Texto de SWAMI TILAK.
AOS ÍNTIMOS
EU ESTOU MUITO emocionado. Depois de quase 10 anos, tenho a grande oportunidade de estar em sua companhia divina e dos filhos divinos de Bhagavan Paramahansa Ramakrishna.
Tenho que admitir francamente que, desde a iniciação de minha vida espiritual recebi uma grande inspiração pelas palavras e pela vida de Swami Vivekananda. Antes mesmo de encontrar com meu guru, eu me encontrei mental e espiritualmente com Swami Vivekananda. Renunciei à vida comum, à vida familiar podemos dizer, não pela inspiração de meu guru, já que havia eu renunciado antes de conhecê-lo. Assim sendo, a vida de Swami Vivekananda inspirou-me intensamente, e ainda na profundidade de minha alma existe a mesma luz que eu recebi pelas palavras e vida de Swami Vivekananda e Ramakrishna Paramahansa.
Eu não estou acostumado a mudar meu caminho, tampouco estou acostumado a mudar o caminho de quem quer que seja; em qualquer lugar em que eu me encontre, meu coração e minha alma sempre estão com Swamiji Maharaj [Baba Bajaranga Das Ji Maharaj - Guru de Swami Tilak] e Bhagavan Ramakrishna Paramahansa. As vidas desses santos são tão puras que toda a humanidade pode receber inspiração deles.
Há muitos tipos de santos e sábios. Há santos e sábios que inspiram as pessoas que vivem numa região, outros inspiram as pessoas que ocupam um ou outro país, mas Bhagavan Ramakrishna Paramahansa e Swami Vivekananda são santos que inspiram a toda a humanidade; eles não têm qualquer limite; não aceitam limitação alguma. Assim sendo, seu modo de pensar é universal e nós necessitamos, sem dúvida, desse conceito universal. As portas da espiritualidade estão abertas para todos. No campo da devoção e conhecimento, não existem assimilações que observamos no mundo comum.
Deus e o Choque Elétrico
Numa prisão, havia muitas celas, e em cada uma, um prisioneiro que tinha uma lâmpada elétrica também. Cada lâmpada tinha sua cor. Um dia começaram a discutir e um deles disse: "a eletricidade é vermelha"; outro replicou: não, ela é amarela; um terceiro disse: "é verde". A discussão se alastrou indefinidamente e não puderam chegar a conclusão alguma. Algum tempo depois, um prisioneiro tocou o fio descoberto da eletricidade e imediatamente recebeu um grande choque; nesse momento a eletricidade não era amarela, nem vermelha, porém era muito diferente.
Assim, de uma maneira ou de outra tratamos de definir Deus; mas quando temos um choque espiritual, então Deus é muito diferente! Necessitamos do choque divino! Quando falamos sobre as vibrações espirituais, quer dizer que se trata do choque espiritual; e nenhum é tão propício para se ter esse choque como num templo. Um templo, na realidade, é um lugar que tem vibração espiritual.
Por que sentimos as vibrações espirituais num templo? Porque os grandes seres transmitem essas vibrações. O ambiente no templo e o ambiente no mundo interno têm uma relação recíproca. O homem recebe a inspiração do templo e o templo recebe as vibrações da alma de uma pessoa espiritual. Então, onde vivem os santos, constroem-se os templos e onde existem os templos, criam-se os santos. Os santos e os templos não são duas coisas completamente diferentes: uma coisa depende da outra; sem santos não existem templos e sem templos não existem santos.
Devoção é Coisa Rara
A devoção é um fenômeno muito raro. As escrituras dizem que qualquer pessoa pode ter dinheiro, filhos, fama ou nome, mas somente pela graça de Deus e pela graça dos santos e sábios pode-se ter a devoção verdadeira.
Às vezes, pessoas que têm muita emoção, pensam que o estado de devoção é ligar-se à emoção e que a emoção é ligada à devoção, mas a emoção e a devoção não são iguais. Quando as emoções se juntam com o conhecimento, e com ação sem apego - sem desejos - nesse momento forma-se a devoção verdadeira. A devoção verdadeira é o ponto sagrado, em que se juntam o conhecimento de um sábio e a ação de uma pessoa que nenhum desejo tem. É algo maravilhoso!
Nós podemos ver que a vida de Swami Vivekananda e de Paramahansa Ramakrishna é a combinação dos três aspectos. Na realidade, não podemos separar a ação do pensamento e os pensamentos dos desejos e do discernimento. Tudo tem que se juntar. É por isso que quando vemos um santo trabalhando, logo pensamos que esse santo tem muitos interesses mundanos já que nem sempre está sentado no templo a orar. A gente não percebe que, ao orar no templo, o santo se dá conta de que todo o universo é um templo e cada pessoa, cada ser é uma imagem de Deus. Assim, quando recebe a inspiração divina no templo, o santo trata de transformar todo o universo num templo. Na época em que nós vivemos, necessitamos de um conceito do templo universal. Todo universo é um grande templo.
Hoje Deus não quer ficar limitado ao templo; quer andar pelas ruas na forma de uma pessoa santa. Quando vemos as pessoas santas somente nos templos e não as vemos nas ruas, também temos uma grande confusão; pensamos que a devoção é somente para os templos, que não tem nada a ver com a vida diária.
Necessitamos de pessoas tão dinâmicas como Swami Vivekananda e Ramakrishna Paramahansa, Swami Vijoyananda, e de todos os santos e sábios que criaram templos em qualquer lugar e assim onde eles chegaram, chegaram os templos. A cada passo desses seres divinos, fundaram-se não um, mas milhares de templos, porque cada ação deles era uma grande oração; e os lugares em que se hospedaram transformaram se em templos; é a devoção viva.
Livros não são Santos
Necessitamos de devoção viva, espiritualidade viva, já que espiritualidade não falta nos livros: temos milhões e milhões de livros, por tempos imemoriais! O que falta é o exemplo, a vida ideal! E não podemos nos encontrar com a vida ideal, com a devoção e a espiritualidade viva nas bibliotecas. Não é possível! Como Vivekananda dizia: "Se os livros seguissem os santos, as bibliotecas seriam os melhores santuários do mundo. Mas os livros não são os santos. A santidade existe na vida da pessoa".
A vida de Gandhi é como uma lâmpada acesa. Quando uma lâmpada entra em contato com a lâmpada acesa, imediatamente começa a acender-se. Toda pessoa que tenha contato com alguém espiritual, imediatamente sente um choque mais forte que um choque elétrico.
A eletricidade é somente uma coisa material, e a espiritualidade é uma coisa interna. A espiritualidade pode mudar a vida de todas as pessoas. Sabe-se como o contato com Paramahansa Ramakrishna mudou completamente a vida de Swami Vivekananda. Quando ele se encostou com Bhagavan Ramakrishna Paramahansa, não queria voltar mais, porque pensava que "essa pessoa era um pouco louca". Então saiu com a intenção de não regressar; mas, quando estava em sua casa, novamente pensava em Ramakrishna e assim teve que voltar; porque o magnetismo era tão forte que não o pôde ignorar.
A Loucura Espiritual
A pessoa espiritual nenhuma arma usa e tampouco emprega palavras duras; mas a linguagem da alma é tão forte que o mundo não a pode evitar, porque o idioma do amor é doce e o amor transforma completamente o homem e o faz quase louco. Sem dúvida, existe diferença entre loucura santa e a loucura comum. Certa vez, um santo caminhava pelas ruas e um policial o prendeu dizendo: "Você me parece um pouco louco". "Sim, eu sou louco" - disse o santo para surpresa do policial, que perguntou: "Que tipo de louco é você, que sabe que é, louco?" O santo, disse: "Há uma diferença entre o louco comum e eu. Um louco comum corre atrás de mulheres, de comida, de dinheiro e de poder e o louco divino corre atrás de Deus. A loucura é comum, mas o tipo é diferente".
A gente comum e os santos, ambos trabalham, mas o tipo de trabalho é que difere. As pessoas comuns trabalham para realizar seus interesses pessoais enquanto que um santo trabalha para realizar os interesses dos outros. É uma grande diferença.
Quando temos essa atitude, estamos no mundo universal e sem dúvida pode-se mudar a vida na companhia de uma pessoa santa!
A Necessidade da Convicção
Necessitamos de muitas coisas, como Ramakrishna Paramahansa dizia: "Para matar outras pessoas, necessitamos de bombas, espadas e tudo o mais e para nos suicidar, necessitamos apenas de uma pequena agulha. Nada mais". Para convencer os outros, necessitamos de muito conhecimento e exemplos, mas para convencer a nós mesmos, não necessitamos de escritura alguma, necessitamos somente da nossa convicção e quando temos convicção temos tudo, e quando não a temos, não temos nada apesar de possuir tudo. Infelizmente falta essa convicção firme.
Uma pessoa que leva grande cesta com frutas e vegetais na sua cabeça, pensa que tem tudo e que essas coisas vão ajudar muito, mas depois andar uma pequena distância, começa a sentir cansaço por ter trazido tantas coisas. Logo, senta-se debaixo de uma árvore e come tudo. Então o peso que estava em cima de sua cabeça acaba e agora está em seu estômago; depois deita-se no chão na sombra da árvore e dorme um pouco e a comida se digere e novamente tem energia para andar. A comida na cabeça é um peso e a comida no estômago também é um peso, mas a comida digerida é fonte de energia. Assim, o conhecimento que enche nossa mente e não se digere, na realidade é um grande peso. Sabemos isto, isso e aquilo, mas não sabemos como aplicar tudo isso em nossa vida. O conhecimento é conhecimento enquanto se pode aplicá-lo em nossa vida.
Ficando na Teoria
Uma estória muito interessante conta que uma vez, um professor viajava num bote e perguntou ao barqueiro: "Você conhece algo de matemática?" "Não, não sei" - disse o barqueiro, a que o professor asseverou: "Então, um quarto da sua vida está perdida". Depois de algum tempo, outra vez perguntou: ''Conhece algo de física? -"Não senhor" - disse o barqueiro. O professor então afirmou: "Metade de sua vida está destruída". Outra vez perguntou: "Conhece algo de química?" - "Não senhor" - disse o barqueiro e o professor então falou: "Três quartas partes de sua vida estão perdidas." Nesse momento o barqueiro disse: - "Senhor, sabe nadar ou não? porque agora o barco vai se afundar e caso saiba nadar pode salvar sua vida. De outra maneira, sua vida total está perdida e eu ainda tenho um quarto de minha vida salva".
O problema é que não sabemos salvar nossa vida. Temos que salvá-la! Como salvá-la? Temos que aprender o que é necessário para nossa vida. O conhecimento nos livros salva os livros. O que dizem os outros não importa, importa o que minha consciência diz! Assim sendo, temos que identificar a voz de nossa alma com a voz dos santos e sábios; nesse momento não temos que dizer que Swami Vivekananda diz isso, ou que Paramahansa Ramakrishma diz aquilo; nesse momento temos que dizer o que nossa alma diz, já que pela identificação não permanece mais diferença entre a alma de um santo e a nossa alma.
O Mestre e o Discípulo
A identificação perfeita com a alma de um grande santo cria a voz interna. Essa voz interna é a que nos conduz! E é sempre muito necessária. Todo o processo da devoção é somente para se criar uma grande identificação com o objeto da devoção do discípulo.
Hanuman, um grande devoto em suas maravilhosas palavras assim disse: "Quando tenho consciência corporal, eu sou seu servidor; quando sinto uma relação com a sua alma, eu sou uma parte de você, mas quando me sinto perfeitamente identificado com você, não fica nenhuma diferença entre mim e você. É o processo da devoção. Então, a princípio eu trato de receber inspiração de meu guru; trato de aprender tudo que ele pode ensinar-me: depois trato de identificar-me com esses ensinamentos e logo "eu sou" porque meu mestre dizia ''Eu sou". Na realidade a grandeza do mestre fica gravada na personalidade de seu discípulo. O discípulo é a memória, o movimento vivo da grandeza de seu guru. Não é uma coisa comum,é uma coisa muito importante.
Havia um grande santo a quem se pedia insistência: "Senhor, escreva a biografia de teu mestre". O santo respondia:"Vou escrever, um dia vou escrever". E chegou o último momento de sua vida e então disseram-lhe: "Onde está a biografia de seu mestre? Prometeste escrevê-la." O santo respondeu: como vocês não tem olhos pra ver, não viram que toda minha vida foi a biografia de meu mestre, pois a biografia tem que se imprimir apenas em letras pretas sobre papéis brancos; cada momento da vida do discípulo é a biografia da vida, de seu mestre". E quando o discípulo mesmo não pode transmitir os ideais de seu mestre em sua própria vida, então quem vai fazê:lo? Assim sendo o discípulo tem uma grande responsabilidade de transmitir tudo de seu mestre por meio de sua própria vida". É muito difícil.
Quando eu, por exemplo, digo que sou discípulo desse mestre, minha consciência às vezes me acusa: por que tenho de dizê-lo? Sua vida tem de se viver a cada momento; eu não tenho de dizer que sou discípulo dele; minha vida deve dizê-lo! É muito necessário que nossas vidas devam falar!
O Exemplo do Discípulo
O aroma de uma flor fala da grandeza da flor. Assim, as ações dos discípulos devem falar da vida de seus mestres. Assim como quando sentimos um aroma, imediatamente corremos na direção da flor tratando de buscá-la e, ao querer saber de onde vem essa fragrância, logo chegamos à planta, assim também quando a gente vê a vida de um discípulo verdadeiro, um devoto verdadeiro, imediatamente vamos para seu mestre, para a vida de seu mestre.
Na realidade, só a vida de um devoto transforma a vida de muitas pessoas. Mesmo que não tenham fé em Deus, que não creiam em Deus, essas pessoas ficam imediatamente atraídas por verem a vida do devoto. Por isso o senhor Rama no Ramayana disse: "Meus devotos são melhores do que eu", porque depois de observar um devoto, compreende-se que existe Deus. Deus não pode provar sua existência por ele mesmo. Na realidade é a devoção do devoto que prova a existência de Deus.
A fé que Cristo tinha, a fé de Buda, de Krishna, a fé de Bhagavan Pararmahansa, de Swami Vivekananda, na realidade, dá uma grande e profunda veracidade a todo o mundo sobre sua real existência.
Ver Deus
Vocês sabem o que Swami Vivekananda perguntou a Ramakrishna Paramahansa quando ainda era Narendra e ainda não era Swami Vivekananda? "Conhece a Deus?" Ramakrishna Paramahansa respondeu: "Sim, eu conheço". "Você viu Deus?", perguntou novamente Narendra, ao que o santo disse: "Sim, eu vejo Deus como vejo você". Estas palavras transformaram totalmente a vida de Narendra.
Esta autoconfiança conduz, dirige a Deus. De outra maneira muitas dúvidas ficam na vida da gente. A gente diz frequentemente: "A conferência é maravilhosa, é certo, mas... Por que esse, "se" e esse "mas"? Uma palavra é "se" e outra é "mas", e quando uma expressão tem por um lado o "se" e por outro lado o "mas", perde todo o sentido. Em nossa convicção há sempre por um lado o "se" e por outro o "mas". E dizemos: "Eu creio em você, mas... você diz muitas coisas maravilhosas, mas... Não serve para todos". Assim o "se" e o "mas" são duas palavras que destroem todo o sentido e nós temos que ter cuidado com elas. Quantas vezes repetimos a cada dia em nossos pensamentos, o "se" e o "mas", ao pensar: "Essa pessoa é muito grande, mas...", "Existe ou não existe Deus?" "Sim, mas ... ".
Necessitamos de uma convicção firme e essa convicção pode criar-se somente na companhia de pessoas de firme convicção e essa convicção não são apenas palavras. Somente as ações e a própria vida são indicativas dessa firmeza.
Posso dizer muitas coisas e que em qualquer momento, uma pessoa tem que manter o equilíbrio, mas quando algo acontece comigo, imediatamente meu equilíbrio fica afetado e se perde.
De um santo acercou-se uma pessoa e lhe disse: "Santo, as pessoas dizem que você nunca fica irado". "- Sim eu nunca estou irado". A pessoa perguntou outra vez: ,"A gente diz que você nunca está irado". "- Sim eu nunca estou irado". E assim, a pessoa continuou perguntando quatro, cinco, trinta vezes até que o santo disse: "Quantas vezes tenho que dizer que não fico irado?" Então a pessoa disse: "Oh, senhor, agora sei que você nunca fica irado". Dizemos tudo, mas na prática fica muito difícil.
Sempre a mesma Coisa
Às vezes as pessoas dizem: "'Essas coisas, nós escutamos muitas vezes". Swami Vivekananda disse a mesma coisa, Shankaracharya, Ramakrishna Paramahansa também. Todos dizem a mesma coisa, nenhuma coisa nova há em tudo isso.
Eu digo, amigo meu, ninguém vai dizer-lhe alguma coisa nova. O problema é com as coisas antigas. Porque as coisas antigas são muito difíceis para seguir e nós temos que segui-las.
Comemos sempre a mesma comida, o mesmo pão e a cada dia sentimos um gosto diferente no pão, mas não é no pão que está a diferença, mas sim em nossa fome. Nossa fome é sempre nova, e quando uma pessoa tem nova devoção, as coisas eternas, que são antigas, apresentam um gosto novo, e quando não temos fome, então, qualquer coisa é velha, não tem nenhum sabor. O sabor não existe nas coisas.
Deus é o mesmo, e não podemos formar um Deus Novo, não é possível. Deus é Deus, mas quando temos devoção intensa, nesse momento Deus é completamente novo, perfeitamente maravilhoso. Temos que criar em nós esta devoção, pelo contato com os santos e sábios. E os santos e sábios não têm nenhuma forma fixa. Não podemos dizer que os santos são santos pelas suas vestes somente ou pela sua aparência.
Os santos existem na profundidade do sentimento e realização das pessoas. Nós temos de realizar isto.
OM SHANTI, SHANTI, SHANTI
OM PAZ, PAZ, PAZ
Fonte: Jnana Mandiram
2 comentários.
mt bom o seu blog
Obrigado, anônimo.
Um abraço,
Dudu.
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