segunda-feira, 23 de março de 2015

Para Que Sofro?

Texto de Huberto Rohden.

A SAÚDE É natural, a moléstia é desnatural.

Ninguém procura explicar o que é natural, todos querem explicar o que é desnatural.

Por que é que sofro isto ou aquilo? O primeiro pensamento é o de um castigo infligido por algum ser invisível, algum Deus vingador. Castigo por quê? Por mal cometido, algum pecado.

Mas, se eu não tenho consciência de pecado algum, como dizia Jó,  meu pecado deve ter sido cometido, então, numa existência anterior cuja memória não persiste na minha encarnação atual.

Por que sofro?

Mas, o que mais importa não é saber por que sofro, mas sim para quê.

A causa do meu sofrimento é misteriosa, mas a finalidade do meu sofrimento é clara. Sofro para evolver, ou para me libertar de alguma impureza. Se criei a causa, posso também aboli-la.

Se o homem, quer desta quer daquela filosofia, conseguisse ascender a regiões superiores, ultrapassando a zona da matéria e invadindo os domínios do espírito, desapareceria todo o problema e toda a problemática do sofrimento – porque desapareceria o próprio sofrimento compulsório.

Assim como a pecabilidade gerou a passibilidade, do mesmo modo a impecabilidade produz necessariamente a impassibilidade. O erro na zona espiritual se chama pecado, o erro na zona material se chama sofrimento. Sendo aquele a causa deste, é lógico que o efeito (sofrimento, passibilidade) não pode ser definitivamente abolido sem a abolição da causa (pecado, pecabilidade).

Apenas em caráter transitório, intermitente, esporádico, é o sofrimento abolido no plano do pecado; mas, para a abolição permanente, radical e definitiva do sofrimento, requer-se a destruição radical e permanente do pecado e da própria pecabilidade.

Inteligência e Razão

Com o despontar da inteligência começou o mundo a pecabilidade, que, não raro, acaba em pecado. “Espinhos e abrolhos”, “trabalhos no suor do seu rosto”, “parto por entre dores” são as consequências da intelectualização do homem, da mulher, porque a zona do intelecto é a zona da pecabilidade.

Onde não há intelecto não há o “conhecimento do bem e do mal”, não há oscilação entre a luz e as trevas, entre o positivo e o negativo. Quando o homem comeu “do fruto da árvore do conhecimento”, quando o homem sensitivo do Éden se tornou o homem intelectivo da serpente, entrou ele na zona da pecabilidade, e pecabilidade quer dizer passibilidade compulsória.

Para se libertar do sofrimento é necessário que o homem se liberte da pecabilidade e do pecado. De que modo? Perdendo a inteligência, essa gloriosa conquista da humanidade post-edênica? Não pela perda desse dom divino, mas pela integração da inteligência na razão, isto é, no espírito.

Que poder é esse que nascerá das profundezas da própria natureza humana e sujeitará a seu domínio a própria inteligência? É o poder da Razão, do Espírito divino latente no homem.

Um dia, esse espírito acordará – e já acordou plenamente, pelo menos num representante da humanidade, no “filho do homem”, no homem por excelência.

Que é que fará acordar no homem pecador e sofredor de hoje esse espírito divino, a Razão, o eterno Lógos, seu verdadeiro Eu divino? A oração, a frequente e intensa submersão no oceano da divindade, a comunhão com Deus, o permanente “andar na presença de Deus”.





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