sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Obtendo as Coisas pela Benevolência

Texto de Huberto Rohden.

HÁ AURAS ANÔNIMAS E IMPONDERÁVEIS que envolvem e penetram o homem espiritual, auras que atuam com suave intensidade sobre outros homens, e até sobre os objetos circunjacentes.

Ninguém imita a vida de um homem que não lhe seja simpático. Simpatia, porém, é uma emanação da verdade e do amor.

É fato multimilenar que os homens que mais realizam em si a força do espírito do que o espírito da força são credores do amor, da simpatia e entusiástica dedicação dos melhores dentre os filhos dos homens.

E quem possui a alma, o coração, o amor de alguém possui, também, o corpo dele e todas as coisas que ele possui.

Possuindo o Mundo

Esta sabedoria cósmica que proclama a posse do mundo e dos homens pela suavidade do amor e da benevolência, pela não violência e não agressividade, é privilégio de poucos homens da atual geração. Os violentos ainda predominam entre nós, e têm-se em conta de senhores da terra; mas o seu domínio é fictício e ilusório.

Os poucos mansos que existem são mais possuidores da terra do que os numerosos violentos, os insolentes, os impertinentes, os tiranos, os ditadores.

Essa promessa de Jesus, de que os mansos possuirão a terra, parece tão estranhamente paradoxal e contrária a todas as nossas experiências, que julgamos necessário investigar um pouco mais o conceito de possuir. Podem os violentos conquistar a terra, apoderar se dela à força de armas e carnificinas — mas eles nunca possuirão a terra, e menos ainda os homens da terra.

Possuindo a Tudo e a Todos

O verdadeiro “possuidor” não é um ato físico, material, mas uma atitude metafísica, espiritual. O verdadeiro “possuidor” é do mundo do “ser interno” e não do mundo do “ter externo”. O profano pensa que possui algo ou alguém quando o tem preso nas mãos ou por detrás de grades de ferro — mas o iniciado sabe que “possuir” supõe “ser”, e até uma atitude de “ser” bilateral, da parte do possuidor e da parte do possuído.

Enquanto o pretenso possuidor possui o seu objeto ou uma pessoa, esse algo ou alguém não é por ele possuído realmente enquanto a posse é unilateral, porque possuir realmente supõe uma atitude bilateral da parte do possuidor e da parte do possuído; e, neste caso também o possuído (passivo) se torna um possuidor (ativo).

Ninguém pode possuir algo ou alguém enquanto esse algo ou alguém não concorda em ser possuído; mas, a partir do momento em que consente em ser possuído, o possuidor o possui realmente, porque também o possuído se  tornou um possuidor, e há igualdade de posse de parte a parte.

Só Possuo o Que Me Permite Possui-lo

Por esta mesma razão, nenhum homem pode possuir realmente um objeto inconsciente, coisas inanimadas, objetos neutros, porque este algo, embora não possa discordar explicitamente da possessão, ou do possuimento — porque para esse protesto explícito lhe falta a necessária consciência — contudo, esse objeto não é realmente possuído pelo possuidor porque não deu o seu consentimento em ser possuído.

Supomos, neste caso, que haja objetos inconscientes, e por isso em estado neutro em face do possuimento humano; mas não é bem exato, porque não há nada realmente inconsciente. Todo e qualquer objeto, mesmo do mundo mineral, tem certo grau de consciência, e pode, até certo ponto, não concordar em ser possuído pelo homem.

Ilusão de Posse

E como, no plano da intelectualidade não espiritualizada, o homem é essencialmente inimigo da Natureza, nenhum ser da Natureza concorda, de fato, em ser possuído por ele, porque o homem mental é o homem profano e hostil.

Pode, certamente , uma escrava ser possuída fisicamente por seu tirânico senhor, mas, enquanto ela é escrava, e não amiga, esse senhor não a possui realmente, embora a tenha conquistado, tomado de assalto, violentado, estuprado; o íntimo quê, o verdadeiro Eu, da escrava continua livre, não possuído, pelo pseudopossuidor.

O Amor Pelas Coisas

Só se pode possuir algo ou alguém pelo amor mútuo, bilateral, espontâneo, quando ao “sim” de um responde o “sim” do outro.

Compreendemos facilmente que uma pessoa possa sintonizar as suas vibrações pela frequência vibratória de outra pessoa — mas dificilmente admitimos que uma coisa inanimada e inconsciente como a terra ou a natureza, possam sintonizar a sua vibração com a do homem.

Poderá ela concordar ou discordar em ser por ele possuída ou não? Aqui é que está um dos velhos erros do homem profano de todos os tempos e de todas as idades: pensar que a natureza infra-humana, falsamente chamada inconsciente, não sinta as auras irradiadas pelo homem. Como se a natureza fosse uma massa morta, e não uma presença viva!...

As Coisas Têm Consciência

Está provado, com milhares de exemplos, que a natureza, mesmo mineral, reage às invisíveis e variáveis irradiações do homem, que ela assume atitude negativa ou positiva, hostil ou amiga, em face do homem, consoante a atmosfera interna do homem.

Paramahansa Yogananda conta em seu livro Autobiografia de um yogui contemporâneo, daquele grande botânico da Califórnia, Lutero Burbank, que falava às flores e delas conseguia novas formas e cores, até o abandono de espinhos, por “sugestão  spiritual”.

Paul Brunton, em sua obra “A Search in Secret India”, refere muitos casos congêneres, inclusive aquele em que um hindu tomou nos braços uma cobra venenosa e a acalmou plenamente com suas vibrações amigas.

Uns anos atrás, referiu o “Reader’s Digest” o  drama de um elefante furioso no Zoológico de Chicago, que, por indomável, ia ser morto a tiro, quando apareceu alguém que acalmou o animal, segredando-lhe ao ouvido vibrações carinhosas.

O Superconsciente

Toda a vida de São Francisco de Assis é uma afirmação per manente de que a natureza não é inconsciente e que compreende a linguagem do homem, quando esta deixa o plano teórico da análise mental e passa para a misteriosa zona vital ou espiritual.

A zona do amor é a zona do superconsciente por excelência, porque,  como diz Schweitzer, die Liebe ist die boechste Vernunit (o amor é a mais alta razão).

Não é fácil, ao homem comum, atingir os pináculos da suprema racionalidade pela ladeira íngreme da metafísica, e poucos conseguem escalar o “Himalaia” por esse lado; mas é fácil ascender ao mais alto Everest da suprema racionalidade pelo caminho do amor. Amar incondicionalmente, é o caminho mais curto e rápido às alturas da compreensão integral e universal.





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