terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Iniciação e o Guru - I

Texto de SWAMI TILAK.

I

O GURU DIZ: "Tu és Isso." E o discípulo repete: "Eu sou Isso". Mas que é Isso?

Há duas palavras: "isto" e "isso". "Isto" é tudo o que aparece, o que é aparente, tudo, qualquer coisa no mundo. O mundo não é simplesmente a Terra; o mundo é todo o Universo conhecido ou desconhecido. O que se pode ver é o mundo, o Universo .

Que é o que não se pode ver? Aquilo que é diferente ao "Eu" pode ver-se. Mas o "Eu" não se pode ver. Todas as coi­sas no mundo podem ver-se, exceto "Eu". "Eu" posso ver todas as coisas, mas eu não posso ver meus olhos. Podem dizer que eu posso ver meus olhos no espelho, mas eu digo que é sim­plesmente o reflexo, que não são meus olhos. Os olhos são diferentes, não é certo? Porque os olhos vêem o reflexo, mas o reflexo não pode ver os olhos. O reflexo no espelho não tem o poder de ver.

Assim, no mundo temos reflexos, inúmeros reflexos do ser, nada mais. Igualmente, o que está nesses reflexos é di­ferente daquilo que foi refletido.

O Guru no momento da Diksha, ou Iniciação, simples­mente trata de convencer ao discípulo de que o mundo é o reflexo seu e que em lugar de ver o reflexo, deve concentrar­-se no Ser mesmo.

Quem é o Guru

Assim, o Guru verdadeiro é aquele que pode convencer-nos de que nada existe com existência própria, exceto o Ser. Quem pode convencer-nos disso, ou seja, de que nenhuma coisa tem importância, que se pode fechar os olhos e tratar de buscar a verdade no Ser mesmo, é o Guru.

Agora nossos sentidos, nossa mente, sempre correm na direção do mundo que existe fora. O Guru nos faz voltar. É uma coisa muito simples, mas da maior importância. Por exemplo: Suponhamos que uma pessoa parte para Guate­mala, mas começa a ir para o Chile. No caminho encontra alguém que lhe diz: "Onde vai, amigo? Vai ao Chile? -"Não, eu quero ir a Guatemala."

"Mas a Guatemala não fica nesta direção, e sim o Chile. Para ir a Guatemala tem que voltar". Então, voltou, mas alguém fez que ele voltasse no caminho, não é certo? Não há dúvida que é a pessoa mesma que tem que caminhar.

É necessário a direção certa para realizar o fim da via­gem. Assim o Mestre não caminha em lugar do discípulo, mas indica sua direção. Antes, o discípulo simplesmente an­dava no mundo; depois, o discípulo caminha para o Ser mes­mo. Isto é muito grande, amigos meus. Todo o conceito da vida se transforma, muda. Neste momento o discípulo come­ça a caminhar para o Ser mesmo. É a Iniciação.

Iniciação é o Início

Há uma diferença entre Iniciação e Realização. A Iniciação é o início do caminho da Realização. Depois da Inicia­ção, o discípulo também tem que caminhar; mas agora tem a direção correta. Agora nenhuma possibilidade há de perder seu caminho.

Há pessoas que tratam de buscar todas as coisas num instante. De um lado temos perfeição, de outro, imperfeição. Alcançar a perfeição num momento não é possível. Uma pessoa tem que trabalhar. Nenhum Mestre há no mundo que possa dar toda a luz num momento.

Como Funciona a Luz

Por exem­plo: Quero ir a Arequipa e caminho também durante a noite. Então certa pessoa me dá uma lâmpada acesa. Observo que com esta lâmpada posso ver só uma parte do caminho e di­go-lhe então

- Ô! Esta lâmpada não vale muito pois não posso ver todo o caminho com a luz dela.

O homem que me deu a lâmpada diz então:

- Deixe suas preocupações com a lâmpada, seguramente você pode percorrer o caminho. Sem­pre a luz vai estar mais a frente que sua vista.

Dessa mes­ma maneira, sempre a luz que o Mestre dá direção ao discípu­lo. Ao discípulo que anda certa distância, a lâmpada começa a ensinar-lhe algo mais do caminho. Finalmente o discípulo alcança a meta da vida.

Quem é o Iniciado

Portanto, quando uma pessoa tem a luz e a direção, tem a Iniciação. A Iniciação é acender a luz e ter a indicação do caminho; e agora, com sua própria vontade, o discípulo tem que andar. Mas, o que o Mestre lhe dá, sempre o conduz ao fim. É a Iniciação.

O discípulo jamais deve deixar apagar a vela. Há muitos ventos: ventos do desejo, ventos das paixões, da sensualidade; e outros tantos! Quando estes ventos da sensualidade apag­am a lâmpada da luz que se recebe do Mestre o discípulo não pode buscar o caminho.

Então o discípulo tem que formar as paredes da disci­plina estrita ao redor de sua personalidade. Esta disciplina estrita é uma parte da Iniciação. Infelizmente, agora as pessoas falam sobre Espiritualidade, sobre Yoga e outras tantas coisas, mas não têm disciplina alguma na vida. É um grande problema!

Os Supostos Gurus

Amigos meus, eu tenho muita pena, muita dor quando ouço coisas incríveis. Os supostos Gurus falam coisas estra­nhas e os discípulos também supostos dizem coisas estranhas, e simplesmente tratam de explorar as emoções e sentimen­tos das pessoas. É terrível!

Uma pessoa disse-me no México, que segundo seu Guru, um discípulo deve manter o auto-controle somente uns meses ou alguns anos, e depois pode fazer qualquer coisa. Que classe de Iniciação é essa? Não compreendo. Parece-me que isso não é Iniciação; é confusão. A Iniciação é diferente. Uma vez queimado no fogo da Iniciação, a sensualidade não pode re­viver.

Dizem que há uma árvore muito grande na Índia que se pode cortar, mas depois cresce de novo. Não se pode destruir. Então não tem sentido algum cortar essa árvore. Só há um meio de destruí-la; deve-se queimá-la. Quando a árvore se queima já não volta a crescer. O discípulo trata de cortar a árvore de sua sensualidade, e esta cresce outra vez. Não pode destruí-la. Só o Guru pode queimar esta árvore completa­mente, depois não poderá mais crescer. Quem não pode quei­mar a árvore da sensualidade, não pode ser um Guru. Então, o Guru é o fogo que queima toda a sensualidade na mente.

Dono de Si Mesmo

A iniciação não é para se compreender ou ser ensinada nos livros. Esta tarefa é dos professores de Universidade. São eles os que ensinam todas as palavras tais como: "o dicionário diz" ou "a gramática diz ... " ou "Kant diz isto ou aquilo..." As pessoas que estudam nos Institutos Educacionais sempre dizem: "Eu não sou o dono de minha mente". Mas o Mestre faz a seu discípulo o dono de si mesmo, de sua mente!

Um Guru certa vez perguntou a seu intranquilo discípu­lo:

- Que se passa contigo? Por que não podes meditar apro­priadamente?

- Sempre penso na colheita que está no campo e que a qualquer momento os ladrões podem levá-la.

Então o Mestre disse-lhe:

- Bem, vá agora, colhe e guarda os grãos em tua casa. Depois venha para meditar.

Depois de pôr a colheita na sua casa, o discípulo regressou. Mas tampouco teve tranquilidade. O Mestre perguntou novamente:

- E agora, qual é o problema?

- Penso que os ratos podem comer toda a colheita.

- Vá, outra vez. Vende a colheita, depois compra ouro e volta.

- E agora que há?

- O ouro está em casa e qualquer um pode roubá-lo, essa é minha preocupação!

- Olha, vá mais uma vez e faz com o ouro alguns ornamentos e usa-os.

Depois, com os ornamentos na sua mão, o discípulo continuou com problemas. O Guru per­guntou-lhe:

- Que problema há agora?

O discípulo disse:

- Mestre, quando sento para meditar, eu penso: "Quando estou meditando, qualquer pessoa pode roubar e ...

En­tão o Mestre perguntou:

- Tens fé em mim?

- Sim, te­nho.

- Então filho meu, dá-me essas jóias ...

Imediata­mente o Mestre que nesse momento estava à beira do rio, tomou os ornamentos e os atirou à água e lhe disse:

- Agora deves meditar apropriadamente.

O Mestre no princípio ganha a confiança de seu discí­pulo e depois trata de dirigir a mente do discípulo para o Ser Supremo, Deus. Porque há muitas atrações e tentações e um aspirante deve evitar todas elas. Esta é a Iniciação.

A Vida de Renúncia

Sem dúvida há muita confusão sobre a vida da Renúncia também. As pessoas dizem que se pode seguir a vida de re­nunciação por uns dias e depois, outra vez pode-se regressar ao mundo. Eu não compreendo com que classe de autoridade tratam de justificar essas palavras. Não compreendo. Segun­do a informação que tenho, aquele que segue o caminho da renúncia não pode regressar nunca. É o caminho do avanço. Neste caminho, nenhuma possibilidade há de voltar.

Havia um grande santo na Índia. Chamava-se Swami Ramananda e uma pessoa aceitou a Iniciação com este gran­de Mestre. A Iniciação e a Renunciação.

Depois o Guru soube que esta pessoa teve sua família, sua esposa. Segundo a tradição da Índia, uma pessoa não pode renunciar a sua vida mundana enquanto não obtenha a permissão: quando solteiro, de seus pais - especialmente de sua mãe - e, se casado, de sua esposa.

Ele entrou na vida de renunciação sem obter a permissão de sua esposa, e assim o Mestre disse-lhe:

- Você tratou de enganar-me e agora tem que regressar à sua vida mundana.

Dizem que ele teve dois filhos e uma filha. Segundo as leis da vida hinduísta uma criança tem que receber a consagração. Quando chegou o momento da consagração, os sacerdotes disseram:

- Nós não podemos consagrar aos filhos de um Sannyasin. O Sannyasin que entra outra vez na vida familiar é pior que qualquer pecador. Não podemos aceitá-la.

Amigos, é certo que um Sannyasin é melhor que um rei na Índia. Na presença de um Sannyasin, nem um rei pode sentar-se em seu trono. Mas quando um Sannyasin cai, é pior que um cão. Não pode entrar em casa alguma. É terrível, muito terrível! Assim os sacerdo­tes disseram:

- Não podemos consagrar os filhos de uma pes­soa caída.

Mas quando os pais das crianças rogaram com insistência, os sacerdotes disseram:

- Talvez haja uma solu­ção; vocês deverão saltar no Ganges e perder suas vidas. De­pois nós poderemos considerar o caso de seus filhos.

Diz-se que ambos saíram e saltaram no Ganges e morreram. Não quero eu acrescentar mais nada neste campo, mas simples­mente indicar que no campo da Renúncia não há regresso possível. Antes de entrar no campo da Renunciação, uma pessoa deve pesar apropriadamente. Por isso, quando alguém me diz:

- Swami, quero segui-lo.

Eu respondo:

- Por favor, espere. Não há pressa alguma. Antes de entrar, deve pensar, mas depois de entrar não deve arrepender-se.

O Hábito não faz o Monge

Hoje em dia há muitos tipos de Swamis. Perguntaram-me certa vez:

- Há Swamis que tomam licor?

Talvez haja Swa­mis assim, especialmente no mundo Ocidental, onde as pes­soas nada sabem sobre a vida de um Swami.

Na Califórnia, nós estivemos com uma família que tinha Ashrama. Todas as palavras que vem da Índia tem um sen­tido diferente no mundo Ocidental.Assim, na Índia, nos Ashramas, vivem os monges ou os renunciantes, e aqui no Ocidente, nos Ashramas vivem as famílias.

Que estranho!

De qualquer maneira, nós estávamos com esta família e um dia o chefe da casa, que se dizia um Yogue, trouxe umas vestes de cor açafrão e disse:

- Swami, que lhe parece? Posso pôr estas vestes?

Eu perguntei-lhe:

- Para quê? Para quê quer pô-las?

- Ó! Eu também quero ser um Swami".

Eu disse:

- Amigo meu, uma pessoa não pode fazer-se Swami dessa maneira.

- Por que não pode?

- Antes de entrar nessa vida, você deve buscar e perguntar que classe de vida é necessária para isso. A cor não é impor­tante. Enquanto o coração e a mente não sejam de cor açafrão, de nada serve pôr-se as vestes dessa cor. Amigo meu, não deve fazer isto.

Minhas palavras não lhe agradaram, mas eu tinha que dizer a verdade. Não deve haver pressa alguma neste campo. Uma pessoa deve entrar nesta vida depois de compreender sua responsabilidade. Este caminho não é para buscar a fama, dinheiro ou outra coisa qualquer. É o caminho da renunciação completa.

Qualidade e Quantidade

Com frequência as pessoas perguntam:

- Swami, quantos discípulos tem seu Guru?

Eu digo:

- Amigo meu, eu não sei.

A gente tem a ideia que os grandes Gurus têm muitos discípulos, mas não é certo isto. Algumas vezes um grande Guru tem só um discípulo, ou nenhum. Muita gente vem e os solicitam, mas os Mestres não os aceitam. Porque quando um Guru aceita a uma pessoa como seu discípulo, toda a responsabilidade do discípulo está nos ombros do Guru.

Quando um discípulo cai, não só cai o discípulo, mas também o mestre cai. É uma grande responsabilidade.

Então a Iniciação é o começo da vida perfeita, da vida pura e até que um discípulo não demonstre seu poder inte­rior, o Mestre não o aceita. As leis são muito estritas neste campo.

Tenho expressado as coisas com franqueza.

A Iniciação Pelo Sexo

Há mestres, que tipo de mestres, eu não compreendo! Dizem - e eu os escutei no México e nos Estados Unidos - ­que dão a Iniciação por meio do sexo. Na realidade não são Mestres. São demônios! A vida da espiritualidade nada tem a ver com estas coisas. É só para justificar suas fraquezas que as pessoas tratam de explicar as coisas assim; ou as in­terpretam mal.

Muitas vezes a gente diz:

- No mundo Ocidental uma vida tão estrita não é possível.

Eu digo:

- Muito bem. Pos­sível ou impossível, e se a gente aceita ou não aceita, não é importante. De qualquer maneira a gente deve saber a ver­dade. Isso é mais importante. Nenhum tipo de confusão se deve criar nisto. Quem não a aceita hoje, pode aceitá-la ama­nhã. Quem não a aceita nesta vida poderá aceitá-la em ou­tra! Mas em nome da Luz ou em nome do que seja, não deve aceitar a Escuridão. Em nome da necessidade de uma pessoa, a definição da Verdade não pode mudar; nem alte­rar-se sequer!

Então, quando eu disse estas coisas em Los Angeles, muita gente disse-me:

- Swami, o senhor pode fazer-se impopular...

Mas quem se preocupa com a popularidade? Eu não cheguei aqui para buscar a popularidade. Estou aqui simplesmente para dizer a verdade. Aquele que a aceita a aceita. Aquele que não a aceita não a aceita. Que vale a po­pularidade? Pela manhã a gente é popular e pela noite já não é mais. A popularidade não é importante! A Verdade é importante!

Um grande Santo, Rama disse:

- Toda a humanidade pode se me opor mas não tenho medo, porque toda a Natureza me sustenta. As Estrelas sustentam-me, o Sol sustenta-me, a Lua sustenta-me, as monta­nhas sustentam-me. Os oceanos, os rios, cada partícula do Universo me suporta!' Não me preocupo sobre toda a huma­nidade ... não me preocupo.

É o caminho da Verdade.

Fonte: Jnana Mandiram





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