terça-feira, 26 de novembro de 2013

Verdadeira Caridade

Texto de Nolini Kanta Gupta.

Nolini Kanta Gupta

A CARIDADE, como é geralmente entendida, consiste em prestar auxílio material aos semelhantes, dar esmolas aos pobres, remédios aos doentes, dinheiro ou bens materiais àqueles que necessitam deles e também trabalho físico onde for exigido. Tudo isto é bom e bem. O mundo está repleto de doenças e privações e calamidades. E se algo for feito que possa aliviá-lo, está tudo certo, e atividades nessa direção merecem total encorajamento.

Mas isto não leva muito longe, não toca a raiz do problema. Essa é a maneira humana de lidar com as coisas e portanto, muito limitada em seu campo de ação e eficiência. Há uma forma mais elevada e mais divina — o caminho do espírito — para a cura dos males terrenos, cura e não meramente alívio.

Esta era a inspiração secreta por trás da mensagem de Cristo e de Buda.



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Oração a São Francisco de Assis

 

São Francisco de Assis

QUE minha inteligência
Proteja os ignorantes.

Que meus músculos
Protejam os frágeis.

Que minha beleza
Inspire a pureza.

Que minha saúde
Inspire aos doentes.

Que minha fortuna
Dê vida ao pobre.

Que minha pobreza
Dê utilidade ao rico.

Que minha doença
Me faça ver além do corpo.

Que minha feiura
Me faça ser mais do que o corpo.

Que minha fragilidade
Me ensine a força da Alma.

Que minha ignorância
Me exiba a força da Providência.

Que minhas crenças
Não substituam a realidade.

Que imaginando Deus no coração
Não fique cego à realidade de Deus
No dia a dia do mundo exterior.



segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Videntes, Médiuns e Entidades

Texto de DUDU LOPES.

Emmanuel

MUITA GENTE, e me arrisco a dizer, a maioria, tem a ilusão de que  videntes, médiuns e entidades são seres perfeitos quando estão trabalhando nessas atividades nada convencionais.

Não são.

Nesse mundo em que vivemos – no Plano Físico ou no Plano Astral - não há perfeição. Isso não significa que videntes, médiuns e entidades sejam desprezíveis seres imperfeitos, significa que algumas vezes, por mais boa vontade que tenham, as circunstâncias astrais, as circunstâncias da vida do vidente ou médium, e até da circunstância da vida da entidade, podem atrapalhar seus trabalhos.

Talvez porque, na minha opinião, a vidência, a mediunidades e o trabalho de ajudar as pessoas estando fora do Plano Físico, como fazem as entidades, sejam as atividades religiosas mais difíceis que se possa cumprir, muitos se vendem como videntes que acertam sempre ou médiuns que acertam sempre. É uma pena, pois isso só piora as coisas.

Trabalho Difícil

Aconselhar repetindo versículos de algum livro religioso tradicional ou as noções já aceitas da psicologia, ou curar através da  medicina regulamentada em algum hospital religioso, é coisa de criança em comparação com transmitir o conhecimento vindo de um plano fora do Plano Físico, ou fazer uma intervenção na saúde física ou mental de uma pessoa através de seu corpo astral.

Apesar dos esforços da Teosofia e do Espiritismo, o Plano Astral como chamam os teosofistas ou o Mundo dos Espíritos como preferem os espíritas, ainda é muito desconhecido, complicado e negado pela maioria.

Quando for se consultar com um vidente ou um médium, lembre-se que você tem um ser humano na sua frente. Não fique achando que vidência e mediunidade é sinônimo de adivinhação.

Como se Consultar

Muitos videntes e médiuns fazem adivinhações, mas não é certo que isso aconteça todo o tempo com o mesmo vidente e médium, ou que ele acerte 100% das vezes. Então, não é melhor a gente contar o que a gente pode contar do que ficar achando que o vidente ou médium vá adivinhar aquilo que não nos custa descrever?

Não entre em detalhes de nomes completos de pessoas ou de empresas, endereços ou o saldo de sua conta bancária; videntes e médiuns não precisam desses detalhes. Mas por que esconder que seu problema é que um colega de trabalho está passando a perna em você  e os detalhes das circunstâncias?

Se não confia num vidente ou médium, não busque sua ajuda. Procure outro.

Ninguém é perfeito, tenho certeza que Chico Xavier não recebeu 100% das vezes mensagens diretas de parentes falecidos, muitas vezes recebeu mensagens genéricas apenas para consolar uma pessoa ali presente.

Se isso não é suficiente pra você, e você confia no médium ou vidente, seja sincero e converse sobre suas dúvidas. Diga ao “Chico Xavier” na sua frente que aquela mensagem está muito genérica, que você precisa de mais. Nenhum vidente, médium ou entidade de bom coração vai desprezar uma ou muitas dúvidas se você confia nele.

O Mestre Espiritual

Eu tenho muitas dúvidas sobre os ensinamentos de meu Guru ou Mestre Espiritual, Swami Tilak, tem coisas até que não concordo, mas não duvido em nenhum momento de sua capacidade de me ajudar ou de sua honestidade.

Em relação aos ensinamentos sobre a Divindade e sobre a natureza oculta da vida a confiança tem que ser em quem aconselha ou ensina, se não há confiança, a estranheza da natureza oculta ou do caminho que nos leva à Divindade vai causar desconfiança frequentemente até terminar em desistência.



domingo, 1 de setembro de 2013

A Mente Universal

Texto de SWAMI TILAK.

ESTA MANHÃ, na Universidade de Brasília, eu tratei de explicar como a nossa mente cria as coisas no mundo.

Por exemplo: temos uma mesa ou cadeira. Aparentemente todos têm razão de aceitar a existência da mesa. Mas quando pomos esta mesa em frente a um microscópio poderoso, a mesa desaparece e em seu lugar aparece um conjunto de átomos.

E quando pomos os átomos em frente de outro microscópio mais poderoso, os átomos também desaparecem e temos elétrons, prótons e nêutrons. E depois tudo se dissolve no oceano da energia.

Então, o mundo da forma é uma criação da limitação de nossa visão. Necessitamos da visão. Necessitamos da visão ampliada para nos liberar das formas porque nossa mente está cativada por elas.

Um artista diz:

- Esta coisa é muito bela!

E outra pessoa diz:

- Esta coisa é muito boa para comer!

Por exemplo: temos uma maçã. Então um artista trata de pintar a maçã maravilhosamente, mas outra criatura quer comê-la. Então, onde existe a beleza?

Uma mulher é muito bela, mas quando um leão se encontra com esta mulher não quer apreciar sua beleza, quer comer. Para o homem, a mulher é bela, mas para o leão, não. Então, onde existe a beleza? Não existe na mulher. Existe na mente.

A beleza não é nenhuma coisa eterna ou permanente.

É somente uma coisa transitória. Quando uma pessoa pode controlar sua mente, pode ver a beleza em qualquer coisa ou pode liberar-se de qualquer coisa.

Neste sentido uma pessoa que tem controle sobre sua mente pode ser o todo, e o todo é o universo.

Uma pessoa sem controle sobre sua mente é um escravo do mundo e uma pessoa com controle mental é dono de todo o universo.



domingo, 25 de agosto de 2013

Cristo, o Mensageiro–Parte IV (Final)

Texto de Swami Vivekananda.
Em 1900.

Swami-Vivekananda.jpg

A OUTRA GRANDE lição do Mensageiro, que é a base de todas as religiões, é a renúncia. Como você pode fazer o espírito puro? Por renúncia.

Um jovem homem rico perguntou a Jesus: "Bom Mestre, o que devo fazer para que eu possa herdar a vida eterna?"

E Jesus disse-lhe: "Uma coisa te falta; vai-te, vende tudo quanto tens, e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. E vem, toma a tua cruz e siga-Me".

E ele ficou triste com aquelas palavras e foi embora triste, porque possuía muitos bens.
Estamos todos mais ou menos assim. A voz está soando em nossos ouvidos dia e noite. No meio dos nossos prazeres e alegrias, no meio das coisas do mundo, pensamos que nos esquecemos de todo o resto.

Em seguida, vem um momento de pausa e a voz soa em nossos ouvidos: "Desista de tudo o que tens e siga-Me".

"Todo aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por minha causa achá-la-á"

Pois quem desiste desta vida por causa dele, encontra a vida imortal. No meio de toda a nossa fraqueza há um momento de pausa e a voz soa: "Desista de tudo o que tens, dai aos pobres e siga-Me".

Este é o ideal que ele prega, e este tem sido o ideal pregado por todos os grandes profetas do mundo: a renúncia.

Renúncia é Altruismo

Qual o significado de renúncia?

Que há apenas um ideal na moral: altruísmo. Seja altruísta. O ideal é o altruísmo perfeito. Quando um homem é atingido na face direita, vira a esquerda também. Quando um casaco de um homem é levado, ele dá sua capa também.

Devemos trabalhar da melhor maneira que pudermos, sem arrastar para baixo o ideal. Aqui está o ideal. Quando um homem não tem mais ego nele, nenhuma posse, nada para chamar de "eu" ou "meu", se entregou inteiramente, destruiu a si mesmo por assim dizer – neste homem está o próprio Deus; pois nele a vontade própria se foi, esmagada, aniquilada.

Esse é o homem ideal.

Não podemos chegar a esse estado ainda; por hora, adoremos o ideal e, lentamente, esforcemo-nos para alcançar o ideal, embora, talvez, com passos vacilantes.

Pode ser amanhã, ou pode ser daqui a mil anos; mas o ideal tem de ser alcançado. Pois não é só pelo final, mas também os meios.

Ser inegoísta, perfeitamente altruísta, é a própria salvação; porque o homem dentro morre, e somente Deus permanece.

Basta Crer em Jesus?

Mais um ponto. Todos os instrutores da humanidade são altruístas. Suponha que Jesus de Nazaré estava ensinando, e um homem veio e disse-lhe:

- O que você ensina é lindo. Eu acredito que é o caminho para a perfeição, e eu estou pronto para segui-lo; mas eu não me preocupo em adorá-lo como a unigênito Filho de Deus.

Qual seria a resposta de Jesus de Nazaré?

- Muito bem, irmão, siga o ideal e avance do seu próprio jeito. Eu não me importo se você me dá o crédito para o ensinamento ou não. Eu não sou um lojista. Eu não faço comércio com a religião. Só ensino a verdade, e a verdade não é propriedade de ninguém. Ninguém pode patentear a verdade. Verdade é o próprio Deus. Vá em frente.

Mas o que os discípulos dizem hoje em dia é:

- Não importa se você praticar os ensinamentos ou não, você dá crédito ao Homem? Se você dá crédito ao Mestre, você será salvo; se não, não há salvação para você.

E assim, todo o ensinamento do Mestre é degenerado, e todo o esforço e a luta são para a personalidade do homem.

Eles não sabem que ao impor essa diferença, eles estão, de certa maneira, trazendo vergonha para o próprio Homem que quer honrar - o mesmo Homem que teria se encolhido de vergonha de tal ideia.

O que lhe importava se havia um homem no mundo que se lembrava dele ou não? Ele tinha que entregar sua mensagem, e ele entregou.

E se ele tivesse vinte mil vidas, ele daria todas para o homem mais pobre do mundo.

Se ele tivesse que ser torturado milhões de vezes por um milhão de samaritanos desprezados, e se para cada um deles o sacrifício da sua própria vida fosse a única condição para a salvação, ele teria dado a sua vida.

E tudo isso sem querer ter seu nome conhecido até mesmo por uma única pessoa. Quieto, desconhecido, silencioso, ele iria trabalhar, assim como o Senhor trabalha.

Agora, o que o discípulo diz?

Ele vai lhe dizer que você pode ser um homem perfeito, perfeitamente altruísta, mas a menos que você dê o crédito ao nosso instrutor, ao nosso santo, não há qualquer proveito.

Por quê? Qual é a origem desta superstição, desta ignorância?

Deus Se Fazendo Homem

O discípulo pensa que o Senhor pode manifestar-se apenas uma vez. Aí reside todo o erro.

Deus se manifesta para você no homem. Mas em toda a natureza, o que acontece uma vez deve ter acontecido antes, e deve acontecer no futuro. Não há nada na natureza que não seja sujeito à lei; e isso significa que tudo o que acontece uma vez tem que continuar e tem que ter acontecido.

Na Índia, eles têm a mesma ideia das Encarnações de Deus. Uma de suas grandes Encarnações, Krishna, cujo grande sermão, o Bhagavad-Gita, alguns de vocês devem ter lido, diz: "Embora eu seja não-nascido, de natureza imutável, e o Senhor dos seres, mas subjugando meu Prakriti, eu venho a ser pela Minha própria Maya. Sempre que diminui a virtude e a imoralidade prevalece, então Eu encarno de novo. Para a proteção do bem, para a destruição dos ímpios, e para o estabelecimento do Dharma, eu torno a ser, em todos os tempos ".

Sempre que o mundo decai, o Senhor vem para ajudá-lo a seguir em frente, e assim Ele faz de tempos em tempos e um lugar para outro.

Em outra passagem Ele fala para este significado: “Onde quer que aches uma grande alma de imenso poder e pureza lutando para elevar a humanidade, saiba que ele é nascido de Meu esplendor, que estou lá a trabalhar através dele”.

Vamos, portanto, encontrar a Deus, não só em Jesus de Nazaré, mas em todos os grandes que o precederam, em todos os que vieram depois dele, e todos os que ainda estão por vir.

Nossa adoração é ilimitada e livre.

Carregando Sua Cruz

Eles todos são manifestações do mesmo Deus Infinito. Eles são todos puros e desinteressados; eles lutaram e deram suas vidas por nós, pobres seres humanos. Cada um e todos sofrem expiação vicária por cada um de nós, e também por todos os que hão de vir.

Em certo sentido, todos vocês são profetas; cada um de vocês é um Profeta, que carrega o peso do mundo sobre os próprios ombros. Você já viu um homem, você já viu uma mulher, que não esteja silenciosamente, pacientemente, carregando o seu pouco peso da vida?

Os grandes profetas eram gigantes – eles carregavam um gigantesco mundo em seus ombros. Comparado com eles somos pigmeus, sem dúvida, mas nós estamos fazendo a mesma tarefa, em nossos pequenos círculos, em nossas pequenas casas, estamos levando nossas pequenas cruzes.

Não há ninguém tão mau, ninguém tão sem valor, mas ele tem que carregar a sua própria cruz.
Mas com todos os nossos erros, com todos os nossos maus pensamentos e más ações, existe um ponto brilhante em algum lugar, ainda existe em algum lugar o fio de ouro através do qual estamos sempre em contato com o divino.

Pois, saiba com certeza, que o momento em que o toque do divino estiver perdido haveria aniquilação.

E porque ninguém pode ser aniquilado, há sempre algum lugar no fundo do nosso coração, por mais baixos e degradados que possamos estar, um pequeno círculo de luz que está em constante contato com o divino.

Nossas saudações a todos os profetas do passado cujos ensinamentos e vida herdamos, não importa qual tenha sido sua raça, região, ou credo!

Nossas saudações a todos os homens e mulheres Divinos que estão trabalhando para ajudar a humanidade, qualquer que seja o seu nascimento, cor ou raça!

Nossas saudações a todos aqueles que estão vindo no futuro - Deuses vivos - para trabalhar desinteressadamente para os nossos descendentes.



domingo, 18 de agosto de 2013

Cristo, o Mensageiro–Parte III

Texto de Swami Vivekananda.
Em 1900.

Swami-Vivekananda.jpg

POIS, VEJA VOCÊ, de três maneiras o homem percebe Deus.

No início, o intelecto subdesenvolvido do homem ignorante vê Deus tão longe, lá em cima nos céus em algum lugar, sentado em um trono, como um grande juiz. Ele olha para Ele como um fogo, como um terror.

Agora, isto é bom, pois não há nada de mal nisso. Você deve se lembrar de que a humanidade não viaja do erro para a verdade, mas de verdade em verdade; pode ser, se você preferir, da verdade menor para a verdade maior, mas nunca do erro para a verdade.

As Religiões

Suponha que você comece por aqui e viaje em direção ao sol numa linha reta. Daqui o sol parece pequeno em tamanho. Suponha que você vá em frente milhões de quilômetros, o sol vai parecer muito maior. Em cada fase, o sol vai se tornar cada vez maior.

Suponha que vinte mil fotografias foram tiradas do mesmo sol, de diferentes pontos de vista; estas vinte mil fotografias serão todas seguramente diferentes uma da outra. Mas você pode negar que cada uma é uma fotografia do mesmo sol?

Assim, todas as formas de religião, altas ou baixas, são apenas diferentes estágios em direção a esse estado eterno de Luz, que é o próprio Deus. Algumas incorporam uma visão mais baixa, outras uma um pouco mais alta, e esta é toda a diferença.

Até Deus

Portanto, as religiões das massas irracionais em todo o mundo devem ser, e sempre foram, de um Deus que está fora do universo, que vive no céu, que governa a partir desse lugar, que castiga o mau e recompensa o bem, e assim por diante.

À medida que o homem avançou espiritualmente, ele começou a sentir que Deus era onipresente, que Ele deve estar nele, que ele deve estar em toda parte, que Ele não era um Deus distante, mas evidentemente a Alma de todas as almas.

Como a minha alma move meu corpo, assim também Deus é o motor da minha alma. Alma dentro da alma.

E algumas pessoas que tinham se desenvolvido o suficiente e eram suficientemente puras, foram ainda mais longe, e finalmente encontraram Deus.

Como o Novo Testamento diz: "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus." E eles descobriram, finalmente, que eles e o Pai eram um só.
Você descobre que todos esses três estágios são ensinados pelo Grande Mestre no Novo Testamento.

Oração

Note-se a oração comum que ele ensinou: "Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o teu nome", e assim por diante - uma simples oração, a oração de uma criança.

Veja, é a "oração comum" porque é destinada para as massas ignorantes.

Para um círculo superior, para aqueles que avançaram um pouco mais, ele deu um ensinamento mais elevado: "Eu estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em ti".

Você se lembra disso?

E então, quando os judeus lhe perguntaram quem ele era, ele declarou que ele e seu Pai eram um, e os judeus pensaram que era uma blasfêmia. O que ele quis dizer com isso? Isso foi também dito por seus antigos profetas: "Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo”.

Note as mesmas três etapas. Você vai descobrir que é mais fácil para você começar com a primeira e terminar com a última.

Pureza

O Mensageiro veio para mostrar: que o espírito não está nas formas, que não é através de toda a sorte de dissabores e problemas complicados da filosofia que você conhece o espírito.

Era melhor que você não tivesse aprendido, melhor que você nunca tivesse lido um livro em sua vida. Estes não são de todo necessários para a salvação - nem riqueza, nem posição, nem poder, nem mesmo o aprendizado; mas o que é necessário é esta única coisa, pureza.

"Bem-aventurados os puros de coração", pois o espírito em sua própria natureza é puro. Como pode ser de outra forma? É de Deus, veio de Deus.

Na linguagem da Bíblia, "é o sopro de Deus".

Na linguagem do Corão: "é a alma de Deus".

Deus e a Impureza.

Você quer dizer que o Espírito de Deus pode de alguma forma ser impuro?

Mas, infelizmente, tem sido, por assim dizer, coberto com a poeira e a sujeira das idades, através de nossas próprias ações, boas e más.

Várias obras que não estavam corretas, que eram verdadeiras, cobriram o mesmo espírito com a poeira e a sujeira da ignorância das idades.

É necessário apenas limpar a poeira e a sujeira, e então o espírito brilha imediatamente. "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus".

"O Reino dos Céus está dentro de você". Onde tu vais buscar o Reino de Deus, pergunta Jesus de Nazaré, quando ele está lá, dentro de você?

Purifique o espírito, e ele está lá. Ele já é seu. Como você pode obter o que não é seu? Ele é seu por direito. Vocês são os herdeiros da imortalidade, filhos do Pai Eterno.

Esta é a grande lição do Mensageiro.



domingo, 4 de agosto de 2013

Cristo, o Mensageiro–Parte II

Texto de Swami Vivekananda.
Em 1900.

Swami-Vivekananda.jpg

VAMOS AGORA estudar um pouco da vida de Cristo, a Encarnação dos judeus.

Quando Cristo nasceu, os judeus estavam nesse estado que eu chamo de um estado de queda entre duas ondas, um estado de conservadorismo, um estado onde a mente humana está, por assim dizer, cansada de avançar por um tempo e está só tomando cuidado do que ela já tem; um estado em que a atenção está mais voltada para as particularidades, para os detalhes, do que para os grandes, gerais, e maiores problemas da vida, um estado de estagnação, ao invés de um seguir adiante; um estado de sofrer mais do que de fazer.

Veja, eu não culpo este estado de coisas.

Não temos direito de criticá-lo - porque se não fosse por esta queda, a próxima subida, que foi incorporada em Jesus de Nazaré teria sido impossível. Os fariseus e saduceus poderiam ter sido insinceros, eles poderiam ter feito coisas que não deveriam ter feito, eles poderiam ter sido até mesmo hipócritas; mas quaisquer que fossem esses fatores foram a própria causa, da qual o Mensageiro foi o efeito.

Os fariseus e saduceus em uma extremidade foram o impulso que saiu do outro lado, como o cérebro gigantesco de Jesus de Nazaré.

A Energia Espiritual

A atenção às formas, às fórmulas, aos detalhes cotidianos da religião, e aos rituais, às vezes pode ser ridicularizada; mas, mesmo assim, dentro deles há força.

Muitas vezes, na pressa para avançar perdemos muita força.

Como um fato, o fanático é mais forte do que o homem liberal. Mesmo o fanático, portanto, tem uma grande virtude, ele economiza energia, uma quantidade enorme dela.

Tal como é com o indivíduo também é com a raça, a energia é reunida para ser conservada.

Cercada por todos os lados por inimigos externos, obrigada a se concentrar em um centro pelos romanos, pelas tendências helênicas no mundo do intelecto, pelas ondas da Pérsia, Índia e Alexandria - cercada fisicamente, mentalmente e moralmente – lá estava a raça com uma inerente, conservativa, força tremenda, que os seus descendentes não perderam até hoje.

E a raça foi forçada a se concentrar e focar todas as suas energias em Jerusalém e no Judaísmo. Mas todo o poder quando uma vez reunido não pode permanecer recolhido; ele deve gastar-se e expandir-se.

Não há poder na terra que pode ser mantido por muito tempo confinado dentro de um limite estreito. Ele não pode ser mantido comprimido por demasiado tempo para permitir a expansão de um período subsequente.

Esta energia concentrada entre a raça judaica encontrou sua expressão no período seguinte, no surgimento do Cristianismo.

Os córregos recolhidos se reuniram em um corpo. Gradualmente, todos os pequenos riachos se uniram, e tornaram-se uma onda surgindo, no topo da qual encontramos destacando-se a figura de Jesus de Nazaré.

A Criação do Profeta

Assim, cada Profeta é uma criação do seu próprio tempo, a criação do passado de sua raça, ele mesmo é o criador do futuro. A causa de hoje é o efeito do passado e a causa para o futuro. Nesta posição está o Mensageiro.

Nele se materializa tudo o que é o melhor e maior em sua própria raça, o significado, a vida, pela qual que essa raça tem lutado por muito tempo; e ele mesmo é o impulso para o futuro, não só para sua própria raça, mas para incontáveis outras raças do mundo.

Jesus do Oriente

Devemos ter outro fato em mente: a minha visão do grande Profeta de Nazaré seria do ponto de vista do Oriente. Muitas vezes você se esquece, também, que o próprio Nazareno era o oriental dos orientais.

Com todas as suas tentativas de pintá-lo com olhos azuis e cabelo amarelo, o Nazareno ainda era um oriental. Todas as metáforas, as imagens, com que a Bíblia foi escrita - as cenas, os locais, as atitudes, os grupos, a poesia, o símbolo, - falam com você do Oriente: do céu brilhante, do calor, do sol, do deserto, dos homens sedentos e animais, de homens e mulheres que vêm com jarros em suas cabeças para enchê-los nos poços, dos rebanhos, dos lavradores, do cultivo que está acontecendo ao seu redor; da azenha e roda, da represa, das mós.

Tudo isso pode ser visto hoje na Ásia.

Os Gregos

A voz da Ásia tem sido a voz da religião. A voz da Europa é a voz da política. Cada uma é grande em sua própria esfera.

A voz da Europa é a voz da Grécia antiga. Para a mente grega, sua sociedade imediata foi tudo em tudo: além disso, é bárbara. Ninguém a não ser o grego tem o direito de viver. O que quer que os gregos façam é certo e correto; tudo o mais que existe no mundo não é nem certo, nem correto, nem deveria ter permissão para viver.

É intensamente humana em sua compreensão intensamente natural, intensamente artística, portanto. O grego vive inteiramente neste mundo. Ele não se preocupa em sonhar. Mesmo a poesia é prática.

Seus deuses e deusas não são apenas seres humanos, mas intensamente humanos, com todas as paixões e sentimentos humanos, quase o mesmo que como qualquer um de nós.

Ele ama o que é belo, mas, lembre-se, é sempre a natureza externa, a beleza das montanhas, das neves, das flores, a beleza das formas e das figuras, a beleza do rosto humano, e, mais frequentemente, na forma humana - isto é o que os gregos gostavam.

E os gregos sendo os professores de todos os europeus posteriores; a voz da Europa é grega.

A Ásia

Há outro tipo na Ásia.

Pense nesse vasto, imenso continente, cujos topos das montanhas vão além das nuvens, quase tocando a copa do céu azul; um imenso deserto de quilômetros e quilômetros onde uma gota de água não pode ser encontrada, nem uma folha de grama crescer; intermináveis florestas e rios gigantescos correndo para o mar.

No meio de todos estes ambientes, o amor oriental pelo belo e pelo sublime desenvolveu-se em outra direção. Ele olhou para dentro, e não fora.

Há também a sede pela natureza, e também há a mesma sede de poder; há também a mesma sede por excelência, a mesma ideia do grego e bárbaro, mas ela se estendeu sobre um círculo maior.

Na Ásia, ainda hoje, nascimento ou cor ou língua nunca fazem uma raça.

O que faz uma raça é a sua religião. Somos todos cristãos, somos todos muçulmanos, somos todos os hindus, ou todos budistas. Não importa se um budista é um chinês, ou é um homem da Pérsia, eles pensam que são irmãos, porque professam a mesma religião.

A religião é o laço, a unidade da humanidade.

E então, novamente, o oriental, pela mesma razão, é um visionário, um sonhador nato.

As ondulações das cachoeiras, o canto dos pássaros, as belezas do sol e da lua e as estrelas e toda a Terra são bastante agradáveis; mas eles não são suficientes para a mente oriental. Ele quer sonhar um sonho além. Ele quer ir além do presente.

O presente, por assim dizer, é nada para ele. O Oriente foi o berço da raça humana por muito tempo, e todas as vicissitudes da fortuna estão lá - reinos sucedendo reinos, impérios sucedendo impérios, o poder humano, glória e riqueza, tudo sucedeu lá; um Gólgota ​​de poder e aprendizagem. Esse é o Oriente: o Gólgota de poder, de reinos, de aprendizagem.

Não se admire, a mente oriental olha com desprezo para as coisas deste mundo e naturalmente quer ver algo que não muda, algo que não morre, algo que em meio a este mundo de miséria e morte é eterno, bem-aventurado, imortal.

Os Profetas Orientais

Um Profeta oriental não se cansa de insistir a respeito desses ideais; e, como profetas, você também deve se lembrar de que, sem uma única exceção, todos os Mensageiros eram orientais.

Vemos, portanto, na vida deste grande Mensageiro de vida, o primeiro lema: "Não esta vida, mas algo superior"; e, como o verdadeiro filho do Oriente, ele é prático nisso.

Vocês no Ocidente são práticos em seu próprio departamento, em assuntos militares, e na gestão de círculos políticos e outras coisas. Talvez o Oriental não seja prático nesses meios, mas ele é prático em seu próprio campo, ele é prático na religião.

Se alguém prega uma filosofia, amanhã há centenas de pessoas que vão lutar o melhor que podem para praticá-la em suas vidas. Se um homem prega que estar em um pé poderia levá-lo à salvação, ele conseguirá imediatamente quinhentos para ficar em um pé. Você pode chamá-lo de ridículo; mas, veja bem, debaixo disso está sua filosofia – esta intensa praticidade.

Os "Profetas" Ocidentais

No Ocidente, os planos de salvação significam ginástica intelectual - planos que nunca funcionaram, nunca foram trazidos para a vida prática.

No Ocidente, o pregador que fala melhor é o maior pregador.

Assim, encontramos Jesus de Nazaré, em primeiro lugar, o verdadeiro filho do Oriente, intensamente prático. Ele não tem fé neste mundo evanescente e todos os seus pertences.

Não há necessidade de interpretações exageradas e distorcidas (text-torture), como é a moda no Ocidente nos tempos modernos, não há necessidade de esticar os textos até que não se estiquem mais. Os textos não são uma borracha da Índia, e mesmo ela tem seus limites. Então, sem fabricar uma religião para agradar indevidamente ao senso de vaidade dos dias de hoje!

Jesus para os Ocidentais

Veja, sejamos todos honestos.

Se não podemos seguir o ideal, vamos confessar a nossa fraqueza, mas não degradá-lo; não deixe qualquer tentativa puxá-lo para baixo. Alguém fica doente do coração diante dos diferentes relatos da vida de Cristo, que os ocidentais dão.

Eu não sei o que ele era ou o que ele não era!

Alguém poderia fazer dele um grande político; outro, talvez, faria dele um grande general militar; outro, um grande judeu patriótico, e assim por diante.

Existe algum fundamento nos livros para todas essas suposições?

O Jesus Verdadeiro

O melhor comentário sobre a vida de um grande mestre é a própria vida dele.

"As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça."

Isso é o que Cristo diz ser o único caminho para a salvação; ele não estabelece nenhum outro caminho. Vamos admitir humildemente que não podemos fazer isso. Nós ainda temos predileção por "mim e minha". Queremos propriedade, dinheiro, riqueza.

Ai de nós!

Vamos nos confessar e não envergonhar este grande Mestre da Humanidade! Ele não tinha laços familiares. Mas você acha que, aquele Homem tinha quaisquer ideias físicas nele? Você acha que, esta massa de luz, esse Deus e não homem, desceu à terra, para ser o irmão de animais?

E, no entanto, as pessoas fazem-no pregar todos os tipos de coisas.

Ele não tinha nenhuma ideia do sexo! Ele era uma alma! Nada além de uma alma - apenas manobrando um corpo para o bem da humanidade, e que era toda a sua relação com o corpo.

Na alma não há sexo. A alma desencarnada não tem relação com o animal, nenhuma relação com o corpo.

O ideal pode estar muito longe, para além de nós. Mas não importa, mantenha o ideal. Vamos admitir que este é o nosso ideal, mas não podemos alcançá-lo ainda.

A Missão de Jesus

Ele não tinha outra ocupação na vida, nenhum outro pensamento, exceto aquele, que ele era um espírito. Ele era um espírito imaterial, ilimitado, não ligado. E não somente isso, mas ele, com a sua visão maravilhosa, descobriu que cada homem e mulher, seja judeu ou gentio, seja rico ou pobre, seja santo ou pecador, era a encarnação do mesmo espírito imortal como ele próprio.

Portanto, o único trabalho que toda a sua vida mostrou foi o de chamá-los a realizar sua própria natureza espiritual.

Desistam, diz ele, desses sonhos supersticiosos de que vocês são baixos e que vocês são pobres. Não pense que vocês estão sendo espezinhados e tiranizados como se fossem escravos, pois dentro de vocês existe algo que nunca pode ser tiranizado, nunca ser espezinhado, nunca ser incomodado, nunca ser morto.

Vocês todos são filhos de Deus, espírito imortal.

"Saiba", ele declarou, "o Reino dos Céus está dentro de você." "Eu e o Pai somos um."

Você se atreveria a se levantar e dizer, não só que "Eu sou o Filho de Deus", mas também encontrar no fundo do meu coração que "Eu e o Pai somos um"?

Isso foi o que Jesus de Nazaré disse.

Ele nunca fala deste mundo e desta vida. Ele não tem nada a ver com isso, exceto que ele quer se apossar do mundo como ele é, dar-lhe um empurrão e conduzi-lo para a frente e adiante até que todo o mundo tenha atingido a luz resplandecente de Deus, até que todo mundo tenha realizado sua natureza espiritual, até que a morte tenha desaparecido e a miséria banida.

O Jesus Histórico

Nós lemos histórias diferentes que foram escritas sobre ele; conhecemos os estudiosos e os seus escritos, e a mais elevada crítica, e nós sabemos que tudo o que foi conseguido pelo estudo.

Nós não estamos aqui para discutir o quanto do Novo Testamento é verdade, nós não estamos aqui para discutir o quanto daquela vida é histórica. Não importa em absoluto se o Novo Testamento foi escrito dentro de 500 anos de seu nascimento, nem importa mesmo, quanto daquela vida é verdadeira.

Mas há algo por trás, algo que queremos imitar.

Para contar uma mentira, você tem que imitar uma verdade, e esta verdade é um fato. Você não pode imitar o que nunca existiu. Você não consegue imitar aquilo que você nunca percebeu. Mas deve ter havido um núcleo, um enorme poder que desceu, uma manifestação maravilhosa do poder espiritual - e é disso que estamos falando.

Isto está ali.

Portanto, não temos medo de todas as críticas dos estudiosos. Se eu, como um oriental, tenho que adorar a Jesus de Nazaré, só me resta uma maneira, isto é, adorá-lo como Deus e nada mais. Não temos o direito de adorá-lo dessa maneira, você quer dizer? Se nós O trazemos para o nosso próprio nível e simplesmente prestamos-Lhe um pouco de respeito como um grande homem, por que devemos adorar então?

Nossas escrituras dizem: "Estes grandes filhos da Luz, que manifestam a Luz eles mesmos, que se são Luz eles mesmos, eles, sendo adorados, tornam-se, por assim dizer, um conosco e nos tornamos um só com eles”.



domingo, 28 de julho de 2013

Cristo, o Mensageiro–Parte I

Texto de Swami Vivekananda.
Em 1900.

Swami-Vivekananda.jpg

A ONDA SE LEVANTA no oceano, e surge uma depressão. Novamente outra onda se levanta, talvez maior do que a anterior, para descer de novo, de forma semelhante, para de novo subir – e assim por diante.

Na marcha dos acontecimentos, observamos ascensão e queda, e nós geralmente olhamos para a ascensão, esquecendo-nos da queda. Mas ambos são necessários, e ambos são importantes.

Esta é a natureza do universo. Seja no mundo dos nossos pensamentos, no mundo das nossas relações sociais, ou em nossos assuntos espirituais, o mesmo movimento sucessivo, de subidas e descidas, está acontecendo.

Assim, os ideais liberais são dirigidos adiante, para afundar-se, para digerir, por assim dizer, para ruminar o passado - para ajustar, conservar e reunir forças mais uma vez para uma subida e uma subida maior.

Jesus e Sua Época

A história das nações também já foi assim.

A grande alma, o Mensageiro que estamos a estudar esta tarde, surgiu em um período da história de sua raça que bem podemos designar como uma grande queda.

Nós pegamos somente um pouco aqui e ali dos registros dispersos que foram mantidos de seus ditos e feitos; pois na verdade, foi bem dito, que os ditos e feitos daquela grande alma iriam encher o mundo se tivessem todos sido escritos.

E os três anos do seu ministério foram como uma era compactada, concentrada, que tem levado 1900 anos para se desenrolar, e quem sabe por quanto tempo ainda vai demorar!

Homenzinhos como você e eu somos simplesmente os recipientes de um pouco de energia. Alguns minutos, algumas horas, alguns anos na melhor das hipóteses, são suficientes para gastar tudo, para esticá-la, por assim dizer, em sua força máxima, e então nos vamos para sempre.

Jesus e Sua Raça

Mas perceba este gigante que surgiu; séculos e eras passam, mas a energia que ele deixou sobre o mundo ainda não está esticada, nem ainda gasta por completo. Ela continua adicionando um novo vigor à medida que as eras passam.

Agora, o que você vê na vida de Cristo é a vida de todo o passado. A vida de cada homem é, de certo modo, a vida do passado. Ela vem para ele através da hereditariedade, por meio de um ambiente, através da educação, através de sua própria reencarnação - o passado da raça. De certa forma, o passado da terra, o passado de todo o mundo está lá, em toda alma.

O que somos nós, no presente, se não uma consequência, um efeito, nas mãos daquele passado infinito?

O que somos nós, se não pequenas ondas flutuantes na eterna corrente dos acontecimentos, irresistivelmente movidos para frente e avante e incapazes de descanso?

Mas você e eu somos apenas pequenas coisas, bolhas.

Há sempre algumas ondas gigantes no mar dos acontecimentos, e em ti e em mim a vida da raça passada foi incorporada apenas um pouco; mas há gigantes que encarnam, por assim dizer, a quase totalidade do passado e que estendem suas mãos para o futuro.

Estes são os postos de sinalização que aqui e ali apontam a marcha da humanidade; estes são, na verdade, gigantescos, suas sombras cobrem a terra - eles permanecem imortais, eternos!

Alcançando o Inalcançável

Como já foi dito pelo mesmo Mensageiro, "Ninguém jamais viu a Deus, se não por meio do Filho".

E isso é verdade. E onde veremos a Deus, se não no Filho?

É verdade que você e eu, e os mais pobres de nós, o pior mesmo, encarna este Deus, e mesmo reflete este Deus. A vibração da luz está em toda parte, onipresente; mas temos que acender a luz da lâmpada, antes de podermos ver a luz.

O Deus Onipresente do universo não pode ser visto até que Ele seja refletido por essas lâmpadas gigantes da terra - os Profetas, os homens-Deuses, as Encarnações, as personificações de Deus.

Todos nós sabemos que Deus existe, e ainda assim não O vemos, nós não O entendemos. Pegue um desses grandes Mensageiros da Luz, compare seu caráter com o maior ideal de Deus que você já conseguiu formar, e você vai descobrir que o seu Deus está aquém do ideal, e que o caráter do Profeta excede suas concepções.

O Ideal Mais Elevado Personificado

Você não pode sequer formar um ideal mais elevado de Deus do que aquele que o encarnou realmente realizou na prática e colocou diante de nós como um exemplo.

É errado, portanto, adorá-los como Deus?

É um pecado cair aos pés desses homens-Deuses e adorá-los como os únicos seres divinos no mundo? Se eles estão realmente, na verdade, acima de todas as nossas concepções de Deus, que mal há em adorá-los?

Não só não existe nenhum dano, mas é a única forma possível e positiva de adoração. Por mais que você tente lutar, por abstração, por qualquer método que você goste, desde que você é um homem do mundo dos homens, o seu mundo é humano, a sua religião é humana, e seu Deus é humano.

E isto deve ser assim.

Quem não é prático o suficiente para assumir uma coisa que realmente existe e desistir de uma ideia que é apenas uma abstração, que ele não pode compreender, e é difícil de se aproximar exceto através de um meio concreto?

Portanto, essas Encarnações de Deus têm sido adoradas em todas as épocas e em todos os países.



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Relações de Amor e Ódio

Texto de Eckhart Tolle.

A NÃO SER QUE, e até que, você aceda à frequência consciente da presença, todos os relacionamentos, e particularmente os relacionamentos íntimos, serão profundamente imperfeitos e até mesmo disfuncionais.

Poderão parecer perfeitos durante algum tempo, como por exemplo quando você está “apaixonado”, mas invariavelmente essa perfeição aparente será destruída à medida que começarem a ocorrer, com repetida frequência, as discussões, os conflitos, a insatisfação e a violência emocional e até mesmo física.

Dir-se-ia que, na sua maioria e a curto prazo, os "relacionamentos de amor" se transformam em relacionamentos amor/ódio. O amor poderá então, num abrir e fechar de olhos, transformar-se em ataques selvagens, sentimentos de hostilidade e perda total do afeto.

Isto é considerado normal.

Então, durante algum tempo (alguns meses ou alguns anos), o relacionamento oscilará entre as polaridades "amor" e ódio, e dar-lhe-á tanto prazer como sofrimento.

Viciando no Ódio… e no Amor

Não é raro os casais tornarem-se viciados nestes ciclos. O drama fá-los sentirem-se vivos. Quando se perder o equilíbrio entre as polaridades positiva e negativa e os ciclos negativos e destrutivos ocorrerem com uma frequência e uma intensidade cada vez maiores, o que mais cedo ou mais tarde acabará por acontecer, então não demorará muito até o relacionamento chegar ao fim.

Você pode pensar que, se pelo menos conseguisse eliminar os ciclos negativos ou destrutivos, então tudo correria bem e o relacionamento poderia florescer muito bem – mas, infelizmente, tal não é possível. As polaridades são interdependentes.

Não pode haver uma sem a outra. A positiva já contém em si a negativa de forma latente. Ambas são de fato aspectos diferentes da mesma disfunção.

Existem Amores e Amores

Estou a falar aqui daquilo a que normalmente se chama relacionamentos românticos - e não do amor verdadeiro, o qual não possui oposto porque a sua origem transcende a mente.

O amor, como estado permanente, é ainda muito raro - tão raro como os seres humanos conscientes. No entanto, é possível obter vislumbres breves e fugidios sempre que se dá  um hiato no caudal da mente.

Amor Doente

É evidente que o lado negativo de um relacionamento é mais facilmente reconhecido como disfuncional do que o lado positivo. E é igualmente mais fácil reconhecer a fonte da negatividade no seu parceiro do que reconhecê-la em si próprio.

Pode revestir-se de muitas formas: sentimento de posse, ciúme, repressão, introversão e ressentimento não expresso, necessidade de ter razão, insensibilidade e egoísmo, exigência e manipulação emocionais, desejo incontrolável de discutir, criticar, julgar, acusar ou atacar, ira, vingança inconsciente por sofrimentos infligidos no passado por um dos seus pais, raiva e violência física.

No lado positivo, você está "apaixonado" pelo seu parceiro. Ao princípio, é um estado que lhe dá muitíssima satisfação. Você sente-se intensamente vivo.

É como se, de repente, a sua existência fizesse sentido porque alguém precisa de si, o faz sentir especial, e você retribui da mesma maneira. Quando estão juntos, você sente-se completo. O sentimento pode tornar-se tão intenso que o resto do mundo se torna insignificante.

Viciando no Outro

No entanto, você poderá já ter notado que, nessa intensidade, existe alguma coisa de necessidade e de apego. Fica viciado na outra pessoa.

Essa pessoa tem sobre si o efeito de uma droga.

Está bem quando a droga está ao seu alcance, mas a mera possibilidade ou mesmo a hipótese de que ela poderá deixar de estar à sua disposição poderá levá-lo ao ciúme, ao sentimento de posse, a tentativas de manipulação através de chantagem emocional, a culpar e a acusar o outro - ao medo da perda.

Se a outra pessoa o deixar, isso poderá dar origem à mais intensa hostilidade ou ao mais profundo sofrimento e desespero. Num instante, a ternura amorosa poderá transformar-se numa agressividade feroz ou num desgosto terrível.

Onde está agora o amor? Pode o amor transformar-se no seu oposto em tão pouco tempo? E, no fundo, era amor, ou apenas um vício de avidez e apego?



quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Liberação do Ser

Texto de SWAMI TILAK.

A CULTURA DE UM PAÍS é mais importante que nenhuma outra coisa no mundo.

Em Sânscrito, o idioma sagrado da índia, Cultura se chama "SANSKRITI”, está relacionada com Samskara, que em realidade é a impressão que se cria.

Toda pessoa durante sua vida recebe impressões criativas. Nasce como um animal, mas depois obtém impressões profundas que mudam sua vida.

Em verdade, o ser humano está entre a animalidade, por um lado e a divindade por outro. O ser humano, em sua vida, tem a grande oportunidade de escolher entre a animalidade e a divindade.

A Criação da Personalidade

Quando recebe novas impressões uma pessoa muda sua vida. Nesse momento, em verdade, a personalidade é criada.

É a criação do homem.

Em Sânscrito, as pessoas cultas chamam-se DVIJAS. A palavra DVIJA significa que uma pessoa nasce duas vezes. Esta palavra também se usa para os pássaros, já que estes nascem duas vezes: uma vez, no útero de sua mãe, na forma de ovo e depois, ao sair da casca.

O Ovo da Ignorância

Igualmente, uma pessoa nasce fisicamente do útero de sua mãe, com a casca da ignorância ao redor dela. O homem tem que sair desta cas­ca, o que não é fácil, pois nem todas as pessoas estão pre­paradas para receber a Sabedoria.

Sem dúvida, quem quer ter a Sabedoria em sua vida, deve desapegar-se de todas as coisas que causam escravidão. Infelizmente as pessoas não querem ter a Liberdade, a Liberação!

A Liberação não é dada por uma ou outra pessoa e nem está em um lugar ou outro. A Liberação é propriedade do Ser mesmo, e a pessoa mesma tem que realizar esta Liberação.

Lembro-me de um incidente.

Havia uma mulher muito bela que queria casar-se com um jovem, mas tinha muito orgulho; não queria se casar com alguém menos poderoso que ela. Pois ela tinha o poder de ver todas as coisas no mundo.

Ninguém podia ocultar-se dela em parte alguma.

Então, estabeleceu que ela se casaria com o jovem que pu­desse ocultar-se dela. Assim, todos os jovens tiveram proble­mas e trataram de se esconder no céu, na terra, no oceano, mas ela os podia ver.

Finalmente, um jovem que havia aceitado o desafio, escondeu-se debaixo da cama dela. Procurou-o por todas as partes, mas não imaginou que o jovem pudesse estar debaixo da sua cama. Desta maneira ele pôde vencê-la.

A Verdade Debaixo da Cama

Amigos meus, a Verdade, a Perfeição, a Liberação estão presentes debaixo de nosso leito.

Nós tratamos de buscar a liberação em todo o mundo. Buscamos a Verdade no Tem­plo, na Igreja, nos livros, em partes diferentes, tanto nos céus, como nos infernos, então ficamos sem muito tempo para buscar a Liberação em nós mesmos.

Eis então que a Espiritualidade se nos apresenta para convencer-nos e dizer que a Liberação está presente em você.

A Verdade é de sua propriedade porque o que é imperfeito, não pode fazer-­se perfeito nunca, e o que é perfeito não pode tornar-se imperfeito.

Nenhuma matemática há que possa converter o infinito em finito, e nem finito em infinito. O infinito sem­pre é infinito; e o finito é finito sempre.

Por isso o Senhor Krishna diz no Bhagavad Gita:

O que não existe, não poderá existir nunca e o que existe não pode deixar de existir; não pode destruir-se.

Agora têm que decidir: exis­timos ou não existimos?

Ora, se existimos agora, aqui, existimos sempre. Nenhuma coisa há que possa mudar a natureza da existência.

As Coisas Mudam

Neste momento também temos que definir a existência. Talvez confundamos existência com percepção.

A percepção é somente momentânea, porque todas as percepções estão relacionadas com a mutabilidade, já que todas as formas mudam. Não podemos ver qualquer coisa que tenha forma e não mude. Todas as coisas mudam, mas detrás de todas as coisas há algo que não muda.

Por exemplo, quando vamos ao cinema, no filme vemos um ator que aparece numa forma peculiar e o vemos nessa forma, representando um papel. Vemos ao outro nessa forma, mas não o vemos em sua forma real.

No dia seguinte, voltamos ao cinema para ver o mesmo ator mas em outro papel. Podemos ir ao cinema a vida inteira mas não poderemos ver o ator em sua forma verda­deira, no cinema. Daí tirarmos a conclusão que o ator se apresenta sempre, mas nunca em sua forma real.

Igualmente todo o Universo é uma sala de espetáculo.

O grande ator do Universo é o Ser Universal, o Ser Eterno, Deus, Brahman. Muitos nomes podemos dar-Lhe, mas eu não tenho interesse no nome. O nome também é transitó­rio, embora os nomes tenham seu significado.

Por exemplo, Brahman; que é Brahman? Em realidade não é o que pode­mos conhecer pelo nome. O Brahman é o que pode existir em todas as formas, sem afetar-se por nenhuma forma. Isso é Brahman. Que é o Atman? O Atman é a Verdade que está presente em todo o Universo.

Deus Cria, Mantém e Destrói

A palavra GOD em inglês, também tem sua explicação especial. GOD tem três letras G, O e D. G significa Gerador, O significa Ordenador e D significa Destruidor.

Então Deus é quem cria, o que conserva e o que destrói, simultanea­mente.

A ideia muito peculiar que nós temos é que num determinado momento uma coisa se cria, em outro momen­to conserva-se e em outro momento se destrói mas não é certo.

Simultaneamente os três processos estão presentes em qualquer fenômeno. Simultaneamente! Nenhuma construção há sem destruição.

Simplesmente nossa inteligência limitada trata de enganar-nos.

Por exemplo, quando se cons­trói um edifício, dizemos:

- Ó, mais se constrói um edifício.

Muito bem! Mas nenhum edifício pode construir-se sem a destruição de rochas. Que são em verdade as pedras que se usam na construção de um edifício? As pedras são a des­truição da rocha.

Uma pessoa diz:

- Agora sou muito jovem.

Muito bem! Mas nenhuma juventude é possível sem a des­truição da infância. Assim acontecem simultaneamente a construção e a destruição contínuas e, entre a construção e a destruição permanece a corrente interminável da Exis­tência.

Existência Contínua

Esta corrente da Existência evidentemente contínua chama-se continuidade. Nenhuma continuidade é possível sem a corrente da existência interminável.

A existência não é afetada pela criação ou pela destruição. A construção e a destruição, simplesmente são dois termos visíveis da verda­de invisível. Quem possa compreender esta verdade, nenhum tipo de escravidão tem.

A Escravidão dos Milagres

Tem-se fé nos milagres, mas eu sempre digo: amigos meus, o milagre é outro tipo de escravidão. Um dia disseram-me:

- Os Swamis meramente falam sobre filosofia, mas não realizam milagre algum.

Em meu coração eu disse:

- Que tipo de compreensão é essa? O milagre é simplesmente uma mudança, nada mais.

Supondo que haja aqui um copo e que eu tenha grande poder em mudar esse copo em ouro, as pessoas logo creriam e diriam:

- Swami tem um grande poder!

Mas nesse momento não pensariam que o ouro e o vidro, ambos são destrutíveis. Quem tem paixão pelo ouro, ou pelo vidro, ambos são escravos. A escravidão do ouro e a escravidão do vidro, ambos são iguais. Uma pessoa que está numa prisão de ouro, também é um prisioneiro.

Liberdade

A Espiritualidade diz que temos que eliminar todos os tipos de escravidão.

Quem não pode ter essa forma, essa força, esse valor, não poderá empreender esse caminho, o da Espiritualidade.

O caminho da espiritualidade não é sim­plesmente outro tipo de dependência. As pessoas sempre buscam um tipo ou outro de dependência. Sempre a de­pendência!

De Swami Tilak, também é uma dependência? Também é uma dependência!

Em verdade, os Profetas, os Filhos de Deus, os Avatares, todos vêm para dar a mensa­gem da Liberdade e Eles dizem:

"A Liberdade está em nós".

Quando Cristo diz:

"Eu estou em meu Pai e Meu Pai está em mim.
Eu estou em vós e vós, em mim"

Significa que Cristo não quer fazer-nos seus escravos. Quem não tem liberdade em sua vida, trata de fazer os outros seus escravos! Isso não é Espiritualidade!

A Religião Escraviza?

Eu sei que agora há muita confusão. Os jovens dizem:

- Nós não acreditamos em Religião, em Espiritualidade.

Eu pergunto aos estudantes:

- Por que não?

- Swami, a religião nos faz escravos.

- Não, amigos meus, não é certo. A Religião, a Espiritualidade, o Yoga, não fazem nin­guém escravo.

Na Austrália demos uma palestra e depois da palestra um jovem disse:

- Swami, sua palestra é muito boa, mas há um defeito nela.

Eu disse:

- Amigo meu, você deve dizê-lo.

- O senhor, Swami, fala sobre Deus.

Então per­guntei:

- Que falta há em Deus?

- Swami, Deus nos ex­plora.

- Amigo meu, Deus não explora, as pessoas explo­ram em nome de Deus; são pessoas as que exploram.. Então por culpa dos outros, você não deve condenar Deus. Deus não faz nada, então Deus não é culpável.

A Unidade

As pessoas culpáveis podem fazer as coisas más em nome de Deus, e também podem fazer as coisas más em nome da humanidade!

As pessoas fazem muitas coisas más.

Você não pode dizer "eu não sou homem" só porque homens fazem coisas más em nome do homem. Em lugar de elimi­nar Deus, devemos resistir a esses ataques e defendê-Lo apro­priadamente, devemos seguir a Deus apropriadamente.

Deus está em nós, nós somos Um com Deus e devemos realizar a Deus. Quem realiza Deus, realiza em verdade sua Exis­tência! Sua existência não é diferente de Deus e Deus não é diferente do Homem!

Quando nós estamos em nossos sonhos, temos a ideia que somos diferentes do sonhador que cria todo o sonho... Logo que nos despertamos, não fica diferença alguma entre o sonhador e eu. Eu sou o sonhador.

Igualmente, Deus está além do Tempo e do Espaço. O que existe no Tempo e no Espaço, pode dividir-se, mas o que existe além do Tempo e do Espaço, nunca pode dividir-se. Então não podemos di­zer que não somos parte de Deus! Nenhuma diferença há entre Mim e Ele! Quando nenhuma diferença fica entre Mim e Ele, na minha Consciência, então se dá a Libera­ção!

A Dualidade

Quando nós sentimos a diferença entre Nós, então há dualidade! A dualidade é a fonte da Escravidão! Mas logo que se dissolva a dualidade, nenhuma causa de escra­vidão fica. A Liberação é a Unidade de tudo! Tudo o mais está em. Tudo. Tudo existe sempre!

Vocês conhecem o importante episódio da Bíblia, de Adão e Eva, Deus criou Adão e depois criou a Eva. Eva, em realidade, era uma parte de Adão! No Paraíso haviam duas árvores: a árvore da Vida e a árvore da Sabedoria. Esta árvore tinha o fruto do mal e o fruto do bem.

Amigos meus, o Paraíso está aqui, neste momento também. O desejo produz o fruto do mal e o fruto do bem. Ninguém pode ter um desejo sem ter a ideia do mal e do bem. Então Deus diz: "O Homem não deve comer do fruto do desejo". Não aceitando o conselho do Senhor o homem quer esconder-se sob a roupagem de seu Ego. O Ego cria a diferença entre o homem e Deus.

A água no lago e no copo é a mesma; mas quando pomos água no copo, a água nos parece ter a forma do copo. Então a forma do copo é a roupagem da água.

Assim, em nós todos, criamos as paredes e roupagem do ego.

O ego é responsável por criar a separação entre Deus e o homem. O ego cria o sentido do Tempo e do Espaço. O ego cria o sentido do nascimento e da morte.

Todos os sentidos que limitam, resultam do ego, como toda limitação da ma­téria está presente no átomo! O átomo, interiormente, é energia infinita, mas sua estrutura exterior o separa da fonte da energia. Assim, as limitações do ego nas separa­ções de Deus!

O ar do ego é muito forte. Quem puder fincar a bor­bulha de seu ego, o ar de seu apego se vai imediatamente, então não fica mais nada, exceto a água de Deus. Agora, tem-se a Liberação! A Liberação do Ego é a Liberação real!

O Ego é um Espelho

Nosso dever consiste em realizar que, os 'objetos' dos sentidos são simples 'percepções dos sentidos'. Em verdade não 'vemos' diretamente os objetos; apenas sentimos a per­cepção sensória dos sentidos. Nenhum sentido pode sentir nada sem o poder da mente. Então em todos os sentidos está presente a mente. Todos os sentidos são o jogo da men­te! Mas a mente age com o poder do intelecto e o inte­lecto não pode fazer nada sem o Ser! Assim é que o Ser está em tudo, é tudo! Tudo está no Ser!

Quando em Barranquilla, Colômbia, eu disse isso, um Reverendo Padre perguntou-me:

- Swami, e depois de dis­solver o ego, o que é que fica?

Eu respondi:

- Bem, agora quem está a perguntar?

Porque todas as perguntas são re­sultados do ego. Por exemplo, eu vejo meu reflexo no espe­lho e todas as pessoas, incluindo vocês, podem ver seu re­flexo no espelho. Mas quando esse espelho se quebra, quem pode ver seu reflexo? Todos os reflexos do mundo estão pre­sentes no espelho do ego!

Quando o espelho do ego se quebra, nada resta, exceto a base do ego. A base do ego sempre é a mesma em todos: Deus, o Ser Supremo. Quem realiza esta verdade é livre. Tem Liberdade!

O Cocô e a Dualidade

Há três etapas na Realização.

A princípio uma pessoa deve escutar as palavras dos seres Realizados e não apenas ler os livros. Algumas vezes, quando falo com jovens, eles me dizem:

- Swami, nós temos muitos livros e lemos...

Ler é uma coisa muito diferente de Realização, porque as palavras não podem manifestar sua Realidade enquanto nossa mente não esteja limpa.

Não é pelo fato de ler que se pode dar a Realização. Eu sei que tipo de 'realização' têm as pessoas!

A propósito, havia um rei que encontrou um grande Mestre. O Mestre disse ao rei:

- Tudo é o mesmo; tudo é você, TAT TVAM ASI. Tu és a Verdade.

Então o rei, interpretando a seu modo essas palavras, acreditou que já tinha a Realização perfeita em sua vida. Depois de alguns dias, a rainha, esposa do rei, disse-lhe:

- Querido, nossa filha tem que se casar. Já é maior de idade.

O rei, segundo sua compreensão de filosofia, replicou:

- No mundo nada existe a não ser eu, logo nenhuma diferença há entre o esposo da princesa e eu; assim ela pode viver comigo.

Então a rainha teve grande temor, já que toda a tradição estava prestes a destruir-se. Foi ter com o Mestre dizendo-lhe:

- Mestre, seus ensinamentos são muito perigosos.

- Que está acontecendo?

- Toda a tradição pode destruir-­se pelos seus ensinamentos. A mente de meu esposo está completamente transtornada.

Depois de escutar todo o relato, o Mestre disse-lhe:

- Não se preocupe, por favor. Amanhã farei uma visita ao palácio e comerei com o rei. Você deverá pôr nos pratos, um pouco de excremento.

- Meu esposo pode matar-me.

O Mestre disse:

- Não deve preocupar-se. A vida é para manter a virtude.

No dia seguinte, quando o Mestre estava no pa­lácio e já estavam todos à mesa, chegaram os pratos e neles havia um pouco de excremento. Logo que o rei viu o excre­mento, zangou-se terrivelmente e queria matar a rainha.

Mas o Mestre segurou o braço do rei e disse:

- Que tipo de sabe­doria tens tu? Ontem nenhuma diferença fazias entre tua filha e teu futuro esposo, e agora estabeleces diferença entre a comida e o excremento? Se tudo és tu e nada existe exceto tu, o excremento tampouco existe.

Isso é a grande confu­são, amigos meus! Aquele que diferencia entre comida e excremento, tem que diferenciar tudo em toda parte!

Ver as Diferenças

Em Los Angeles, onde dei uma conferência no Instituto de Yoga, eu disse:

- Amigos meus, mediante o Yoga vocês devem diferenciar o bem do mal.

Os estudantes disseram:

- Swami, nós somos yogues, não diferenciamos.

Então eu disse:

- Amigos meus, vocês diferenciam sim, eu sei. Apenas falam, mas sua consciência ainda aceita as diferenças.

O Senhor Krishna diz no Bhagavad Gita, como o Sábio deve comportar-se no mundo. Não deve perturbar a tradição.

Agora, neste momento, estamos na "Casa da Cultura".

Quero dizer com muita franqueza que em nome da Espi­ritualidade, nenhuma pessoa deve perturbar a cultura. A cultura é necessária para manter a tradição.

Então, na Consciência, a realização da Unidade, da Verdade e, no mun­do, a observação da Tradição! Ambas são necessárias.

O Se­nhor Buddha, Cristo, Krishna, Rama, todos eram grandes Yogues, mas simultaneamente trataram de estabelecer a tradição.

Assim, Cristo diz:

Eu vim para cumprir a Lei.

Cristo não disse "estou aqui para destruir ou para contra­dizer aos Profetas".

O Senhor Krishna também diz o mes­mo:

Quando se perturba a virtude e sobrevém o mal,
eu nasço como Homem e trato de destruir todo o mal
e de restabelecer a virtude.

Em realidade, toda virtude é a ma­nifestação da Divindade no mundo e tanto em Deus como na pessoa que está livre, nenhum mal existe nem tampouco bem algum.

Tudo Está em Todos

Tudo é Uno.

Assim, o amor está em todos. Mas quando o Senhor Krishna diz que um Sábio nenhuma dife­rença faz entre um cão, um Sábio, uma prostituta e uma vaca, nenhuma pessoa deve interpretar que Krishna não vê diferença entre uma esposa e uma prostituta!

Ele simples­mente quer dizer que o Yogue não odeia a quem quer que seja.

Quando um cão está na frente dele, lhe dá comida, quando a vaca está presente, lhe dá comida. Mas sem dúvi­da que o Yogue não dá a comida do cão à vaca! Ambos necessitam de comida e o Yogue está interessado na questão da comida de ambos, mas aceita a natureza de cada um.

Amar e Seguir

Há diferença entre um ladrão e um santo. O Sábio não diferencia entre o Santo e o ladrão; ama a ambos, mas respeita ao Santo e não pode respeitar a atitude do ladrão. Segue ao Santo, mas não pode seguir ao ladrão. Há uma diferença entre amar e 'seguir'.

Quando as Escrituras di­zem que um Santo e Sábio deve amar a todos, não dizem que se deve seguir a todos. Seguir é uma coisa, amar é outra. Então o Homem de Realização também tem que agir segundo as Leis Divinas.

As pessoas também creem que os Santos e os Sábios não agem, que sentam em suas covas, ou que sempre estão a sós com seus pensamentos.

Mas não é certo.

Os Santos também veem e se apresentam como nós. Cristo não tinha dez cabeças, não é? O Senhor Buddha não tinha vinte pés.

Todos os Seres Realizados viviam como pessoas comuns. Mas há uma grande diferença entre o mundo interior de uma pessoa comum e o mundo interior dos Sábios e Santos.

Qual é a definição de um Homem de equilíbrio? É que este no momento da miséria, nenhuma tristeza sente e em presença dos prazeres, também nenhuma alegria sente. Os prazeres vêm, e assim como vêm, se vão; a miséria também vem e se vai.

Ele nenhum apego tem, nem medo algum. Essa pessoa não se preocupa com nada, mesmo que se ocupe. Atua com 'motivo' definido, mas não se preocupa pelo resultado, ou pelo fruto. Não elogia nem critica as pessoas sem necessi­dade.

Elogio e Sinceridade

As pessoas têm a tendência de agradecerem-se mutua­mente em nome da 'etiqueta', não é? Admiramos outras pes­soas somente para receber sua admiração. Isso é orgulho, é vaidade. É artificialidade. No campo da Espiritualidade, o artifício de nada pode servir! Toda a formalidade, todo arti­fício devem ser eliminados.

Isso é certo.

As palavras que carecem de sinceridade enganam a outras pessoas e, final­mente tratam de enganar a nós mesmos também. Não se deve odiar nem se deve elogiar aos outros, sem necessidade.

Muitas vezes as pessoas dizem:

- Swami é muito duro, e diz palavras muito duras.

Mas o Swami, a ninguém trata de enganar. Um Swami tem que dizer em realidade, o que você é. A verdade sempre é amarga, e o falso é muito doce; mas o falso, depois nos cria muitos problemas. Por isso, deve-se habituar-se à Verdade.

Exagerando no Desejo

Por outro lado, quando se pensa nos objetos dos senti­dos, a pessoa começa a sentir apego para com esses objetos. Este apego cria o desejo e, quando o desejo não se cumpre, cria-se cólera.

A cólera termina na ilusão e a ilusão na confusão; a confusão acaba na perda do discernimento. Desta maneira o homem é completamente destruído.

Então uma pessoa deve controlar seus sentidos por meio da mente; deve controlar a mente pelo intelecto e deve dirigir o inte­lecto por meio da Sabedoria do próprio Ser. Então, a pes­soa é um oceano pleno e plácido. Os rios vêm trazendo muita água, mas o oceano nunca se perturba. Assim, uma pessoa de equilíbrio recebe todas as coisas desejáveis, mas não se perturba nunca. Essa pessoa tem a tranquilidade eterna.

As pessoas que têm desejos, nunca podem obter a paz.

A liberação da perturbação, a liberação da intranquilidade e da preocupação, é a liberação perfeita. A liberação da intranquilidade não é possível enquanto uma pessoa não conheça sua existência eterna! A Existência Eterna, o Ser, é a fonte de toda a liberação.

"O Ser está embaixo,
Está em cima,
Está em frente,
Está detrás.
Está à esquerda,
Está à direita".

Em todas partes está o Ser. Nós sempre devemos gozar nossa existência.

Independência em Pensar

Por tudo o que foi dito, a princípio, temos de Escutar, depois, contemplar e finalmente vem a meditação. Devemos escutar as palavras dos Sábios, devemos pensar nelas, deve­mos assimilá-las, devemos digerir essas palavras. Não deve­mos repetir simplesmente que o Swami Tilak diz, a Bíblia diz, ou o Bhagavad Gita diz.

O que Cristo e Krishna dizem estava com Cristo e com Krishna, mas o que você diz está em e com você, é para você, é a causa da liberação de você! Ou seja, enquanto eu não estiver de posse da visão direta da Verdade, de fato não tem muita impor­tância para mim ou para você as importantes palavras que digam outros, por mais divinos que sejam!

A comida ou alimento que comeu Cristo, não pode tirar minha fome. A comida que comeu Krishna tampouco pode tirar minha fome. Cada pessoa necessita de sua comida; assim também, cada pessoa necessita de sua Sabedoria, de sua própria Liberação.

Por isso uma pessoa deve contemplar apropriadamente. Depois de contemplar, então pode meditar. A Meditação significa focalizar a mente totalmente nesta Verdade: nada existe, exceto o Ser, e exceto Deus. Quem puder focar sua mente, sempre, nesta Verdade, nunca pode perturbar-se.

Om Shanti, Shanti, Shanti

Om PAZ, PAZ, PAZ



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cristo e o Conhecimento

Texto de SWAMI PRABHAVANANDA
no livro “O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta”

ANTES DE CHEGADA A hora de pronunciar o Sermão da Montanha, Jesus pregou por toda a Galiléia.

As novas revelavam um mestre extraordinário, e multidões afluíam para vê-lo — como haviam feito há milhares de anos no Oriente, e ainda o fazem, à aproximação de um homem-Deus.

Jesus ensinava as multidões de acordo com a capacidade delas; mas o Sermão que contém seus ensinamentos mais elevados reservou-o ele para os seus discípulos, para aqueles que estavam espiritualmente preparados.

Levou-os à encosta de uma colina, onde não seriam interrompidos pelos que não estivessem preocupados com sua verdade suprema.

O Conhecimento Popular e o Seleto

Todo mestre espiritual, seja uma encarnação divina ou uma alma iluminada, tem dois conjuntos de ensinamentos — um para a multidão, outro para os discípulos.

O mestre espiritual prepara o caminho de sua mensagem com lições genéricas.

A verdade profunda da religião ele a revela apenas aos discípulos íntimos.

Porque a religião é algo que pode de fato ser transmitido. Um mestre verdadeiramente iluminado pode transmitir-nos o poder que revela a consciência divina, latente em nós. Mas é preciso que o campo seja fértil e o solo esteja pronto antes que a semente possa ser semeada.

Quando multidões vinham aos domingos visitar Sri Ramakrishna, o místico da Índia moderna mais amplamente reverenciado, ele lhes falava de um modo vago, que lhes fazia benefício.

O Conhecimento para Poucos

Mas quando os discípulos íntimos se reuniam à sua volta — conforme me contou um deles — ele procurava certificar-se de que ninguém mais o ouvia, enquanto lhes ministrava as verdades sagradas da religião.

Não que as verdades em si sejam secretas — elas estão registradas e qualquer um pode lê-las. O que, porém, ele dava àqueles discípulos era mais do que ensinamentos verbais; de um jeito divino, ele lhes despertava a consciência.

Cristo ensinava desse mesmo modo.

Poucos se Interessam pelo Conhecimento

Ele não pronunciou o Sermão da Montanha para as multidões, e sim para os discípulos, cujos corações estavam prontos para recebê-lo.

As multidões ainda não estão aptas para entender a verdade de Deus. De fato, nem a desejam.

Meu mestre, Swami Brahmananda, costumava dizer:

- Quantos estão prontos? Sim, muita gente vem até nós. Temos o tesouro a dar-lhes. Mas eles querem apenas batatas, cebolas e berinjelas.

Qualquer um de nós que deseje sinceramente o tesouro, que busque a verdade, pode beneficiar-se da mensagem dada no Sermão da Montanha e pode tornar-se um discípulo.

Cristo fala das condições que temos de possuir para sermos discípulos e para as quais precisamos preparar-nos. Ele ensina os caminhos e os meios para atingirmos a purificação de nossos corações, de modo que a verdade de Deus possa revelar-se por inteiro dentro de nós.



quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Valor de Gente Ruim

Texto de CARLOS CASTANEDA
no livro “O Fogo Interior”

UM PEQUENO TIRANO é um atormentador .

Alguém que ou mantém poder de vida e morte sobre guerreiros ou simplesmente os perturba, levando-os à distração.

Disse que havia duas subclasses de pequenos tiranos inferiores.

A primeira subclasse reunia os pequenos tiranos que perseguem e infligem miséria, mas sem chegar a causar a morte de ninguém. Esses foram chamados de pequenos tiraninhos.

A segunda consistia dos pequenos tiranos que são apenas desesperantes e aborrecidos ao extremo. Estes foram chamados de minúsculos tiraninhos.

Acrescentou que os pequenos tiraninhos são ainda divididos em quatro categorias. Uma que atormenta com brutalidade e violência. Outra que o faz criando uma ansiedade intolerável através da desonestidade.

Outra que oprime com a tristeza.

E a última, que atormenta fazendo os guerreiros se enraivecerem.

O pequeno tirano é o elemento externo, aquele que não podemos controlar, o que é talvez o mais importante de todos eles.

Meu benfeitor costumava dizer que o guerreiro que tropeça num pequeno tirano é um guerreiro afortunado.

Se Preparando Para o Ocultismo

Compreendendo a natureza do homem, os guerreiros foram capazes de chegar à incontestável conclusão de que, se os guerreiros conseguem manter-se inteiros ao defrontar-se com pequenos tiranos, podem certamente encarar o desconhecido com impunidade, e então podem suportar até mesmo a presença do incognoscível.

A reação do homem médio é pensar que a ordem dessa afirmação deveria ser invertida, que o guerreiro que pode permanecer inteiro em face do desconhecido pode certamente encarar pequenos tiranos.

Mas não é assim.

O que destruiu guerreiros soberbos dos tempos antigos foi essa presunção.

Agora, já sabemos. Sabemos que nada pode temperar tanto o espírito de um guerreiro quanto o desafio de lidar com pessoas intoleráveis em posições de poder.

Apenas sob essas condições podem os guerreiros adquirir sobriedade e serenidade para suportar a pressão do que não pode ser conhecido.

Em oposição pode-se dizer  que inúmeros estudos tem sido realizados sobre os efeitos da tortura física e psicológica em tais vitimas, mas a diferença está em que elas são vítimas, não guerreiros.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

A Devoção

Texto de SWAMI TILAK.

Depender de qualquer pessoa é dependência.
Na Espiritualidade,
uma pessoa tem que conseguir
a indepen­dência, a liberdade.

Em nenhum momento ou circunstância
devem sacrificar 
a liberdade mental, espiritual!

*

O HOMEM TEM OS PODERES da ação, emoção e da sabedo­ria.

Cada pessoa usa estes poderes em um momento ou outro.

Dificilmente pode-se deixar toda emoção de lado; parece que na vida necessita-se de emoção. Muito pouca gen­te no mundo pode compreender a Verdade sem emoção. En­tão necessitamos de um caminho em que se possa assimilar as emoções com sabedoria.

Este caminho é a Devoção.



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...