segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Quem ajuda quem?

TEXTO DE Edison Rabello Jr.

MAIS UMA VEZ uma tragédia me impele a uma reflexão sobre nossa postura de vida e suas consequências: ano passado foi o terremoto no Haiti e desta vez foi a destruição provocada pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro.

Quando esse tipo de coisa acontece é normal que haja uma comoção geral e muita gente se prontifica de imediato para socorrer e auxiliar os sobreviventes, doando seu tempo, seus bens, seu carinho e atenção aos que estão nesta situação calamitosa. Mas, na verdade, quem ajuda quem? O que é realmente ajudar alguém? Será que temos condições, no nível evolutivo em que estamos, de realmente ajudar alguém?

O meu conceito de ajuda é tirar alguém - seja gente ou animal - de uma situação para outra melhor, independente de que setor da vida esteja em questão. Isso já daria margem pra confusão, porque melhor e pior são coisas relativas, mas não vamos complicar. Por exemplo, adotar um cachorro ou uma criança de rua, dar condições materiais para que cresçam e se transformem em seres mais evoluídos é uma forma de interpretar o conceito de ajuda.

Ajudando a Complicar

O mais comum é mesmo associarmos ajuda com doar coisas materiais, mas também podemos chamar de ajuda coisas como se dispor a ouvir o outro, dar atenção e carinho, conforto espiritual. Eu acredito que as pessoas que se prestam a auxiliar quem precisa o fazem de boa-fé, com boas intenções; entretanto, muitas vezes, no afã de "ajudar", acabam complicando ainda mais a situação, porque não têm consciência das consequências de seus atos.

Por exemplo, se um homem desesperado te pede esmola na rua e você dá sem pensar, você acha que está ajudando e sendo caridoso, bondoso; mas o homem, em seu desespero, pode estar juntando dinheiro pra comprar uma arma e se matar ou então matar outras pessoas num assalto, inclusive você. Então você diria: "mas isso já não é problema meu, o meu papel é ajudar". E eu digo: é problema seu, sim, porque, sem ter a visão correta do processo que está se desenrolando por trás, no lado oculto da vida, você quis apenas bancar o bom samaritano, mas acabou armando uma pessoa desesperada, aumentando o poder de uma força hostil que pode estar se aproveitando daquela pessoa.

Meu professor de Ocultismo me ensinou que na maior parte das vezes em que damos esmola e outros tipos de ajuda material, na verdade estamos dizendo a nós mesmos: "eu tenho medo de ficar na mesma situação que esta pessoa", e isso alivia o peso que sentimos só de pensar na possibilidade de cair na mesma situação. Isso é ajudar de verdade?

Costumo questionar que, se Deus, o Criador, criou sozinho tudo o que existe, por que cargas d'água vai precisar de mim pra manter as coisas funcionando? Como é que eu posso sequer imaginar que tenho condições de ajudar alguém, seja de que forma for, se não consigo nem ajudar a mim mesmo a resolver meus problemas?

Descomplicando a Ajuda

Pode dar a impressão de que essa é uma postura egoísta e acomodada; então vamos colocar as coisas na direção correta.

A vida como um todo só evolui como resultado da evolução individual de cada um de nós, de tudo o que é vivo. Todos os seres vivos são únicos e contribuem de forma única para o processo total de evolução da vida. O que eu tenho que fazer, outra pessoa ou uma planta não podem fazer por mim. A verdade da coisa, e é um dos maiores paradoxos da vida, é que os únicos beneficiados pelo que fazemos pelos outros, somos nós mesmos; nós crescemos quando doamos algo de nós pra vida e assim a vida cresce. Nenhum de nós, no nível de evolução pessoal em que nos encontramos, tem condições de ajudar a quem quer que seja, a não ser a nós mesmos. Tudo o que fazemos "de bom" para outras pessoas só reverte em nosso favor e não do delas. Até porque dar esmola, doar roupas e mantimentos ou dinheiro significa muito pouco no cômputo geral das necessidades de quem recebe essas coisas, por dois motivos.

Primeiro, porque o alcance de nosso auxílio é muito pequeno. Damos o auxílio agora, mas como as pessoas vão continuar sobrevivendo depois? Numa tragédia como esta, pessoas que perderam tudo vão precisar de mais do que a "caridade" alheia para se manterem vivas, além do que ninguém deve viver dependendo de ninguém.

E segundo, porque o alívio do sofrimento é imediato, mas as causas que as levaram a passar pelo sofrimento não vão ser resolvidas com nossa "ajuda" - mesmo se for pelo conforto espiritual. Não fazemos a menor ideia dos motivos ocultos que levaram aquelas pessoas a estar naquele lugar, naquela hora, e nem porque alguns sobreviveram "milagrosamente" apesar de terem passado pelas mesmas circunstâncias. Isso só as próprias pessoas que sofrem é que vão poder saber, mais cedo ou mais tarde na vida, com mais ou com menos sofrimento; é uma questão de consciência e de escolhas - feitas e por fazer - nesta e em outras vidas, passadas e futuras.

Ajudando sem Ajudar

Então, o que proponho não é ficarmos de braços cruzados. Creio que, se temos condições de aliviar o sofrimento alheio de alguma forma, é nosso dever fazê-lo, mas sabendo que estaremos agindo como instrumentos nas mãos de Forças muito elevadas espiritualmente, e somente elas é que têm realmente condição de ajudar.

Temos que fazê-lo sempre com esta consciência: eu não ajudo ninguém a não ser a mim mesmo e não tenho direito de esperar que façam o mesmo por mim, em tempo algum.

É uma Lei da Natureza, uma verdade afirmada categoricamente por Grandes Seres, como por exemplo, os santos indianos Swami Tilak e Swami Vivekananda, de que é nosso dever agir e não esperar pelos frutos da ação; que nós é que devemos agradecer às Forças Divinas pela oportunidade de auxiliar outras pessoas, porque afinal de contas somos todos seres em evolução e navegamos o mesmo barco em direção à Divindade.

Então, quem ajuda quem?





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