terça-feira, 11 de agosto de 2009

O Sucesso, a Vitória e a Abundância

Texto de Dudu Lopes

lakshmi-abundancia.jpgA deusa Lakshmi do Hinduismo.
Uma representação de Deus como doador de abundância.

TODOS QUEREMOS FELICIDADES e facilidades na vida, e geralmente as traduzimos num dos três estados que as trazem até nós, estados que damos os nomes de sucesso, vitória e abundância.

Entender a diferença entre esses três estados é fundamental para conseguir felicidades e facilidades na vida de forma segura.

O Sucesso

O sucesso é a celebridade da vez, e não é de hoje. Livros sobre as leis do sucesso pululam há décadas e todos nós queremos o sucesso, de preferência em tudo. O que há de mais atraente no sucesso é que ele vem até nós, sem esforço direto, apenas pela manipulação de certas leis mentais.

É delicioso desfrutar de algo que tenha chegado por si, como o leite materno que chega da mãe, saboroso, morninho, e a gente nem precisa cortar a ponta da caixinha.

A gente vê muitas pessoas sem a menor competência se tornando chefes em suas empresas, se tornando artistas de sucesso, e outros que chegam ao virtuosismo de se tornarem vagabundos de sucesso, sem nada pra fazer por toda a vida. E vê também gente que se mata de estudar e trabalhar e não consegue muita coisa.

Segundo os livros sobre o sucesso, aquelas pessoas de sucesso seguiram - consciente ou inconscientemente - leis fixas que trouxeram o sucesso até elas. E a gente olha certas pessoas que parecem nem ter mente e pensa: como uma ameba dessas pode manipular leis universais? A mente pode estar consciente ou inconsciente, mas é a mesma mente.

Como uma pessoa com a mente fraca pode manipular as leis do sucesso? Não pode. Ela obtém sucesso se aliando a seres astrais (humanos ou não) que manipulam as leis do sucesso para elas. Isso é feito, por um lado, para que a pessoa evolua ao conhecer todas aquelas coisas que o mundo oferece ao ser humano que despertam desejo, pois não desejamos nada que não tenhamos conhecido previamente, nesta ou em outras vidas.

Por outro lado, existem seres astrais hostis que fornecem essa prestação de serviço para seduzir o pobre coitado de sucesso para dentro de suas garras. O próprio sucesso é um objeto de desejo usado para aliciar os inexperientes.

Três tipos de pessoas desfrutam do sucesso:

  1. Aquelas que têm as leis do sucesso manipuladas por seres que promovem a evolução da pessoa.
  2. Aquelas que têm as leis do sucesso manipuladas por seres com interesses obscuros.
  3. E aquelas que manipulam elas próprias as leis do sucesso.

Os dois primeiros têm um efeito colateral sério: medo pela ameaça de perder o sucesso. Esse medo nem sempre é consciente, mas é sempre visível num nervosismo constante, traduzido em irritabilidade, hiperatividade, insônia e outras reações semelhantes.

Aquele que manipula ele próprio as leis do sucesso tem também o seu efeito colateral, a ameaça constante em cima de seu sucesso. Essa ameaça é feita por seres astrais (humanos ou não) que atacam em pulsos como contrações que começam com intervalos grandes e vão se estreitando até tomar o sucesso do sujeito.

A Vitória

Vitória é outra história, não tem nada a ver com sucesso. Sucesso é ganhar uma cesta de frutas importadas de um supermercado simplesmente porque se é o milésimo cliente, vitória é ter o conhecimento e as ferramentas necessárias para produzir todas as frutas que quiser comer, ou qualquer outra coisa que você escolha. É rápido se tornar o milésimo cliente, mas demora se tornar um produtor que produz abundância para si mesmo; por outro lado, o milésimo cliente não escolhe o que come, o produtor tem escolha; o milésimo cliente não tem garantia de que outro não ganhará a próxima cesta, o produtor tem.

Muita gente boa que não atinge o sucesso não está em busca do sucesso, mas em busca da vitória. Essas pessoas podem passar vidas aprendendo, trabalhando, lutando numa guerra invisível para os outros mas perfeitamente palpável para si. Olha as pessoas de sucesso em sua volta e tudo o que vê em sua vida são seus próprios fracassos e a luta para tentar vencê-los, uma luta não reconhecida pela sociedade porque nem sempre traz resultados visíveis e a curto prazo.

Depender do sucesso é uma experiência que, mais cedo ou mais tarde - na grande vida que é a constante na soma das pequenas vidas no mundo físico - causa um cansaço, uma revolta, pela impermanência e dependência que causa. Nesse estado de exaustão a gente chuta o balde e abraça o fracasso com todo o prazer possível em busca da vitória, da independência de criar para si o que é necessário para crescer e desfrutar das felicidades e facilidades da vida.

Quem busca a vitória não está interessado no sucesso e se vê imerso em fracassos constantes porque sua meta é aprender a produzir o sucesso e não atraí-lo. A quantidade de sucesso no mundo é fixa, a quantidade de sucesso é hoje o que era há milhares de anos atrás. Seres humanos e todos os demais seres compartilham a mesma quantidade de sucesso, e é comum a gente ver pela história que o sucesso apenas muda de mãos e nunca se multiplica.

O sucesso natural é conseguido por aqueles que manipulam as leis da atração, o "sucesso" produzido é criado por aqueles que manipulam as leis da criação, coisa muitíssimo mais difícil. Para se tornar um produtor são necessárias muitas vidas de fracasso, isto é, na rejeição do sucesso natural vindo de fontes erradas, e na luta para se obter conhecimento e ferramentas para a vitória e assim a conquista do que se deseja.

A guerra que todos nós travamos para atingir a vitória é travada em cima dos fracassos que são obstáculos a qualquer resultado, inclusive à vitória. Daí, as fontes corretas trazem sucesso natural em algumas poucas áreas para que tenhamos condição para a batalha. Toda pessoa em busca da vitória tem sucesso em alguma área: é perseverante, simpática ou amável de alguma forma, é inteligente, ou bonito, mas só até o ponto em que o sucesso não esconda a realidade da guerra.

Utilizar o sucesso vindo das fontes corretas e rejeitar aquele vindo das fontes erradas é um dos aprendizados mais importantes para aqueles que preferem a conquista da vitória à dependência do sucesso.

Cada vitória que se alcança, nas diversas áreas, dá segurança e estabilidade. O sucesso não dá segurança e estabilidade, só a vitória - conhecer os processos de produção de felicidades e facilidades em determinada área - dá segurança e estabilidade, que se traduz como autoconfiança.

Na época de São Francisco de Assis todos queriam ser ricos para serem poderosos, famosos e respeitados. São Francisco cortou o barato da rapaziada se tornando poderoso, famoso e respeitado, ao se tornar extremamente pobre voluntariamente. Um de meus professores espirituais me ensinou:

- São Francisco rejeitou a riqueza para conseguir a vitória de se tornar um com Deus por eliminar todas as dependências a que o ser humano é sujeito, inclusive depender da abundância. Mas isso não é para um borra-botas que nem você.

A Abundância

O vocalista da banda Fleet Foxes deu uma declaração recentemente que não vê mal algum nas pessoas baixarem suas músicas pela Internet:

- É uma coisa mesquinha se preocupar com isso, quer dizer, quanto de dinheiro uma pessoa precisa realmente?

A gente está muito mal acostumada com o conceito de que abundância é ter tudo o que o mundo pode oferecer. E, na verdade, abundância é tudo o que o mundo pode oferecer para nosso crescimento.

E a gente está muito mal acostumada com o conceito de que crescimento espiritual requer feiúra, miséria, doenças, uma disciplina neurótica e severa, uma mentalidade ascética e fria; se isso é absolutamente necessário para o crescimento espiritual, em todas as suas fases, praticamente a humanidade toda está fadada a uma infantilidade espiritual eterna.

Renúncia é rejeitar todo o objeto de desejo que vêm de fontes erradas. Essas fontes erradas para uma pessoa comum podem ser representadas por não se misturar com gente desonesta, para pessoas sensíveis aos planos superiores podem representar também rejeitar seres desonestos, para santos e sábios podem representar rejeitar também tudo o que vem de toda a Natureza manifestada, ficando somente com a felicidade da união com Deus, ou o Samadhi.

Outro conceito funesto que polui a nossa mente é o conceito da dualidade santo e pecador. Entre o pecador e o santo existem tantas gradações que é ridículo nos rotular como santo ou pecador.

Já vi pessoas querendo viver tudo, de tudo, gozar todos os gozos possíveis, começar muito bem, desfrutar de alguns e morrer na praia. Algumas vezes, morrer literalmente.

E já vi outras querendo renunciar, renunciar tudo, de tudo, se abster de todos os gozos possíveis, começar muito bem, renunciar alguns e chegar à praia para desfrutar da farofa alheia, se proteger na barraca de outro, e admirar a beleza da natureza dos biquínis e sungas dos passantes, morrendo na praia da hipocrisia.

A abundância é necessária para todos, para pecadores e santos, e para todos nós que não estamos perto nem de um extremo nem de outro. Se um santo como Swami Tilak renuncia ao uso de sapatos para mostrar a quem não pode ter sapatos que é possível ser feliz sem sapatos, isso não quer dizer que não devamos respeitar a nossa necessidade e até o nosso desejo por sapatos. Por trás da renúncia de sapatos de um Swami Tilak existe toda uma realidade abundante a que não temos acesso, a imitação barata de manifestações exteriores de renúncia é fadada a hipocrisia.

Desejar faz parte da condição humana, e louco é aquele que não deseja sem entender o porquê de não desejar tal coisa. E se ainda não é louco, vai se tornar, e vai se tornar um louco hipócrita.

Não devemos desejar só o que é grandioso ou elevado, mas desejar também as coisas pequenas e prosaicas, como uma calça nova.

A abundância é o crescimento do estado de vitória, e quando atingimos o estado de vitória em qualquer área devemos começar o trabalho de expansão da vitória, isto é, gerar abundância para si e para todos aqueles prontos para essa abundância.

Devemos desejar muito, querer o que é seguro, desfrutar do que é possível e compartilhar o abundante.

Veja também:
O Segredo





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