domingo, 28 de agosto de 2011

Renúncia e Yoga

Texto de SWAMI TILAK.

AS PESSOAS DEMASIADO fiéis ao mundo sempre pergun­tam: "Se todo o mundo se fizer Swami, que seria do mundo? Como ficaria a continuidade?"

Esta mesma pergunta me faz lembrar o extraordinário dito Védico:

"O marido não quer a mulher por ela mesma, mas por ele mesmo, e por sua vez a mulher não quer o marido por ele, senão por ela mesma".

Assim, se uma pessoa está contente consigo mesma, todos estão contentes.

Certa vez eu disse a um jornalista: se todos se fizessem sanyases (renunciantes) no mundo, logo haveria um paraíso. Mun­do significa as pessoas que vivem nele. Não se pode esperar um mundo feliz sem homens felizes. E o homem não pode conseguir verdadeira felicidade sem renúncia. Quero dizer renúncia na mente, no Espírito.

Alteradas por uma visível excitação, as pessoas às vezes perguntam:

- Você veio aqui, Swami, para pedir-nos que renunciemos à nossa vida em família e perambulemos pela floresta?

Eu respondo:

- Que classe de renúncia é essa e para onde ir? Ademais, nas cavernas mais ocultas dos Himalayas existe mundo. Não é o mundo físico que aflige às pessoas; é o mundo mental que traz desassossego. Sacudam o mundo de suas mentes e vivam contentes aqui e agora. Então, ne­nhuma necessidade sentirão vocês de ir e vir. Podem atra­vessar o oceano nadando num instante. Um nadador não evita o oceano e nem se afoga; ele simplesmente nada. Um homem do mundo se afoga, enquanto que um renunciante, nada.

A Nossa Imagem e Semelhança

E Deus disse: "Façamos o homem à nossa própria ima­gem".

Nesse trecho da Bíblia o emprego de "nosso" é de grande importância! Aquele que vê tudo em Si mesmo é Deus. E aquele que vê a Si mesmo em tudo é o Homem. Deus e o Homem, ambos têm suas próprias criações; enquanto que a de Deus é a Criação Universal, a do homem é a cria­ção mental. Deus está totalmente desapegado de sua Criação, mas o homem está terrivelmente apegado à sua!

Sendo a imagem de sua própria criação, o homem tem certeza de ser diferente de Deus. Porque pensa que Deus é a imagem dele. Como expliquei em Adelaide, no canal 10 da TV, o primeiro grito depois de nascer é a semente do "meu": meu leite, minha mãe, meu pai, meu irmão, minha irmã, meus brinquedos, meus amigos, minha mulher, meus filhos, etc. E "meu" segue estendendo-se até que se choca contra as margens da morte...

Sábio e corajoso é aquele que se desembaraça do "meu". Somente aquele que está livre do "meu" e "teu" desfruta da grandeza do EU. EU, sem o sentido do eu-ismo é a emanci­pação ou MUKTI, NIRVANA. Não existe emancipação sem renúncia. Não existe Ressurreição sem crucificação.

Ninguém é perfeito. Mas todos temos o direito de con­seguir a perfeição. Porque todos somos iluminados pela Consciência mais ou menos pura, mais ou menos clara.

O Verdadeiro Yoga

Deve-se fazer um grande esforço para esclarecer bem a vida do Yoga. Os outros tipos de Yoga não condenam o Hatha Yoga e podem aceitar sua importância. As dificulda­des só começam quando 'uma indevida ênfase é dada ao Hatha, por parte dos profissionais zelosos que começam a não considerar a verdadeira tradição do Yoga. Deve-se in­formar às pessoas que o verdadeiro propósito do Yoga é o controle da MATÉRIA MENTAL, CHITTA, para que não adote várias formas ou VRITTIS. Para que logo possa sur­gir a ANTIMATÉRIA. E depois então, o ABSOLUTO. E, cer­tamente, isso não se pode efetuar alentando, estimulando desejos.

Manu, o grande mestre da Lei, disse que "Nunca se extingue o desejo gozando dos objetos desejados. Pelo con­trário, fica mais forte; como o fogo alimentado com a manteiga derretida."

Posso apreciar o afã da parte dos professores de Yoga em "popularizar" o Yoga, satisfazendo os caprichos das pessoas. Embora não possa omitir-me quanto às consequências que podem trazer suas atividades. A simples populari­dade não é realidade. A multidão, insatisfeita com uma coisa, lança-se na procura de outra coisa. E isto pode dar a impressão de popularidade. Mudar-se de uma coisa para outra não soluciona o problema. É necessário firmeza na determinação. Tem que se falar com franqueza às pessoas que representam o Yoga, porque ao final podem pôr a culpa de todas suas más consequências em todo o sistema de Yoga.

Confesso que não estou, em absoluto, de acordo com aqueles que dão uma importância secundária à moralidade e ao autocontrole no Yoga. Assim como nenhum remédio pode curar uma enfermidade sem uma restrição apropriada na dieta, assim também nenhum sistema pode trazer êxtase ao ser humano sem autocontrole. Porque, como pode surgir o esplendor da minha Consciência, quando eu continuo a imprimir impressões que a comprimem?

Antes de alterar o devido lugar de YAMA e NIYAMA, restrições essas deixadas no "eight-fold-order", oito degraus do Yoga, por Patanjali, devemos estudar cuidadosa e pacien­temente a natureza humana.

O Vício em Novidades

É natural que toda mudança faça o homem insatisfeito sentir-se relaxado. Mas o relaxamento conseguido pela sim­ples mudança de rotina não dura muito. É apenas um palia­tivo. Um homem dessa maneira relaxado, com certeza ati­ra-se a uma nova situação que lhe traz nova preocupação. Assim, não há de encontrar falha nenhuma, falta alguma na sua própria atitude, porém ele encontrará falhas em todo o processo de Yoga.

Muitas vezes nós nos encontramos com pessoas que anteriormente foram seguidoras fiéis do "Yoga", mas que agora sentem dificuldades em seguir essa direção. Não pode­mos refutar suas objeções como infundadas, dado que pelo menos algumas são realmente sinceras.

Enquanto estávamos na meditação, nos sentimos todos submersos no oceano do OM. Mas depois, algumas pessoas pareciam um pouco inquietas e duvidavam, porque alguém de "autoridade" tinha dito que não era aconselhável para um chefe de família cantar o OM. Ao invés de entrar em nova polêmica, preferi explicar o significado do OM.

OM

As pessoas devem saber que nenhum mistério nem se­gredo há em torno disso. O mistério maior é que não saibamos a respeito; então esclareci que o mundo de nossos conceitos nada mais é que palavras ou nomes e formas.

Nenhum nome pode haver sem forma, e nenhuma forma sem nome.

É muito mais fácil pensar em um nome deter­minado que pensar numa forma determinada. O som é a mãe do nome e a laringe é a mãe do som. Aquele som que se pode produzir só com a laringe, sem intervenção da lín­gua e lábios, não é outro que "A" e este som explica tudo o que eu sei a respeito de toda e qualquer manifestação. Ou seja, que A, U e M respectivamente, representam o prin­cípio, o meio e o fim do mundo do som, o qual, como já disse, corresponde ao nosso mundo fenomenal. A, U e M são as três MATRAS ou sílabas do OM. A quarta é AMATRA, inexplicável, inaudível.

Criação, preservação e dissolução são as fases mutáveis ou transitórias do incompreensível BRAHMAN. Então, sejas! Ora, quando realmente ÉS, onde há lugar para o medo? Qualquer coisa é menos que você. Você é a luz do sol; sem cor. O prisma pode fazer-se pedaços e o espectro pode desa­parecer no ar, mas tu tens de permanecer como sempre:

OM TAT SAT. Só OM é a Verdade, OM ITRI BRAHMA! OM ITRI IDAM SARVAMI OM é este Brahman. OM é tudo isso!

"Não se logra a imortalidade nem com a ação, nem com a progênie, nem com a prosperidade. De certo só a conse­gues com a renúncia!"

A Vida de Renunciante

Achávamos que não havia muita confusão sobre o que era um Swami. Mas um dia ficamos como quem acordou ao cair do alto de uma árvore onde dormia. Mas nada causou mais assombro e nada foi tão desconcertante para nós do que ter que enfrentar perguntas tão singulares como, por exemplo, "onde está seu lar?" ou "onde estão seus filhos?" E quando respondíamos, naturalmente um pouco irritados, que os Swamis não têm lar nem filhos, os que faziam as pergun­tas desconcertavam-se. E olhando fixamente, um deles ex­clamou: "Como assim? Os Swamis não têm lar nem filhos?! Pois nós vemos diariamente, na televisão, Swamis que têm família e vivem a vida de chefe de família!"

Ele tinha razão. Aqui no Ocidente encontram-se pessoas vivendo uma vida dupla. Ora são o Sr. X ou Sra. H, e um minuto depois são o Swami X ou Swamini H. Ninguém pode duvidar de sua sinceridade pois o titulo de Swami foi dado por algum Swami da Índia, embora não se saiba com que autoridade se fez isso. Mas é evidente que nenhum reparo se tem em fazê-lo. Estão até orgulhosos de suas atividades e pretendem ser os precursores da modernização no campo de SANYASA (Renunciação).

A Tradição

Pessoalmente escutei um conhecido Swami dizer o se­guinte: "Afinal, o manto de cor ocre é apenas nosso unifor­me. Pode-se mudar por qualquer outro, se convier. Inclusive aquele que não consegue manter seu Sanyase durante qua­renta dias é maior e tem mais coragem que aquele que não considerou nunca adotar a vida de renúncia."

Afirmações ousadas como estas, embora irresponsáveis, não podem beneficiar a sociedade aqui ou em qualquer par­te do mundo. Mas distraem os ouvintes mal avisados, que sabem muito pouco sobre a vida espiritual.

Ao invés de erguer a moral dos aspirantes, estas afir­mações criam um ambiente de dúvida e fraqueza. Podemos compadecer-nos com os caídos; mas não devemos abrir ca­minho para a queda dos demais.

Antes de aceitar a vida de Sanyase, deve-se saber que o Caminho da renúncia "é mais afiado que o gume de uma navalha, difícil de atravessar, e duro de caminhar."

O autoconhecimento é o melhor, mas não se consegue com estudos normais, nem com o intelecto, nem sequer com intensos estudos. Somente o consegue quem o procura com todo o coração. A tal aspirante o Ser mesmo revela sua própria Natureza!

Quando escuto as pessoas falando sem o cuidado neces­sário do Sanyasa, faz-me lembrar sempre da vida do Santo Jnaneswara. Ele, seu irmão e sua irmã foram submetidos a uma prova muito austera pelos PANDITS, eruditos de Paithan, pela simples razão de que seu pai era contrário à tradição do Sanyasa. Embora seus pais, para escaparem de seus pecados, terminassem suas vidas atirando-se ao Ganges em Prayago, não foi possível satisfazer aos Pandits.

Tendo em conta a grandeza de Jnaneswara, poder-se-ia sentir pena dele, pela atitude dos Pandits. Todavia, não po­demos deixar de apreciar a tradição.

Quando se permitir, sequer uma vez, degradar-se a tra­dição, a partir de então, isso não teria fim nunca. E ade­mais, cada rebelde sentir-se-ia um reformador. De certo que eu não sou ortodoxo, mas não descarto uma coisa simples­mente porque pareça convencional. Estou plenamente con­vencido de que a Ordem do Sanyasa requer uma disciplina estrita e não podemos mudá-la sem mudar seu espírito.

OM SHANTII, SHANTI, SHANTI

OM PAZ, PAZ, PAZ

Fonte: Jnana Mandiram





0 comentários.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...