quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Devoção e o Caminho Espiritual

Texto de SWAMI TILAK.

AOS ÍNTIMOS

EU ESTOU MUITO emocionado. Depois de quase 10 anos, tenho a grande oportunidade de estar em sua companhia divina e dos filhos divinos de Bhagavan Paramahansa Ramakrishna.

Tenho que admitir francamente que, desde a iniciação de minha vida espiritual recebi uma grande inspiração pelas palavras e pela vida de Swami Vivekananda. Antes mesmo de encontrar com meu guru, eu me encontrei mental e espiritualmente com Swami Vivekananda. Renunciei à vida comum, à vida familiar podemos dizer, não pela inspiração de meu guru, já que havia eu renunciado antes de conhecê-lo. Assim sendo, a vida de Swami Vivekananda inspirou-me intensamente, e ainda na profundidade de minha alma existe a mesma luz que eu recebi pelas palavras e vida de Swami Vivekananda e Ramakrishna Paramahansa.

Eu não estou acostumado a mudar meu caminho, tampouco estou acostumado a mudar o caminho de quem quer que seja; em qualquer lugar em que eu me encontre, meu coração e minha alma sempre estão com Swamiji Maharaj [Baba Bajaranga Das Ji Maharaj - Guru de Swami Tilak] e Bhagavan Ramakrishna Paramahansa. As vidas desses santos são tão puras que toda a humanidade pode receber inspiração deles.

Há muitos tipos de santos e sábios. Há santos e sábios que inspiram as pessoas que vivem numa região, outros inspiram as pessoas que ocupam um ou outro país, mas Bhagavan Ramakrishna Paramahansa e Swami Vivekananda são santos que inspiram a toda a humanidade; eles não têm qualquer limite; não aceitam limitação alguma. Assim sendo, seu modo de pensar é universal e nós necessitamos, sem dúvida, desse conceito universal. As portas da espiritualidade estão abertas para todos. No campo da devoção e conhecimento, não existem assimilações que observamos no mundo comum.

Deus e o Choque Elétrico

Numa prisão, havia muitas celas, e em cada uma, um prisioneiro que tinha uma lâmpada elétrica também. Cada lâmpada tinha sua cor. Um dia começaram a discutir e um deles disse: "a eletricidade é vermelha"; outro replicou: não, ela é amarela; um terceiro disse: "é verde". A discussão se alastrou indefinidamente e não puderam chegar a conclusão alguma. Algum tempo depois, um prisioneiro tocou o fio descoberto da eletricidade e imediatamente recebeu um grande choque; nesse momento a eletricidade não era amarela, nem vermelha, porém era muito diferente.

Assim, de uma maneira ou de outra tratamos de definir Deus; mas quando temos um choque espiritual, então Deus é muito diferente! Necessitamos do choque divino! Quando falamos sobre as vibrações espirituais, quer dizer que se trata do choque espiritual; e nenhum é tão propício para se ter esse choque como num templo. Um templo, na realidade, é um lugar que tem vibração espiritual.

Por que sentimos as vibrações espirituais num templo? Porque os grandes seres transmitem essas vibrações. O ambiente no templo e o ambiente no mundo interno têm uma relação recíproca. O homem recebe a inspiração do templo e o templo recebe as vibrações da alma de uma pessoa espiritual. Então, onde vivem os santos, constroem-se os templos e onde existem os templos, criam-se os santos. Os santos e os templos não são duas coisas completamente diferentes: uma coisa depende da outra; sem santos não existem templos e sem templos não existem santos.

Devoção é Coisa Rara

A devoção é um fenômeno muito raro. As escrituras dizem que qualquer pessoa pode ter dinheiro, filhos, fama ou nome, mas somente pela graça de Deus e pela graça dos santos e sábios pode-se ter a devoção verdadeira.

Às vezes, pessoas que têm muita emoção, pensam que o estado de devo­ção é ligar-se à emoção e que a emoção é ligada à devoção, mas a emoção e a devoção não são iguais. Quando as emoções se juntam com o conhecimento, e com ação sem apego - sem desejos - nesse momento forma-se a devoção verdadeira. A devoção verdadeira é o ponto sagrado, em que se juntam o conhecimento de um sábio e a ação de uma pessoa que nenhum desejo tem. É algo maravilhoso!

Nós podemos ver que a vida de Swami Vivekananda e de Paramahansa Ramakrishna é a combinação dos três aspectos. Na realidade, não podemos separar a ação do pensamento e os pensamentos dos desejos e do discernimento. Tudo tem que se juntar. É por isso que quando vemos um santo trabalhando, logo pensamos que esse santo tem muitos interesses mundanos já que nem sempre está sentado no templo a orar. A gente não percebe que, ao orar no templo, o santo se dá conta de que todo o universo é um templo e cada pessoa, cada ser é uma imagem de Deus. Assim, quando recebe a inspiração divina no templo, o santo trata de transformar todo o universo num templo. Na época em que nós vivemos, necessitamos de um conceito do templo universal. Todo universo é um grande templo.

Hoje Deus não quer ficar limitado ao templo; quer andar pelas ruas na forma de uma pessoa santa. Quando vemos as pessoas santas somente nos templos e não as vemos nas ruas, também temos uma grande confusão; pensamos que a devoção é somente para os templos, que não tem nada a ver com a vida diária.

Necessitamos de pessoas tão dinâmicas como Swami Vivekananda e Ramakrishna Paramahansa, Swami Vijoyananda, e de todos os santos e sábios que criaram templos em qualquer lugar e assim onde eles chegaram, chegaram os templos. A cada passo desses seres divinos, fundaram-se não um, mas milhares de templos, porque cada ação deles era uma grande oração; e os lugares em que se hospedaram transformaram se em templos; é a devoção viva.

Livros não são Santos

Necessitamos de devoção viva, espiritualidade viva, já que espiritualidade não falta nos livros: temos milhões e milhões de livros, por tempos imemoriais! O que falta é o exemplo, a vida ideal! E não podemos nos encontrar com a vida ideal, com a devoção e a espiritualidade viva nas bibliotecas. Não é possível! Como Vivekananda dizia: "Se os livros seguissem os santos, as bibliotecas seriam os melhores santuários do mundo. Mas os livros não são os santos. A santidade existe na vida da pessoa".

A vida de Gandhi é como uma lâmpada acesa. Quando uma lâmpada entra em contato com a lâmpada acesa, imediatamente começa a acender-se. Toda pessoa que tenha contato com alguém espiritual, imediatamente sente um choque mais forte que um choque elétrico.

A eletricidade é somente uma coisa material, e a espiritualidade é uma coisa interna. A espiritualidade pode mudar a vida de todas as pessoas. Sabe-se como o contato com Paramahansa Ramakrishna mudou completamente a vida de Swami Vivekananda. Quando ele se encostou com Bhagavan Ramakrishna Paramahansa, não queria voltar mais, porque pensava que "essa pessoa era um pouco louca". Então saiu com a intenção de não regressar; mas, quando estava em sua casa, novamente pensava em Ramakrishna e assim teve que voltar; porque o magnetismo era tão forte que não o pôde ignorar.

A Loucura Espiritual

A pessoa espiritual nenhuma arma usa e tampouco emprega palavras duras; mas a linguagem da alma é tão forte que o mundo não a pode evitar, porque o idioma do amor é doce e o amor transforma completamente o homem e o faz quase louco. Sem dúvida, existe diferença entre loucura santa e a loucura comum. Certa vez, um santo caminhava pelas ruas e um policial o prendeu dizendo: "Você me parece um pouco louco". "Sim, eu sou louco" - disse o santo para surpresa do policial, que perguntou: "Que tipo de louco é você, que sabe que é, louco?" O santo, disse: "Há uma diferença entre o louco comum e eu. Um louco comum corre atrás de mulheres, de comida, de dinheiro e de poder e o louco divino corre atrás de Deus. A loucura é comum, mas o tipo é diferente".

A gente comum e os santos, ambos trabalham, mas o tipo de trabalho é que difere. As pessoas comuns trabalham para realizar seus interesses pessoais enquanto que um santo trabalha para realizar os interesses dos outros. É uma grande diferença.

Quando temos essa atitude, estamos no mundo universal e sem dúvida pode-se mudar a vida na companhia de uma pessoa santa!

A Necessidade da Convicção

Necessitamos de muitas coisas, como Ramakrishna Paramahansa dizia: "Para matar outras pessoas, necessitamos de bombas, espadas e tudo o mais e para nos suicidar, necessitamos apenas de uma pequena agulha. Nada mais". Para convencer os outros, necessitamos de muito conhecimento e exemplos, mas para convencer a nós mesmos, não necessitamos de escritura alguma, necessitamos somente da nossa convicção e quando temos convicção temos tudo, e quando não a temos, não temos nada apesar de possuir tudo. Infelizmente falta essa convicção firme.

Uma pessoa que leva grande cesta com frutas e vegetais na sua cabeça, pensa que tem tudo e que essas coisas vão ajudar muito, mas depois andar uma pequena distância, começa a sentir cansaço por ter trazido tantas coisas. Logo, senta-se debaixo de uma árvore e come tudo. Então o peso que estava em cima de sua cabeça acaba e agora está em seu estômago; depois deita-se no chão na sombra da árvore e dorme um pouco e a comida se digere e novamente tem energia para andar. A comida na cabeça é um peso e a comida no estômago também é um peso, mas a comida digerida é fonte de energia. Assim, o conhecimento que enche nossa mente e não se digere, na realidade é um grande peso. Sabemos isto, isso e aquilo, mas não sabemos como aplicar tudo isso em nossa vida. O conhecimento é conhecimento enquanto se pode aplicá-lo em nossa vida.

Ficando na Teoria

Uma estória muito interessante conta que uma vez, um professor viajava num bote e perguntou ao barqueiro: "Você conhece algo de matemática?" "Não, não sei" - disse o barqueiro, a que o professor asseverou: "Então, um quarto da sua vida está perdida". Depois de algum tempo, outra vez perguntou: ''Conhece algo de física? -"Não senhor" - disse o barqueiro. O pro­fessor então afirmou: "Metade de sua vida está destruída". Outra vez perguntou: "Conhece algo de química?" - "Não senhor" - disse o barqueiro e o professor então falou: "Três quartas partes de sua vida estão perdidas." Nesse momento o barqueiro disse: - "Senhor, sabe nadar ou não? porque agora o barco vai se afundar e caso saiba nadar pode salvar sua vida. De outra maneira, sua vida total está perdida e eu ainda tenho um quarto de minha vida salva".

O problema é que não sabemos salvar nossa vida. Temos que salvá-la! Como salvá-la? Temos que aprender o que é necessário para nossa vida. O conhecimento nos livros salva os livros. O que dizem os outros não importa, importa o que minha consciência diz! Assim sendo, temos que identificar a voz de nossa alma com a voz dos santos e sábios; nesse momento não temos que dizer que Swami Vivekananda diz isso, ou que Paramahansa Ramakrishma diz aquilo; nesse momento temos que dizer o que nossa alma diz, já que pela identificação não permanece mais diferença entre a alma de um santo e a nossa alma.

O Mestre e o Discípulo

A identificação perfeita com a alma de um grande santo cria a voz interna. Essa voz interna é a que nos conduz! E é sempre muito necessária. Todo o processo da devoção é somente para se criar uma grande identificação com o objeto da devoção do discípulo.

Hanuman, um grande devoto em suas maravilhosas palavras assim disse: "Quando tenho consciência corporal, eu sou seu servidor; quando sinto uma relação com a sua alma, eu sou uma parte de você, mas quando me sinto perfeitamente identificado com você, não fica nenhuma diferença entre mim e você. É o processo da devoção. Então, a princípio eu trato de receber inspiração de meu guru; trato de aprender tudo que ele pode ensinar-me: depois trato de identificar-me com esses ensinamentos e logo "eu sou" porque meu mestre dizia ''Eu sou". Na realidade a grandeza do mestre fica gravada na personalidade de seu discípulo. O discípulo é a memória, o movimento vivo da grandeza de seu guru. Não é uma coisa comum,é uma coisa muito importante.

Havia um grande santo a quem se pedia insistência: "Senhor, escreva a biografia de teu mestre". O santo respondia:"Vou escrever, um dia vou escrever". E chegou o último momento de sua vida e então disseram-lhe: "Onde está a biografia de seu mestre? Prometeste escrevê-la." O santo respondeu: como vocês não tem olhos pra ver, não viram que toda minha vida foi a biografia de meu mestre, pois a biografia tem que se imprimir apenas em letras pretas sobre papéis brancos; cada momento da vida do discípulo é a biografia da vida, de seu mestre". E quando o discípulo mesmo não pode transmitir os ideais de seu mestre em sua pró­pria vida, então quem vai fazê:lo? Assim sendo o discípulo tem uma grande responsabilidade de transmitir tudo de seu mestre por meio de sua própria vida". É muito difícil.

Quando eu, por exemplo, digo que sou discípulo desse mestre, minha consciência às vezes me acusa: por que tenho de dizê-lo? Sua vida tem de se viver a cada momento; eu não tenho de dizer que sou discípulo dele; minha vida deve dizê-lo! É muito necessário que nossas vidas devam falar!

O Exemplo do Discípulo

O aroma de uma flor fala da grandeza da flor. Assim, as ações dos dis­cípulos devem falar da vida de seus mestres. Assim como quando sentimos um aroma, imediatamente corremos na direção da flor tratando de buscá-la e, ao querer saber de onde vem essa fragrância, logo chegamos à planta, assim também quando a gente vê a vida de um discípulo verdadeiro, um devoto verdadeiro, imediatamente vamos para seu mestre, para a vida de seu mestre.

Na realidade, só a vida de um devoto transforma a vida de muitas pessoas. Mesmo que não tenham fé em Deus, que não creiam em Deus, essas pessoas ficam imediatamente atraídas por verem a vida do devoto. Por isso o senhor Rama no Ramayana disse: "Meus devotos são melhores do que eu", porque depois de observar um devoto, compreende-se que existe Deus. Deus não pode provar sua existência por ele mesmo. Na realidade é a devoção do devoto que prova a existência de Deus.

A fé que Cristo tinha, a fé de Buda, de Krishna, a fé de Bhagavan Para­rmahansa, de Swami Vivekananda, na realidade, dá uma grande e profunda veracidade a todo o mundo sobre sua real existência.

Ver Deus

Vocês sabem o que Swami Vivekananda perguntou a Ramakrishna Para­mahansa quando ainda era Narendra e ainda não era Swami Vivekananda? "Conhece a Deus?" Ramakrishna Paramahansa respondeu: "Sim, eu conheço". "Você viu Deus?", perguntou novamente Narendra, ao que o santo disse: "Sim, eu vejo Deus como vejo você". Estas palavras transformaram totalmente a vida de Narendra.

Esta autoconfiança conduz, dirige a Deus. De outra maneira muitas dúvidas ficam na vida da gente. A gente diz frequentemente: "A conferência é maravilhosa, é certo, mas... Por que esse, "se" e esse "mas"? Uma palavra é "se" e outra é "mas", e quando uma expressão tem por um lado o "se" e por outro lado o "mas", perde todo o sentido. Em nossa convicção há sem­pre por um lado o "se" e por outro o "mas". E dizemos: "Eu creio em você, mas... você diz muitas coisas maravilhosas, mas... Não serve para todos". Assim o "se" e o "mas" são duas palavras que destroem todo o sentido e nós temos que ter cuidado com elas. Quantas vezes repetimos a cada dia em nossos pensamentos, o "se" e o "mas", ao pensar: "Essa pessoa é muito grande, mas...", "Existe ou não existe Deus?" "Sim, mas ... ".

Necessitamos de uma convicção firme e essa convicção pode criar-se somente na companhia de pessoas de firme convicção e essa convicção não são apenas palavras. Somente as ações e a própria vida são indicativas dessa fir­meza.

Posso dizer muitas coisas e que em qualquer momento, uma pessoa tem que manter o equilíbrio, mas quando algo acontece comigo, imediatamente meu equilíbrio fica afetado e se perde.

De um santo acercou-se uma pessoa e lhe disse: "Santo, as pessoas dizem que você nunca fica irado". "- Sim eu nunca estou irado". A pessoa per­guntou outra vez: ,"A gente diz que você nunca está irado". "- Sim eu nunca estou irado". E assim, a pessoa continuou perguntando quatro, cinco, trinta vezes até que o santo disse: "Quantas vezes tenho que dizer que não fico irado?" Então a pessoa disse: "Oh, senhor, agora sei que você nunca fica irado". Dizemos tudo, mas na prática fica muito difícil.

Sempre a mesma Coisa

Às vezes as pessoas dizem: "'Essas coisas, nós escutamos muitas vezes". Swami Vivekananda disse a mesma coisa, Shankaracharya, Ramakrishna Para­mahansa também. Todos dizem a mesma coisa, nenhuma coisa nova há em tudo isso.

Eu digo, amigo meu, ninguém vai dizer-lhe alguma coisa nova. O problema é com as coisas antigas. Porque as coisas antigas são muito difíceis para seguir e nós temos que segui-las.

Comemos sempre a mesma comida, o mesmo pão e a cada dia sentimos um gosto diferente no pão, mas não é no pão que está a diferença, mas sim em nossa fome. Nossa fome é sempre nova, e quando uma pessoa tem nova devoção, as coisas eternas, que são antigas, apresentam um gosto novo, e quando não temos fome, então, qualquer coisa é velha, não tem nenhum sabor. O sabor não existe nas coisas.

Deus é o mesmo, e não podemos formar um Deus Novo, não é possível. Deus é Deus, mas quando temos devoção intensa, nesse momento Deus é completamente novo, perfeitamente maravilhoso. Temos que criar em nós esta devoção, pelo contato com os santos e sábios. E os santos e sábios não têm nenhuma forma fixa. Não podemos dizer que os santos são santos pelas suas vestes somente ou pela sua aparência.

Os santos existem na profundidade do sentimento e realização das pessoas. Nós temos de realizar isto.

OM SHANTI, SHANTI, SHANTI

OM PAZ, PAZ, PAZ

Fonte: Jnana Mandiram





2 comentários.

Anônimo disse...

mt bom o seu blog

Canto do Dudu - Dudu Lopes disse...

Obrigado, anônimo.

Um abraço,
Dudu.

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