Texto de Dudu Lopes.
Deus é grande demais para caber numa só religião.
NO TEXTO Espiritualidade, Ocultismo e Religião defini religião propositalmente em apenas duas linhas, sem me alongar mais no assunto, como um conjunto de formas com que as pessoas se relacionam com a espiritualidade e com o ocultismo.
Se, didaticamente, a definição não está errada, na prática, está longe de representar a verdade.
O Que Não é Religião
"Religião", a palavra, significa religar. Religar o que a que? Religar a porção Divina do homem a Divindade Universal ou Deus. Na prática não existe religião cristã ou hindu ou qualquer outra, o que existe na prática é religião, se religar, que é de fato a única religião verdadeira.
A idéia de Deus é para a maioria de nós apenas isso, uma ideia. E a partir dessa ideia, a gente tece uma série de ações para justificar concretamente o que é apenas uma ideia.
Então, a gente busca participar de rituais, cultos, missas, repetir preces, ler livros sagrados, biografias e ensinamentos dos santos e sábios, fazer caridade e pedir, pedir, pedir, pedir, para saciar em si a necessidade de algo mais concreto do que é apenas uma ideia de Deus, que é guardada na mesma parte da mente que a ideia do átomo ou dos buracos negros, apenas ideias do que lemos ou ouvimos falar que existe mas que nunca presenciamos de verdade.
Confundindo as Coisas
Muitas pessoas confundem religião com ocultismo. Oferendas a seres sobrenaturais são práticas de ocultismo, a mediunidade também.
Pedir a Jesus para solucionar um problema financeiro, de saúde ou amoroso, também é igualmente ocultismo, sem nada de diferente da mediunidade ou das oferendas.
Utilizar a imagem mental de Jesus como um ponto onde todos focam a sua energia para solucionar problemas que absolutamente nada tem a ver com o problema de se religar a Divindade é pura manipulação mental de forças astrais, se num sistema religioso se faz isso através da energia da comida e da bebida em outro se faz a partir da energia de uma comoção emocional concentrada em um só ponto e a partir daí distribuída de acordo com os interesses em jogo.
Ídolos Mentais
Assim como uma pintura de Jesus não é Jesus, uma ideia mental de Jesus, mesmo enriquecida com um arroubo emocional ou uma sensação diferente, não é Jesus. O mesmo pode ser dito sobre Buda ou Krishna, e sobre Deus em si.
Atividades sociais também não são religião. Festas religiosas, cantar, comer, palestras, atos de caridade, excursões a lugares sagrados ou não; "retiros" onde os companheiros de religião conversam, riem, cantam, comem, jogam vôlei ou futebol, nada disso é religião.
Decorar livros sagrados e ficar citando de memória as suas passagens não é religião, é erudição literária ou exibição de boa memória. Falar de forma mansa, ou com algum sotaque "religioso", defender o seu sistema de crenças com atos violentos ou não, também não é religião.
Enfim, fazer qualquer coisa não diretamente relacionada ao problema de se religar a Divindade não é religião, é outra coisa. Outra coisa que pode até ser boa ou agradável, mas ainda assim é outra coisa.
O Que é Religião
O conceito do que é religião é um conceito tão difícil de entender como é de se explicar. E esse é o motivo principal para que as pessoas caiam no erro de substituírem a religião verdadeira pela prática religiosa falsa, algumas das quais eu citei aí em cima.
De forma simples, religião é se religar a Deus. Mas se, a princípio, Deus é apenas uma idéia, como se ligar a Ele? Eliminando o que está na frente. Se você quer abraçar a pessoa amada em meio a uma multidão, deve primeiro chegar até ela se desvencilhando dos que estão na frente. E o que está na frente para se conhecer Deus é a atração pelo agradável e a repulsão pelo desagradável.
Ou em outras palavras, a prática da religião é não se importar se é agradável ou desagradável. E a ênfase aqui é no não importa.
O Agradável e o Desagradável
Muita gente acha que não se importar com o agradável é se importar com o desagradável, e faz jejuns e flagelações de qualquer natureza; e outras acham que o não se importar com o desagradável é fugir ou se defender através dos cuidados com a saúde ou com as finanças, por exemplo.
Muita gente também pensa que buscar o agradável é o mesmo que não se importar com o desagradável, e sai numa busca desenfreada, dia após dia, atrás dos prazeres e das alegrias.
Não se importar é ter a vida atingida por situações drásticas sem que estas mesmas situações nos atinjam em nosso centro; é ter a vida enriquecida por situações maravilhosas sem confundir o enriquecimento da vida com o enriquecimento pessoal.
O Que Importa
É muito comum pessoas que têm uma melhora financeira considerável acharem que enriqueceram seu caráter, sua personalidade, sua pessoa por causa disso. Por fora as coisas melhoram, a pessoa a princípio acredita que ela também melhorou, até o momento que sua personalidade se confronta com situações que requerem a riqueza na personalidade e não na conta bancária.
O contrário também é verdadeiro. Uma pessoa habituada a uma situação financeira melhor que tem uma queda considerável na área e por conta disso acredita que não só a vida empobreceu mas ela também. Outro exemplo é aquele da pessoa que perdeu o movimento das pernas e acredita que se tornou uma pessoa menor por causa disso.
Não importa o quão grande ou quão pequena pode estar a sua vida, você pode não estar do mesmo tamanho.
A Prática da Religião
Tudo o que é feito para se religar a Deus, Deus como ser concreto e não como uma idéia, pode ser considerado prática da religião verdadeira.
E essa religação não acontece de uma hora pra outra, é um processo que vai acontecendo, durante vidas, gradualmente. Eu me considero a 1% ou 2% nessa linha gradual que culmina no samadhi, nirvana, salvação, ou seja lá que nome se dê a essa união final com Deus.
Mas por esses 1% ou 2% eu dedico muito do esforço de minha vida. Erro muito, regrido muito, mas estou sempre procurando refinar minha técnica de não se importar com o agradável e nem com o desagradável, e ainda assim evitar o desagradável e desfrutar do agradável.
Porque não se importar com o desagradável não é se tornar um masoquista, e não se importar com o agradável não é se tornar uma pessoa sombria. É essa linha tênue entre a sanidade e a insanidade da prática religiosa que faz o processo ser necessariamente lento pela pura necessidade de sermos cuidadosos.
A Religião no Pequeno
Os pequenos desconfortos como acordar numa manhã fria por pura obrigação e aprender a não se importar com isso; ou os grandes prazeres como ser atingido por uma paixão arrebatadora por alguém prejudicial às circunstâncias da própria vida e por isso tirar a importância da paixão; ou não alimentar os pequenos prazeres de comer incessantemente durante o dia todo; ou enxergar recursos interiores quando se perdeu a perna ou a visão; todos esses exemplos ilustram a prática da verdadeira religião.
E nada disso se faz com perfeição, de forma plácida, como um Cristo onipotente, um Shiva em meditação ou um Buda no nirvana; no nível que nós, pessoas comuns, estamos, tudo é feito atabalhoadamente, com contradições, e freqüentemente de forma ridícula e infantil como os primeiros passos de uma criança.
O que se ganha com isso?
À medida que se pratica a arte de não se importar, uma vez ou outra, surge uma fresta livre de onde vem uma brisa de potência que alimenta por uma semana inteira ou mais o centro, e assim o carro novo, a casa nova, as idinhas ao shopping, as mulheres e os homens, as baladas, as festas, as viagens, a praia, a TV, o cinema, a Internet, o eletrônico da moda, os móveis novos, a boa conta bancária, a boa comida e a boa bebida, o sucesso profissional, tudo deixa de nos alimentar e passam a ser alimentados por nós o que significa desfrutar das alegrias da vida com muito mais qualidade do que se pode imaginar.
Da mesma forma, essa brisa de potência passa a nos alimentar com aquelas circunstâncias que antes nos drenavam as forças, como as mazelas que todos passamos um momento ou outro na vida.
Essa brisa tira o medo de perder o que é agradável, e dá perspectivas de se livrar do desagradável.
A Prática da Verdadeira Religião
Mas muito mais do que isso, a prática da verdadeira religião nos aproxima de Deus como realidade concreta (literalmente) e não como uma idéia na mente ou como um agradecimento por alguma graça recebida. E à medida que alcançamos essa proximidade com o Concreto, as missas, os cultos, as preces, os eventos sociais de nosso grupo religioso, Buda, Krishna ou Jesus, tomam um caráter coadjuvante e não essencial em nossa relação com Deus.
E aí não importa se somos cristãos ou espíritas, hindus ou budistas, muçulmanos ou judeus, tudo o que fizermos enobrecerá todos os sistemas religiosos, fazendo do mundo algo melhor do que tem sido. Sem a necessidade de igrejas, templos, sem brigas por cidades sagradas ou sobre quem tem a verdade. A verdadeira religião não discute sobre a realidade da reencarnação, da existência do Céu, se Jesus existiu ou não, se homossexualismo é pecado ou se o celibato é importante para o sacerdócio.
A verdadeira religião discute técnicas que auxiliem as pessoas a não se importar com os altos e baixos da vida, a serem maiores do que os problemas e as alegrias, a descobrirem o que é Deus de forma concreta e não abstrata.
E essas técnicas podem funcionar com uns e não com outros, não podem ser impostas de fora, precisam ser vividas de dentro, e assim, na religião verdadeira, não há imposições, não há um clero dizendo o que é ou não errado, existem professores que apresentam e sugerem as técnicas, mas nunca impõe, porque sabem que, quando o fazem não estão praticando a verdadeira religião.
Praticar a verdadeira religião não é fácil, é muito mais fácil se iludir fantasiando práticas corriqueiras como ganhar dinheiro, conquistar nações e fazer guerras com o manto da santidade, do que meter a mão na massa e limpar as próprias mediocridades.
1 comentários.
eu ,encontrei esta pagina e fiquei muito contente por isso mande -me algo pelo meu i-mail eu gotaria de ter este livro. um abrabra....
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