida é possível sem o sacrifício constante. A isto se denomina, em sânscrito, YAJÑA. É como a corrente elétrica, que por ser constante produz a luz... e se não fluísse não poderíamos ter luz. Do mesmo modo, o tempo corre. Devemos seguir a natureza da vida e, para poder ter a "continuidade" dessa vida, o sacrifício se faz necessário.

Assim sendo, digo que a vida é uma árvore e a virtude sua raiz. Sem raiz nenhuma árvore pode viver e a árvore tem que produzir frutos também. Se encontrássemos uma árvore sem raízes e sem frutos, que tipo de árvore seria essa? Apenas um tronco que se poderia queimar e queimar tudo a seu redor. A salvação, liberação ou realização do Espírito é o Fruto da vida! As leis divinas são as raízes dela.

A Economia

Quando nós ignoramos as leis, acontecem duas coisas: toda a humanidade se queima, cada pessoa se queima e quei­ma a outros. Podemos verificar isto em qualquer tempo e em qualquer classe de sociedade. Então, devemos ponderar sobre a necessidade da riqueza, sobre a utilidade da economia. A economia por si mesma nenhum fim teria. A humanidade está além da riqueza.

Na Califórnia, um professor de economia disse-me:

- O senhor fala sobre Espiritualidade, Swami, mas na minha opinião, a economia é mais importante.

Amigos meus, sem dúvida a economia é importante, e muito; mas ninguém pode convencer-me que a economia seja mais importante que eu. É possível que se necessite de um carro; eu aceito isso. Mas eu posso viver também sem o carro. O homem já vivia no mundo antes mesmo que existisse o carro.

Assim sendo, o carro não cria o homem, o homem cria o carro. Isto quer dizer que uma pessoa não deve depender de sua criação. Isto apenas é um fantasma! Nós mesmos criamos o fan­tasma e depois o fantasma trata de dominar-nos. Não ne­cessitamos desse fantasma.

Facilidades Modernas

Dizem que uma pessoa, certa vez, submeteu-se a um ri­goroso auto-controle. Então Deus lhe apareceu e perguntou:

- Que desejas?

O homem disse:

- Ó senhor, quero um gênio que possa cumprir meus pedidos com rapidez.

Deus res­pondeu:

- Muito bem, mas há uma restrição a fazer: se você não puder manter o gênio ocupado, ele poderá devorá-lo.

O homem supunha que tinha suficiente trabalho para man­tê-lo ocupado. Assim, o gênio apareceu e foi levado para a sua casa. De imediato ordenou que construísse um edifício. Num momento o edifício estava pronto. Logo pediu um carro… Mal terminou de falar o carro já estava ali. E agora? Então o homem enviou o gênio à Lua... e em um instante, já estava lá. E, depois, nenhuma ocupação tinha para dar-lhe. O gênio falou:

- Como não tens mais trabalho para dar-me então tenho que devorar-te.

O homem estava aterrorizado, mas nesse momento veio um Sábio e Santo ao qual o homem disse:

- Ó Santo, eu tenho um grande proble­ma: o gênio quer devorar-me porque não tenho mais ocupa­ção alguma para dar-lhe.

Então o Sábio lhe sugeriu o se­guinte:

Coloca um poste em teu jardim e pede que o gênio suba e desça pelo poste até que tenha outra coisa a fazer.

Dessa maneira, o gênio subia e descia até ficar cansado. E o gênio disse:

- Que tipo de trabalho é esse? Eu não entendo. Posso fazer tudo o que me pedires, mas isso de subir e descer, subir e descer... é muito cansativo! É muito difícil, não acha? Eu não posso fazer isso!

Então entraram num acordo que foi: "Tu não deves perturbar-me mais e eu também não te perturbarei".

Atualmente nós temos muitos engenhos e trabalhamos todo o tempo; mas não sabemos para que trabalhamos! Para que nos empenhamos tanto em ganhar dinheiro? Não o sabemos, não é? Vocês podem incomodar-se ouvindo-me, mas eu digo a verdade.

Em cidades tão grandes como Nova York, Paris, Londres, trabalha-se o dia inteiro. As pessoas trabalham feito junta de bois, dia e noite. E ao entardecer ainda vão aos comércios e compram vestidos ... e que vesti­dos! São tão transparentes, tão finos, que não cobrem a nudez do homem, nem protegem seu corpo. Em tempos an­tigos o homem criou as roupas para cobrir sua nudez e pro­teger seu corpo. Isso era no passado; mas e agora? Que vestes são essas? Não protegem o corpo do frio. Eu não entendo. Não sei. As pessoas vestem-se com roupas tão transparentes em nome da elegância, que naturalmente pas­sam frio.

Então eu digo: amigos meus, para que trabalham dia e noite? Por que gastam seu dinheiro nessas roupas? Se quiserem ficar nus, simplesmente andem nus, sem tanto afã. Assim nenhum problema terão nesse sentido. Esgota-se a energia trabalhando para depois gastar o dinheiro em nada! Essa é uma atitude muito peculiar!

Dignidade

O homem é uma vitima de seu próprio pensamento. É verdade. Tem sentido falso de dignidade; mente. Quer apa­recer perante outros muito atraente. Mas isto não é digni­dade; é simplesmente complexo de inferioridade.

Amigos meus, devem realizar sua dignidade. Vocês são homens! O dinheiro, a riqueza e economia são somente meios para manter sua existência, nada mais! Vocês são donos da riqueza! Mas a riqueza converteu-se num fardo sobre os ombros que as carregam de um lugar para outro. Traba­lham o dia todo e no momento de morrer deixam a riqueza para outros... Deve-se usar o dinheiro apropriadamente.

Na Índia visitei certa vez uma casa e perguntei ao dono o nome de seus filhos. Ele, por sua vez, perguntou o nome a sua esposa. Então eu disse:

- Amigo meu, não é você o pai de seus filhos? Isso acontece porque sai muito cedo pela manhã para atender seu negócio e só regressa à noite. Assim nem sequer pode ver, como deveria, os rostos de seus filhos. Agora eu pergunto: para quê tudo isso?

Para que ganhamos dinheiro? Não sei... Não podemos comer, não podemos descansar, não podemos amar, não po­demos falar, afinal, não fazemos nada... Simplesmente nos identificamos com as máquinas. Máquinas de fazer dinheiro e mais dinheiro... O dinheiro não tem coração algum, não é? Eu compreendo os problemas da vida e compreendo também que necessitem de dinheiro, mas o dinheiro não pode dar felicidade. É verdade, amigos meus.

Pobre com Dinheiro

Em outra ocasião, estava com uma pessoa muito rica e enquanto almoçávamos, falei:

- Amigo meu, deveria comer muito devagar.

Ele respondeu:

- Swami, isso era válido no passado, mas agora temos que dar-nos pressa. É a época da tecnologia, temos que trabalhar sem parar.

Eu contestei:

- Amigo meu, pode-se compreender que um pobre trabalhe para sustentar seu estômago, porque tem fome e se não tra­balhar não consegue comida, mas você, para que trabalha? Não compreendo! Tem milhões de dólares, mas não pode comer tranquilo!

Em outra oportunidade, visitei uma casa de gente muito rica também. Havia telefone até no banheiro, extensão na cozinha e em cada compartimento... Quer dizer que não se podia comer com sossego, nem se banhar com tranquili­dade, tampouco se podia dormir. A todo tempo tinha que atender ao telefone...

Pobre sem Dinheiro

Que maneira de viver é essa? Em­bora as pessoas sempre pensem que estão ajudando à huma­nidade. Isso é simplesmente obsessão ou compensação de algo que falta, nada mais. Quando não se pode conseguir tranquilidade na própria vida, não se pode contribuir para a tranquilidade da sociedade.

Na sociedade atual, nenhuma tranquilidade há, nenhuma felicidade. O homem é escravo da riqueza. O rico está no cume da montanha da riqueza e o pobre tem a montanha da riqueza a sua frente, por esca­lar... Então um não pode descer, e o outro não pode subir. Assim a montanha da riqueza é um problema tanto para o rico quanto para o pobre. Ambos sofrem.

A Finalidade do Dinheiro

Por isso a Espiritualidade diz que antes de conseguir a riqueza, deve-se saber a finalidade dela. Para que necessita­mos da riqueza? E a resposta é simples: para manter nossa existência, para sustentar nossa natureza e preservar nosso corpo.

Necessitamos de casa para proteger-nos da intem­périe; dos vestidos para proteger o corpo. Não necessitamos de casas que não projetem do frio ou calor. Também não necessitamos de roupas que não protejam nosso corpo.

Há duas forças na Natureza: uma trata de manter nossa existência, a outra trata de destruir nossa forma. Ambas estão na Natureza. O dinheiro serviria principalmente para lutar contra a força que trata de destruir nossa forma.

A Morte e a Conitinuidade nos Filhos

É nosso dharma; porque embora lutemos contra essa força, sabemos que nem todo o dinheiro e todos os meios podem nos ajudar a vencer a morte da forma. A morte física é inevitável. Mas queremos manter nosso dharma e nossa virtude, também depois da morte. Assim sendo, os filhos são o meio de manter o dharma, a virtude, a natureza; então, depois da morte há também continuidade. Os filhos são para manter o dharma, os filhos não são simplesmente o resultado da sen­sualidade.

A Superpopulação do Planeta

Agora temos um problema e grande problema que é o da superpopulação. As pessoas que nenhum auto-controle tem, como consequência têm muitos filhos. Isso cria muitos problemas e graves. Fala-se muito da superpopulação, da explosão demográfica. Mas eu pergunto

- Amigo meu, se há superpopulação, por que mantém relação sexual?

As pessoas logo respondem

- É a natureza.

Muito bem, se o sexo é natural, também a superpopulação é natural! Quem é responsável pela superpopulação? Quer se ter todos os pra­zeres, mas não os resultados deles. Não é possível. Sempre cria problemas. Quando se quer os prazeres deve-se ter tam­bém a grande coragem de enfrentar seus resultados. Do contrário, uma terrível confusão se cria na sociedade.

Aborto

Amigos meus, eu disse um dia e agora torno a repetir que no Vietnam, em dez anos morreram somente setenta norte-americanos, mas só na cidade de Nova York, em um ano houve mais de quinhentos mil casos de abortos!

Onde há maior guerra, no Vietnam ou em Nova York? Em Nova York! Nenhum partido político ou econômico há que pro­teste contra essa guerra. Todos gritam e choram contra a guerra no Vietnam dizendo que não suportam essa guerra, mas eu digo também que a humanidade tem que se opor à guerra no útero das mães.

A criança não pode gritar nem chorar nem protestar e nós simplesmente terminamos com a vida de uma criatura sem nenhum remorso. É terrível isso. A mãe quer ter o direito de abortar. Que classe de mãe é essa? Amigos meus, a mãe, o médico e o Estado, os três, são protetores da vida; mas agora os três voltam-se contra a criança. Os médicos que provocam abortos, inconsciente­mente, estão unidos na destruição da humanidade! Quando digo estas coisas, as pessoas dizem: "

- Você não sabe ter co­ração. Não compreende os problemas da humanidade, das mães e dos pais.

Mas eu digo, amigos meus, eu compreendo seus problemas, muito bem, mas vocês não compreendem os problemas eternos, simplesmente apressam-se em julgar.

O Aborto dos Outros é Refresco

Aquele que quer resolver os problemas da humanidade, por que não se atira no oceano? Assim o problema poderia ficar resolvido em um momento.

Mas nunca encontro nenhum perito na matéria, nenhum biólogo, nem mãe alguma, nem médico que esteja disposto a atirar-se no oceano para resol­ver o problema da superpopulação. Simplesmente, em nome do "bem servir" ou em nome de seus próprios interesses sa­crificam a vida de outra pessoa.

Por que não fechamos todos os hospitais? Para que necessitamos deles então? Seria o caso de perguntar se aquele que não tivesse condições de saúde, teria o direito de viver. Por que tratamos de conser­var sua vida?

Amigos meus, por um lado tratamos de con­servar a vida de pessoas fracas, inválidas, etc., e por outro destruímos vidas de pessoas que no futuro poderiam ser grandes pessoas para a humanidade. Que paradoxal é isso!

E, ainda, é de se admirar que uma pessoa de oitenta anos queira ser Presidente de seu país. Nesse momento nem co­gita nos grandes problemas do mundo e nem pensa para que ele vive até essa idade. Nem sequer pensa que ele está fazendo parte do problema e não quer sacrificar sua vida para solucioná-los, mas, quer e permite sacrificar a vida de outras pessoas. Isso é egoísmo, nada mais!

Pode-se aceitar ou não minhas palavras, não me preocupo.

Todos devem compreender que eu não estou contra os idosos e que não tenho ódio algum contra os velhos ou os doentes. Mas pergunto, que tipo de vida é essa? A humani­dade agora luta contra a humanidade. A humanidade trata de destruir a humanidade!

O Dharma

Só depois que possamos compreender a finalidade da vida, é que poderemos realizar também a Emancipação. A pessoa que segue o caminho do Dharma, o caminho da Vir­tude, pode compreender que o Dharma é a superfície do Ser Eterno. Nesse momento, o sentido do sacrifício revela a Na­tureza do Ser. Então, o ser humano fica livre, completa­mente livre e goza do fruto de sua Vida.

Temos que conseguir, em nossa própria vida, a virtude. E para manter a virtude necessitamos da riqueza da vontade. E para que haja continuidade da virtude, do Dharma, ainda depois da morte, todavia necessitamos do desejo do sexo, do matrimônio, etc. E ainda necessitamos da Emancipação.

Essas coisas são necessárias para nossa vida.

Om Shanti, Shanti, Shanti. Om Paz, Paz, Paz.

Fonte: Jnana Mandiram.





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